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Oscar terá documentários politizados
Lista de pré-indicados é dominada por filmes que abordam temas controversos, como a Guerra do Iraque
CHARLES LYONS
DO "NEW YORK TIMES"
"Eu não viajei para lá a fim de
provar que estou certa", disse a
documentarista Laura Poitras
sobre sua visita ao Iraque, onde
rodou "My Country, My
Country" [meu país, meu país],
um dos quatro documentários
sobre a guerra que disputam indicação ao Oscar deste ano.
"Eu considerava importante
compreender essa guerra e documentá-la, e não acreditava
que a mídia fosse fazê-lo".
Poitras, 42, filmou com sua
própria câmera e registrou o
som do documentário sozinha,
enquanto acompanhava o trabalho de um médico iraquiano
durante oito meses. Sunita e
crítico ardoroso da ocupação
norte-americana, o médico era
candidato a um assento nas
eleições para o Conselho da
Província de Bagdá, no pleito
nacional de janeiro de 2005,
mas saiu derrotado.
"My Country, My Country"
talvez não seja premiado com o
Oscar de melhor documentário, ou nem mesmo consiga lugar entre os cinco indicados,
que serão anunciados no próximo dia 23 (a cerimônia ocorre
em 25/2.) Mas sua presença entre os finalistas na concorrida
lista de documentários -que
inclui 14 outros filmes- enfatiza a tendência de premiar produções menos sofisticadas, cinema em estilo de guerrilha, e a
disposição de encarar assuntos
controversos, não importa
quais sejam os obstáculos.
Os documentários que têm
por foco questões políticas dominam a lista de 15 finalistas
(em uma primeira etapa, 81 filmes atenderam aos critérios de
elegibilidade). "Este é o ano do
documentário zangado, do documentário cujo objetivo é reconquistar o país", disse Sheila
Nevins, presidente da HBO Documentary Films. Os documentários exibidos nas salas de
cinema, acrescentou, "substituíram os documentários de televisão, em seu uso como ferramenta de resposta às alegações
do governo. Eles se tornaram
um dos únicos meios pelos
quais se pode fazê-lo".
Mas um pioneiro do gênero,
Albert Maysles, não parece entusiástico quanto à tendência.
"Eu defendo a teoria de que o
realizador precisa se distanciar
de um ponto de vista", afirmou.
Falando sobre "Fahrenheit
11 de Setembro", de Michael
Moore, diz: "Ele prejudica sua
causa porque o método que usa
é emboscar pessoas, com o objetivo de provar seu argumento. Se aquilo em que você acredita é certo, por que temer contar a história por inteiro?".
Stanley Nelson, diretor de
"Jonestown: The Life and
Death of Peoples Temple", que
narra a história de Jim Jones, o
líder de um suicídio em massa
no qual mais de 900 pessoas
morreram, na Guiana, em 1978,
diz que "era essencial não mostrar aquele homem como apenas maligno. Porque conseguimos manter certa dose de objetividade, nosso trabalho se tornou revolucionário".
O comentário de Nelson reflete um clima no qual a busca
de objetividade nos documentários deixou de ser a norma,
como ocorria nos anos 50 e 60.
Na época, cineastas norte-americanos defendiam o "cinema
direto", no qual a câmara ocupava uma posição de observador passivo, ou invisível, capturando imagens mas sem comentar sobre elas.
Alguns dos documentários
pré-indicados ao Oscar adotam
essa abordagem em escala mais
pronunciada, para tratar de temas como aquecimento global,
religião e campanha política.
Além do filme de Poitras, três
outros dos documentários tratam do Iraque. "Iraq in Fragments", de James Longley;
"War Tapes", de Deborah
Scranton; e "Ground Truth", de
Patricia Foulkrod.
Barbara Kopple, que já ganhou dois Oscar na categoria
documentário, disse que mais
pessoas assistem a documentários hoje porque desejam ver
histórias apaixonadas sobre
personagens inesquecíveis. "As
audiências são inteligentes o
bastante para decidir sem ajuda se concordam com os argumentos que vêem na tela."
Davis Guggenheim, que dirigiu "Uma Verdade Inconveniente", relembra a transformação por que passou após assistir a uma palestra de Al Gore
sobre as alterações climáticas,
tema de seu documentário.
"Quando faço um filme, não tenho em mente o ativismo, mas
sim uma experiência. Antes de
assistir à apresentação de Al, eu
não era ambientalista. Mas vê-la abalou minhas convicções."
Tradução de Paulo Migliacci
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