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MÚSICA
"Sujeito Homem 2" chega às lojas na próxima semana e traz como convidados Fundo de Quintal e Jair Rodrigues
Rappin" Hood lança segunda parte de trilogia
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Difícil encontrar no cinema
continuação que seja igual ou superior ao filme inicial. Há casos
clássicos: "O Poderoso Chefão 2",
"O Império Contra-Ataca"... Com
o espírito de um Coppola ou de
um George Lucas, o paulistano
Rappin" Hood lança na próxima
semana "Sujeito Homem 2", o segundo capítulo de sua própria trilogia iniciada há quatro anos
com... "Sujeito Homem".
"Vou completar a seqüência
com um disco gravado ao vivo.
Sempre fui fã de trilogias", disse
Rappin" Hood à Folha, nesta semana, durante conversa no largo
São Bento, no centro da cidade.
Hoje com 33 anos, Antônio Luiz
Júnior, nascido na Vila Arapuá,
região sul de São Paulo, é da primeira geração do rap paulista, a
geração de Thaíde, DJ Hum, Racionais. Em 1985, freqüentava este
mesmo largo São Bento, ao lado
de b-boys e grafiteiros. "Hoje, volto e o segurança me cumprimenta, fico à vontade. Antigamente
não podíamos cantar e dançar
aqui, corríamos da polícia."
Diferentemente de Thaíde ou
dos Racionais, Rappin" Hood demorou a aparecer. Só lançou seu
primeiro disco solo em 2001. Culpa, diz, da ousadia em misturar o
rap a ritmos como samba, repente
e bossa nova. Sim, havia época,
não muito tempo atrás, em que
"rap era rap", "samba era samba".
"Hoje é mais fácil, né? Mas desde o meu primeiro disco faço isso.
Eu quero aproximar o rap da realidade brasileira, não quero ser
uma cópia dos americanos", justifica. "Quando houve o boom dos
Racionais, você ia a festivais de
rap e de cada dez bandas, nove
soavam como eles. Dei a minha
cara para bater. Rimo em cima da
cadência do samba há 15 anos."
E a cadência do samba continua
solta em "Sujeito Homem 2". Não
só por Rappin" Hood. Se em "Sujeito Homem" ele chamou Leci
Brandão para "duelar" no hit
"Sou Negrão", aqui ele abre espaço para Fundo de Quintal, Exaltasamba, Jair Rodrigues e Dudu
Nobre. Mas não só. "Odara" e
"Andar com Fé" estão aqui
-além dos próprios Caetano Veloso e Gilberto Gil.
O encontro, diz, não soa estranho. "Não acho que eles estejam
acima do bem e do mal. Seria fácil
para mim falar que o rap é radical,
que somos a revolução, mas hoje
não tem ditadura, não fui mandado embora do Brasil. Eles são a
história do país, eu tenho que respeitar. Mas, se eu discordar de algo
do Gil, do Caetano ou até do Lula,
eu vou falar. Isso é a cara do rap."
A cara de "Sujeito Homem 2" é
uniforme, mas muda bastante a
cada canção. Passa pelo repente,
quase um baião ("Disparada
Rap"); pelo samba ("Muito Longe
Daqui"); às vezes é um rap-samba
("Se Toca"); em outra hora volta a
ser rap puro, soturno, dark ("Tudo o que Eu preciso").
Em "Disparada...", diz que o
"rap tem que virar cada vez mais
música popular brasileira". Ele
explica: "O rap brasileiro não precisa ser cópia de Wu-Tang Clan
[coletivo norte-americano de hip
hop]. Temos que ter identidade.
Pode chocar alguns, mas essa é a
minha proposta. Sou músico, sei
ler partitura".
Ao mesmo tempo, Rappin"
Hood defende uma autonomia do
rap, consciente até de uma certa
responsabilidade social de si mesmo e de seu estilo musical. "Qualquer tipo de música pode ajudar a
tirar a molecada da rua. Muita
gente venceu na vida com um cavaquinho. Mas o rap tem um discurso que os outros não têm. No
samba, na safra nova, não existe
preocupação social. No rap isso
não ocorre; o rap é social."
Continua: "No funk carioca, há
um pessoal que tem compromisso, como o Mr. Catra. Mas, também, não posso falar mal do Marlboro, que é um pioneiro. Respeito
o trabalho dele, mas não consumo aquilo. Se eu fizer uma música
sem compromisso, as pessoas de
onde venho vão me cobrar...".
Rappin" Hood já passou por vários lugares. Foi office-boy, auxiliar de escritório, ajudou a fundar
a rádio comunitária da favela de
Heliópolis, aprendeu a tocar
trombone na Universidade Livre
de Música e esteve à frente do projeto Escola de Rap, que rodou colégios públicos fazendo palestras,
shows e oficinas. E a trilogia ainda
não terminou.
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