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ERUDITO
Berlim antecipa cinquentenário de Strauss
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha, de Berlim
A data exata é 8 de setembro, mas
Berlim não aguentou esperar. As
casas de ópera e orquestras sinfônicas da nova capital alemã já estão
celebrando os 50 anos de morte de
Richard Strauss.
No Brasil, a fama de Strauss é
precedida pela de sua música.
Mesmo quem nunca ouviu falar no
compositor é capaz de reconhecer
o tema popularizado pelo filme
"2001, Uma Odisséia no Espaço",
de Stanley Kubrick -ou seja, a
abertura do poema sinfônico "Assim Falava Zaratustra", baseado
em Nietzsche.
(Não é ocioso salientar a inexistência de parentesco entre esse e os
outros dois Strauss da música
-Johann pai e filho, que popularizaram as valsas vienenses.)
Em Berlim, o "Ano Strauss" é
mais um capítulo na guerra das
três casas de ópera da cidade por
público, prestígio e dinheiro.
Afinal, na Alemanha, cultura é
considerada um assunto sério demais para ser deixado nas mãos da
iniciativa privada.
O historiador Lothar Kettenacker calcula que 80% do orçamento
dos teatros alemães provenha de
subsídios -por temporada, os governos dos municípios e "Länder"
(Estados) destinariam o equivalente a R$ 2 bilhões aos 587 teatros
públicos e 176 privados do país,
com as entradas sendo subsidiadas, em média, em até 100 reais.
A Staatsoper é hoje o teatro de
ópera cujos ingressos os berlinenses disputam a tapa. Fundada no
século 18, a casa fica na charmosa
avenida Unter den Linden, no antigo lado comunista da cidade.
Hoje ela consegue reunir os melhores cantores, os diretores de cena mais criativos, uma orquestra
conceituadíssima -a Staatskapelle Berlim- e um dos mais caros e
requisitados regentes do planeta,
Daniel Barenboim.
Para o "Ano Strauss", a Staatsoper programou as óperas "Capriccio" (janeiro e fevereiro), "Elektra"
(fevereiro e abril) e "O Cavaleiro
da Rosa" (abril e maio), além de
uma esperadíssima "Salomé", que
estréia em 21 de fevereiro, tendo a
soprano capixaba radicada em
Viena Eliane Coelho no papel-título (leia texto ao lado).
Erigida no pós-guerra para ser o
teatro lírico de Berlim Ocidental, a
Deutsche Oper está nas mãos do
Christian Thielemann, o mais talentoso regente germânico da nova
geração, mas, apesar do alto nível
das produções, vem perdendo público e prestígio para sua rival do
outro lado do antigo muro.
A Deutsche Oper saiu na frente
nas homenagens a Strauss, estreando uma "Salomé" em 19 de
dezembro -mas logo teve de cancelar as três récitas subsequentes,
devido a problemas de doenças entre vários cantores. Agora, só resta
correr atrás do prejuízo com "O
Cavaleiro da Rosa" (março) e
"Daphne" (junho).
Corre por fora a Komische Oper,
também situada no antigo lado
oriental da cidade, a poucos metros da Staatsoper, e que traz como
diferencial o fato de sempre apresentar as óperas em alemão -seja
qual for a língua em que foram originalmente escritas.
Em 10 de janeiro, a casa estréia
uma ópera de Strauss que fica em
cartaz até maio -"Ariadne auf
Naxos", que, ao empregar uma orquestra reduzida, é plenamente
adequada às modestas ambições
do teatro. Deutsches-Symphonie,
Berliner Symphoniker, Berliner
Sinfonie, Ensemble Oriol: é difícil
encontrar alguma entre as inúmeras orquestras berlinenses que não
vá dedicar algum concerto a
Strauss.
Habitualmente generosa com o
compositor, a melhor orquestra da
cidade, a Filarmônica de Berlim,
resolveu marcar seu aniversário de
falecimento com um concerto
marcado para 11, 12 e 13 de janeiro,
no qual Wolfgang Sawallisch rege
um programa inteiramente dedicado a Strauss: interlúdios da ópera "Intermezzo", "Dueto-Concertino para Fagote, Cordas e Harpa"
e a "Sinfonia Doméstica".
Por fim, a Orquestra Sinfônica da
Rádio de Berlim também faz seu
"Concerto Strauss", em 20 de março, mas prefere apostar mais fichas
nos 250 anos de nascimento do
maior poeta da língua alemã, apresentando, em 16 de janeiro, as "Cenas do Fausto de Goethe", de Robert Schumann.
28 de agosto é a data exata do
nascimento de Goethe, mas ele já
está sendo celebrado pro outra
grande orquestra, a Berliner-Sinfonie, que só termina em junho
"Pistas de Goethe", série de concertos mensais iniciada em agosto.
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