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RÁDIO
Piratas viram caminhão de som nas eleições
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Que o rádio é um dos mais
importantes palanques nas
eleições não é nenhuma novidade. O que supera toda e qualquer
expectativa são os esquemas mirabolantes criados por políticos
para o uso eleitoreiro do dial.
Acompanhe um dos "truques":
um candidato a deputado reúne
um grupo interessado em montar
uma emissora (gente para isso é o
que não falta, como estudantes e
membros de associações de bairro). Chega com o velho discurso
de que todo mundo tem direito a
uma estação, de que é preciso democratizar a comunicação.
Gasta algo entre R$ 3.000 e R$
5.000 com equipamentos e monta
uma rádio no fundo do quintal do
grupo por ele "presenteado". Diz
que, eleito, apresentará projetos
para estações comunitárias e tentará legalizar a do bairro.
Mas já apresenta a fatura: "solicita" que a pirata coloque no ar algumas vezes por dia uma fita com
seu discurso. Correligionários circulam com o rádio do carro sintonizado na emissora (às vezes ligado a alto-falante). Mesmo com
potência baixa, a transmissão pode chegar a um raio de dois quilômetros. Está montada uma "rede" clandestina de campanha.
Mais barata e eficiente do que um
caminhão de som (fora o veículo e
o combustível, o custo do equipamento pode chegar a R$ 10 mil).
A emissora, sem assessoria técnica, acaba interferindo no sinal
das comerciais. Para encerrar o
"conto de fadas", o deputado costuma desaparecer depois das eleições, principalmente quando a
rádio é fechada pela polícia.
E o uso político das emissoras
de baixa potência não pára por aí.
Além de criar sua própria rádio
porta-voz, candidatos usam e
abusam das cerca de 500 estações
clandestinas da Grande SP. Juntas, representam o 4º lugar de audiência na região, segundo Chico
Lobo, especialista em radiodifusão ligado a movimentos de rádios comunitárias. Ele estima que,
a cada minuto, as piratas são sintonizadas por 900 mil pessoas, digo, eleitores (um dado: em 98, o
deputado federal mais votado no
Brasil teve 306.988 votos). É ou
não é um palanque e tanto?
Esta semana, a Eldorado passou
a transmitir na FM (92,9 MHz) o
jornal matutino da AM (700 kHz).
Na mudança, é clara a intenção de
cortar custos, diante da crise do
setor. O que os empresários esperam é que seja votada e aprovada
hoje no Senado a emenda constitucional que libera participação
de investidores nacionais e internacionais na mídia. E o rádio, desprestigiado no mercado brasileiro, já está na mira dos gringos.
laura@folhasp.com.br
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