São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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Crítica/"Na Cama"

Chileno leva incertezas conjugais ao motel

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Uma vez que o móvel onde se dorme e se transa pode ser encontrado em diversos locais, um título mais preciso para "Na Cama" (2005) seria "No Motel" ou "No Quarto de um Motel". O jovem diretor chileno Matías Bize encena o que ocorre ali quando um casal que mal se conhece, ambos beirando os 30 anos, resolve conversar depois do sexo.
No início, Daniela (Blanca Lewin) é pouco mais do que "uma peituda" para Bruno (Gonzalo Valenzuela); para Daniela, Bruno também não passa de um bonitão "com cara de passarinho". Durante algumas horas, que o filme condensa em 85 minutos, sabe-se como eles foram parar naquela situação e para onde podem caminhar a partir dali.
Bize e o roteirista Julio Rojas haviam trabalhado juntos em "Sábado, una Película en Tiempo Real" (2003), média-metragem (meros 65 minutos) também estrelado por Blanca Lewin e que já trazia algumas características de "Na Cama", como o interesse pela distância no relacionamento entre jovens e por um exercício de estilo próximo ao do documentário (ou de seu popular primo televisivo, o "reality show"). Aqui, o confinamento é ainda mais radical do que nos brasileiros "Filme de Amor" (2003), de Júlio Bressane, e "Incuráveis" (2005), de Gustavo Acioli, que também se dedicam, com propósitos bastante distintos, as experiências-limite entre quatro paredes, mas que permitem respirar um pouco de ar fora dali.
Não se trata apenas de ficar o tempo todo ao lado de Bruno e Daniela. O espectador também está, como eles, no escuro: a conversa fiada entre amantes ocasionais sugere mais do que ambos parecem dispostos a revelar, em jogo de meias-verdades (e pequenas mentiras) que torna especialmente simbólica a penumbra do quarto.
A câmera na mão, oscilando entre um e outro personagem, quase sempre com enquadramentos mais fechados, evita até mesmo que se apreenda a geografia do quarto. Nesse aspecto, "Na Cama" tira leite de pedra: a economia de informações visuais amplifica a incerteza (insegurança mesmo) em torno da situação que o longa mostra.
Bruno e Daniela falam, falam e falam. Nada de especialmente original ou colorido, apenas o que esses dois jovens fugidios consideram revelador a respeito do amor e de relacionamentos, frugais e duradouros. O interesse por "Na Cama" está na proporção direta de enxergar (ou não) algum frescor nessa conversa.


NA CAMA
Direção: Matías Bize
Produção: Alemanha/Chile, 2005
Com: Blanca Lewin e Gonzalo Valenzuela
Quando: em cartaz nos cines HSBC Belas Artes, Cine Bombril e Sala UOL de Cinema
Avaliação: regular


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