|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Depois de 150 anos, versos do precursor da literatura do absurdo, o inglês Edward Lear, chegam ao Brasil
Nonsense em traço e verso
SONHO DE VALSA "Havia um velho senhor de Ilha Solteira/que valsava com uma mosca varejeira;/ zumbiam uma doce canção,/ sob a luz do luar do verão,/ e a todos enleavam na Ilha Solteira." (poema sem título de Lear, que acompanha ilustração acima, traduzido por Marcos Maffei para "Adeus, Ponta do Meu Nariz", editora Hedra)
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O absurdo, o sem sentido, a literatura que empurra de lado a razão tem um rei. E é um rei Lear.
Nada a ver com o personagem
da tragédia de Shakespeare. É Edward Lear o nome do escritor,
ilustrador e pintor inglês que para
muitos historiadores das letras fez
o marco zero do que se chama de
literatura nonsense.
Nascido em 1812 nas proximidades de Londres e morto em San
Remo, na Itália, 75 anos depois,
Lear colocou, em pleno século 19,
moscas varejeiras para dançar
com homens, fez um senhor ensinar música aos sapos e outro cozinhar ovos no sapato.
Absurdos como seus versos e
traços (pois era com a mesma verve que ele ilustrava seus poemas)
é o pulo que agora dão eles. Uma
boa fatia de seus poemas começou o salto em 1846 na Inglaterra e
cai só agora nas livrarias do Brasil.
Na segunda-feira, a editora Hedra
lança em São Paulo o volume
"Adeus, Ponta do Meu Nariz",
com 90 dos 213 poemetos cômicos de Lear traduzidos pelo escritor Marcos Maffei (todos acompanhados do original, em inglês).
Não são versos quaisquer. Seguem todos o mesmo molde. "Limericks" é o nome do formato
que não foi criado, mas consagrado por Lear. São eles poemas de
cinco versos, rimando AABBA
-ou seja, o primeiro, o segundo e
o quinto verso consonantes entre
si, assim como o terceiro e o quarto, estes de menor extensão.
O mesmo modelo poético chegou a ser usado por Lewis Carroll
(1832-1898), com quem Lear é
sempre comparado. Assim como
o autor de "Alice no País das Maravilhas" -e do marco nonsense
"Jabberwocky"-, o escritor fez
boa parte de sua obra originalmente para crianças.
E foi pensando nos petizes que
Maffei começou a traduzir alguns
"limericks", quando trabalhava
em uma escola em São Paulo, no
início dos anos 80. Há um par de
anos, ele encontrou os versos no
fundo da gaveta. Fez outras traduções, reviu as que tinha, leu tudo
que encontrou sobre Lear (incluindo volume com 16 poemetos, traduzidos por mestre José
Paulo Paes para a editora Ática).
Maffei divide parte de suas pesquisas com o leitor. "Adeus, Ponta do Meu Nariz" termina com
um bom perfil do escritor. "Ele foi
um criador de maravilhamentos", sintetiza o tradutor.
ADEUS, PONTA DO MEU NARIZ. De:
Edward Lear. Tradução: Marcos Maffei.
Editora: Hedra (tel. 0/xx/11/3097-8304).
Lançamento: segunda, a partir das 19h.
Onde: Canto Madalena (r. Medeiros de
Albuquerque, 471, São Paulo, tel. 0/xx/
11/3813-6814). Quanto: R$ 19,50
Texto Anterior: "Contos dispersos - 1928-1951": Histórias de Moravia buscam estilo Próximo Texto: Entrelinhas: Brasil ganha "sucursal" de biblioteca modelo Índice
|