|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Pons rouba a cena e June Anderson se revela "atleta" do canto lírico
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha
Quem gosta de ópera italiana e
tem dinheiro para as entradas não
pode perder a apresentação de hoje do barítono espanhol Juan
Pons.
No concerto de segunda-feira,
na série dos Patronos do Teatro
Municipal, Pons mostrou-se o intérprete verdiano ideal.
Volume, expressividade, dicção,
arrebatamento: é difícil pensar em
alguma qualidade que o barítono
não possua.
O programa, infelizmente, não
foi dos mais criativos: "La Traviata", "Rigoletto" e "Il Trovatore",
de Verdi, mais "Andrea Chénier",
de Giordano.
Embora o repertório fosse corriqueiro, tratava-se, de qualquer
forma, de peças exigentes, pesadas, das quais o barítono se desincumbiu com perfeição técnica.
Seus agudos são firmes; os graves,
robustos; e o uso que faz dos pianíssimos, inteligente.
Infelizmente, a soprano norte-americana June Anderson, que divide a noite com Pons, esteve
aquém de seu colega espanhol.
Os maiores problemas se evidenciaram em "Sempre Libera", a
grande cena final da "Traviata".
Anderson, é certo, alcançou o mi
bemol, agudo que vem sendo evitado por intérpretes de todos os
tempos, de Bidu Sayão a Angela
Gheorghiu.
Mas foi só. Ela tem um vibrato
feio, tendência a abrir em demasia
a voz nos agudos e fraseado pouco
elegante.
Em suma: mais do que musicista, Anderson mostrou-se uma
atleta do canto lírico, craque em
acrobacias vocais. Não por acaso,
sua melhor participação foi "Ombre légère", da ópera "Dinorah",
de Meyerbeer -uma ária musicalmente pobre, porém rica em
trinados e ornamentações vocais
de toda espécie.
Regência
Assistente de James Levine no
Metropolitan de Nova York, Kamal Khan revelou-se um regente
histriônico em excesso, porém excelente acompanhador, empregando tempos sempre muito cômodos para os cantores.
Sob sua direção, a Sinfônica Municipal comprovou sua evolução
técnica, com escorregões pouco
comprometedores -a não ser pelo piano, que quase transformou o
"Bel Sogno di Doretta", de Puccini, cantado por June Anderson,
em pesadelo.
Concerto: June Anderson (soprano) e Juan
Pons (barítono)
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nš, tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 10 a R$ 80
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|