São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

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MÚSICA
Pons rouba a cena e June Anderson se revela "atleta" do canto lírico

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha

Quem gosta de ópera italiana e tem dinheiro para as entradas não pode perder a apresentação de hoje do barítono espanhol Juan Pons.
No concerto de segunda-feira, na série dos Patronos do Teatro Municipal, Pons mostrou-se o intérprete verdiano ideal.
Volume, expressividade, dicção, arrebatamento: é difícil pensar em alguma qualidade que o barítono não possua.
O programa, infelizmente, não foi dos mais criativos: "La Traviata", "Rigoletto" e "Il Trovatore", de Verdi, mais "Andrea Chénier", de Giordano.
Embora o repertório fosse corriqueiro, tratava-se, de qualquer forma, de peças exigentes, pesadas, das quais o barítono se desincumbiu com perfeição técnica. Seus agudos são firmes; os graves, robustos; e o uso que faz dos pianíssimos, inteligente.
Infelizmente, a soprano norte-americana June Anderson, que divide a noite com Pons, esteve aquém de seu colega espanhol.
Os maiores problemas se evidenciaram em "Sempre Libera", a grande cena final da "Traviata". Anderson, é certo, alcançou o mi bemol, agudo que vem sendo evitado por intérpretes de todos os tempos, de Bidu Sayão a Angela Gheorghiu.
Mas foi só. Ela tem um vibrato feio, tendência a abrir em demasia a voz nos agudos e fraseado pouco elegante.
Em suma: mais do que musicista, Anderson mostrou-se uma atleta do canto lírico, craque em acrobacias vocais. Não por acaso, sua melhor participação foi "Ombre légère", da ópera "Dinorah", de Meyerbeer -uma ária musicalmente pobre, porém rica em trinados e ornamentações vocais de toda espécie.

Regência
Assistente de James Levine no Metropolitan de Nova York, Kamal Khan revelou-se um regente histriônico em excesso, porém excelente acompanhador, empregando tempos sempre muito cômodos para os cantores.
Sob sua direção, a Sinfônica Municipal comprovou sua evolução técnica, com escorregões pouco comprometedores -a não ser pelo piano, que quase transformou o "Bel Sogno di Doretta", de Puccini, cantado por June Anderson, em pesadelo.


Concerto: June Anderson (soprano) e Juan Pons (barítono)
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 10 a R$ 80



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