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Suíça pratica "feminismo pop"
FERNANDO OLIVA
da Redação
Oswald de Andrade pregou, naquela que talvez seja a proposta
mais reveladora de seu manifesto:
"Só me interessa o que não é
meu". À artista suíça Sylvie Fleury
também só importa o que não lhe
pertence. Antropofágica -sem o
saber- torna femininos trabalhos
de Andy Warhol, Marcel Duchamp e Piet Mondrian. Assim, ao
inverter o gênero de alguns célebres ready-mades do dadaísta Duchamp ou ao recriar o abstracionista Mondrian com pele falsa, vai
de encontro ao tema dessa Bienal.
Em entrevista à Folha (por telefone, de Genebra), Sylvie falou
que não sabe se pratica um novo
tipo de feminismo, mas que apenas critica uma sociedade de consumo que, por meio da mídia, impõe padrões disparatados de moda, estética e comportamento. Assim como em Warhol, um dos artistas que ela "plagia", há muito
humor nos trabalhos de Sylvie
Fleury. Numa obra de 1994
("Emagreça Rápido - Delícia de
Baunilha") ela substituiu as célebres caixas de sabão em pó Brillo,
do artista pop norte-americano,
por caixas de Slim Fast, tipo de
produto diet, em pó, que promete
resultados milagrosos em direção
ao emagrecimento instantâneo.
Sylvie também ironiza em "Gala" (1993), instalação construída
com sombra para olhos Chanel.
Opção intencional ou não, Gala é a
mulher que ficou famosa por ser
casada com Salvador Dalí -e pelos retratos que ele fez dela.
Ao se apossar de Mondrian, a artista o faz de maneira a "esconder
seu caráter rígido, masculino. Por
isso recrio os quadros com pele,
felpuda, macia, remetendo ao universo que é atribuído à mulher".
Da mesma forma, Duchamp,
reapropriado, aparece de maneira
peculiar. A obra "É Época de Liquidação da Clinique", de 1991, resume-se a sacolas da marca francesa expostas aleatoriamente pelo
chão. "Já que os ready-mades
eram coisas ligadas ao cotidiano
do universo masculino, eu fiz
ready-mades com perfumes, maquiagem, roupas femininas..."
Sylvie Fleury nunca leu o "Manifesto Antropófago", não tem noções profundas do que seja a antropofagia, não sabe por que foi
escolhida para representar a Suíça
nem o que vai exibir no Brasil.
Mas não deve decepcionar nesta
Bienal. "Lei do homem. Lei do antropófago." Como previu o modernista brasileiro há 70 anos, no
texto que é o ponto de partida para
esta 24ª edição.
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