São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

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Suíça pratica "feminismo pop"

FERNANDO OLIVA
da Redação

Oswald de Andrade pregou, naquela que talvez seja a proposta mais reveladora de seu manifesto: "Só me interessa o que não é meu". À artista suíça Sylvie Fleury também só importa o que não lhe pertence. Antropofágica -sem o saber- torna femininos trabalhos de Andy Warhol, Marcel Duchamp e Piet Mondrian. Assim, ao inverter o gênero de alguns célebres ready-mades do dadaísta Duchamp ou ao recriar o abstracionista Mondrian com pele falsa, vai de encontro ao tema dessa Bienal.
Em entrevista à Folha (por telefone, de Genebra), Sylvie falou que não sabe se pratica um novo tipo de feminismo, mas que apenas critica uma sociedade de consumo que, por meio da mídia, impõe padrões disparatados de moda, estética e comportamento. Assim como em Warhol, um dos artistas que ela "plagia", há muito humor nos trabalhos de Sylvie Fleury. Numa obra de 1994 ("Emagreça Rápido - Delícia de Baunilha") ela substituiu as célebres caixas de sabão em pó Brillo, do artista pop norte-americano, por caixas de Slim Fast, tipo de produto diet, em pó, que promete resultados milagrosos em direção ao emagrecimento instantâneo.
Sylvie também ironiza em "Gala" (1993), instalação construída com sombra para olhos Chanel. Opção intencional ou não, Gala é a mulher que ficou famosa por ser casada com Salvador Dalí -e pelos retratos que ele fez dela.
Ao se apossar de Mondrian, a artista o faz de maneira a "esconder seu caráter rígido, masculino. Por isso recrio os quadros com pele, felpuda, macia, remetendo ao universo que é atribuído à mulher".
Da mesma forma, Duchamp, reapropriado, aparece de maneira peculiar. A obra "É Época de Liquidação da Clinique", de 1991, resume-se a sacolas da marca francesa expostas aleatoriamente pelo chão. "Já que os ready-mades eram coisas ligadas ao cotidiano do universo masculino, eu fiz ready-mades com perfumes, maquiagem, roupas femininas..."
Sylvie Fleury nunca leu o "Manifesto Antropófago", não tem noções profundas do que seja a antropofagia, não sabe por que foi escolhida para representar a Suíça nem o que vai exibir no Brasil.
Mas não deve decepcionar nesta Bienal. "Lei do homem. Lei do antropófago." Como previu o modernista brasileiro há 70 anos, no texto que é o ponto de partida para esta 24ª edição.



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