São Paulo, sexta, 8 de janeiro de 1999

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ERUDITO
Berlim antecipa cinquentenário de Strauss

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha, de Berlim

A data exata é 8 de setembro, mas Berlim não aguentou esperar. As casas de ópera e orquestras sinfônicas da nova capital alemã já estão celebrando os 50 anos de morte de Richard Strauss.
No Brasil, a fama de Strauss é precedida pela de sua música. Mesmo quem nunca ouviu falar no compositor é capaz de reconhecer o tema popularizado pelo filme "2001, Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick -ou seja, a abertura do poema sinfônico "Assim Falava Zaratustra", baseado em Nietzsche.
(Não é ocioso salientar a inexistência de parentesco entre esse e os outros dois Strauss da música -Johann pai e filho, que popularizaram as valsas vienenses.)
Em Berlim, o "Ano Strauss" é mais um capítulo na guerra das três casas de ópera da cidade por público, prestígio e dinheiro.
Afinal, na Alemanha, cultura é considerada um assunto sério demais para ser deixado nas mãos da iniciativa privada.
O historiador Lothar Kettenacker calcula que 80% do orçamento dos teatros alemães provenha de subsídios -por temporada, os governos dos municípios e "Länder" (Estados) destinariam o equivalente a R$ 2 bilhões aos 587 teatros públicos e 176 privados do país, com as entradas sendo subsidiadas, em média, em até 100 reais.
A Staatsoper é hoje o teatro de ópera cujos ingressos os berlinenses disputam a tapa. Fundada no século 18, a casa fica na charmosa avenida Unter den Linden, no antigo lado comunista da cidade.
Hoje ela consegue reunir os melhores cantores, os diretores de cena mais criativos, uma orquestra conceituadíssima -a Staatskapelle Berlim- e um dos mais caros e requisitados regentes do planeta, Daniel Barenboim.
Para o "Ano Strauss", a Staatsoper programou as óperas "Capriccio" (janeiro e fevereiro), "Elektra" (fevereiro e abril) e "O Cavaleiro da Rosa" (abril e maio), além de uma esperadíssima "Salomé", que estréia em 21 de fevereiro, tendo a soprano capixaba radicada em Viena Eliane Coelho no papel-título (leia texto ao lado).
Erigida no pós-guerra para ser o teatro lírico de Berlim Ocidental, a Deutsche Oper está nas mãos do Christian Thielemann, o mais talentoso regente germânico da nova geração, mas, apesar do alto nível das produções, vem perdendo público e prestígio para sua rival do outro lado do antigo muro.
A Deutsche Oper saiu na frente nas homenagens a Strauss, estreando uma "Salomé" em 19 de dezembro -mas logo teve de cancelar as três récitas subsequentes, devido a problemas de doenças entre vários cantores. Agora, só resta correr atrás do prejuízo com "O Cavaleiro da Rosa" (março) e "Daphne" (junho).
Corre por fora a Komische Oper, também situada no antigo lado oriental da cidade, a poucos metros da Staatsoper, e que traz como diferencial o fato de sempre apresentar as óperas em alemão -seja qual for a língua em que foram originalmente escritas.
Em 10 de janeiro, a casa estréia uma ópera de Strauss que fica em cartaz até maio -"Ariadne auf Naxos", que, ao empregar uma orquestra reduzida, é plenamente adequada às modestas ambições do teatro. Deutsches-Symphonie, Berliner Symphoniker, Berliner Sinfonie, Ensemble Oriol: é difícil encontrar alguma entre as inúmeras orquestras berlinenses que não vá dedicar algum concerto a Strauss.
Habitualmente generosa com o compositor, a melhor orquestra da cidade, a Filarmônica de Berlim, resolveu marcar seu aniversário de falecimento com um concerto marcado para 11, 12 e 13 de janeiro, no qual Wolfgang Sawallisch rege um programa inteiramente dedicado a Strauss: interlúdios da ópera "Intermezzo", "Dueto-Concertino para Fagote, Cordas e Harpa" e a "Sinfonia Doméstica".
Por fim, a Orquestra Sinfônica da Rádio de Berlim também faz seu "Concerto Strauss", em 20 de março, mas prefere apostar mais fichas nos 250 anos de nascimento do maior poeta da língua alemã, apresentando, em 16 de janeiro, as "Cenas do Fausto de Goethe", de Robert Schumann.
28 de agosto é a data exata do nascimento de Goethe, mas ele já está sendo celebrado pro outra grande orquestra, a Berliner-Sinfonie, que só termina em junho "Pistas de Goethe", série de concertos mensais iniciada em agosto.



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