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Crítica
"Inland Empire" usa tramas paralelas para brincar com o universo do sonho
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK
Antes da exibição de
"Inland Empire", dois
pequenos clipes preparam o espectador para as três
horas que virão. No primeiro,
Lynch responde a perguntas da
platéia em uma pré-estréia.
"Responde" é modo de dizer:
fala o que bem entende, às vezes sem muito sentido, exceto o
de provocar risos.
No segundo, o ator Justin
Theroux tira um papel amassado do bolso e lê um poema. "Somos como um sonhador que sonha e então vive no sonho",
diz um dos versos. Theroux
sorri, um pouco cínico, e sai.
Rodado em suporte digital
com verba francesa e ainda sem
previsão de estréia no Brasil,
"Inland Empire" é uma radicalização dessa idéia, fazendo
"Cidade dos Sonhos" parecer,
em comparação, terrivelmente
simplório. No princípio, uma
atriz (Laura Dern), um ator
(Theroux) e um diretor (Jeremy Irons) trabalham na refilmagem de um longa inacabado, anos antes, devido a um crime.
Desenha-se, então, o filme-dentro-do-filme, em torno de
um romance. Outras janelas,
no entanto, vão abrindo. Uma
das tramas paralelas, ambientada na Polônia em meados do
século 20, traz uma mulher, supostamente prostituta, em fuga. Por sua vez, a atriz do início
tem problemas com o marido.
Sua casa (ou seria a de sua
personagem, ou um delírio?) é
ocupada por prostitutas. Coelhos gigantes (vindos de "Rabbits", extravagância de 50 minutos que Lynch dirigiu em
2002) interagem em uma sala.
Com o tempo, os universos paralelos se conectam, em registro mais onírico e sombrio.
Lynch diz, no livro "Catching
the Big Fish", que começou a
filmar "Inland Empire" sem roteiro. No fim, seu aspecto lúdico é celebrado por uma inebriante seqüência musical que
inclui aparições-surpresa e festeja com a devida pompa a
atuação exuberante de Laura
Dern.
(SR)
INLAND EMPIRE
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