São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2007

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Crítica

"Inland Empire" usa tramas paralelas para brincar com o universo do sonho

CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK

Antes da exibição de "Inland Empire", dois pequenos clipes preparam o espectador para as três horas que virão. No primeiro, Lynch responde a perguntas da platéia em uma pré-estréia. "Responde" é modo de dizer: fala o que bem entende, às vezes sem muito sentido, exceto o de provocar risos.
No segundo, o ator Justin Theroux tira um papel amassado do bolso e lê um poema. "Somos como um sonhador que sonha e então vive no sonho", diz um dos versos. Theroux sorri, um pouco cínico, e sai.
Rodado em suporte digital com verba francesa e ainda sem previsão de estréia no Brasil, "Inland Empire" é uma radicalização dessa idéia, fazendo "Cidade dos Sonhos" parecer, em comparação, terrivelmente simplório. No princípio, uma atriz (Laura Dern), um ator (Theroux) e um diretor (Jeremy Irons) trabalham na refilmagem de um longa inacabado, anos antes, devido a um crime.
Desenha-se, então, o filme-dentro-do-filme, em torno de um romance. Outras janelas, no entanto, vão abrindo. Uma das tramas paralelas, ambientada na Polônia em meados do século 20, traz uma mulher, supostamente prostituta, em fuga. Por sua vez, a atriz do início tem problemas com o marido.
Sua casa (ou seria a de sua personagem, ou um delírio?) é ocupada por prostitutas. Coelhos gigantes (vindos de "Rabbits", extravagância de 50 minutos que Lynch dirigiu em 2002) interagem em uma sala. Com o tempo, os universos paralelos se conectam, em registro mais onírico e sombrio.
Lynch diz, no livro "Catching the Big Fish", que começou a filmar "Inland Empire" sem roteiro. No fim, seu aspecto lúdico é celebrado por uma inebriante seqüência musical que inclui aparições-surpresa e festeja com a devida pompa a atuação exuberante de Laura Dern. (SR)


INLAND EMPIRE     

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