São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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CRÍTICA

"Floribella" reage com simplicidade à ficção

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

É curioso que a Bandeirantes tenha optado por um caminho completamente diverso da Globo para conceber sua novela infanto-juvenil. Depois de muitas mutações e dez anos no ar, pode-se até dizer que há uma fórmula bem-sucedida em "Malhação": conflitos adolescentes tratados com "seriedade" adulta, adultos infantilizados (e mais ou menos patéticos) e um meio ambiente coletivo -colégio, academia- para amarrar tudo isso num lugar só. A combinação esperta entre leveza de personagens juvenis com a solenidade noveleira com que são tratados seus amores e intrigas, além do formato híbrido entre a novela e o seriado, fizeram da atração da Globo uma espécie de fenômeno de audiência e longevidade.
Em "Floribella", claro, percebem-se traços de "Malhação" e não só porque a protagonista, Juliana Silveira, foi a Júlia na sétima temporada. Há namoricos e há adolescentes em torno de um projeto comum, um grupo de música que, inclusive, pretende ter uma existência extranovela, como a Vagabanda da última temporada de "Malhação".
Mas o apelo de "Floribella" vem de outra parte. Seu roteiro contém algumas das principais convenções do conto de fadas e o tom da novela é bastante infantil. Ainda que ela pretenda soar "jovem" no sentido mais besta -com gírias, roupas, música e uma certa estridência geral-, a história e, sobretudo, a maneira de contá-la remetem a uma espécie de encantamento infantil.
Para começar, quase todos os personagens são órfãos. Flor, a moça pobre, e o príncipe encantado Fred o são de pai e mãe. No conto de fadas é importante que pais e mães não estejam muito por perto, para garantir a existência autônoma e, portanto, a possibilidade de aventura dos personagens. Depois, o mal -a madrasta e meia-irmã invejosas- está longe de ser matizado. Malva (Suzy Rêgo até está com uma mecha branca no cabelo, à la Malvina Cruela) e Delfina, as opositoras de Flor no caminho em direção ao príncipe, até dão aquelas risadas malignas. Por fim, fadas-madrinhas, como a personagem de Zezé Motta, aparecem nas horas de aperto.
Talvez valha a pena se perguntar qual é o motivo de uma novela tão infantilizada estar fazendo um relativo sucesso -a emissora está atingindo índices significativos de audiência no horário. É como se houvesse aí uma sinalização da necessidade de fantasia de pelo menos uma parcela dos espectadores, que pode ser satisfeita com mais simplicidade do que as novelas da Globo atualmente permitem.
O que "Floribella" e novelas de época que a Record entendeu por bem ressuscitar a partir de "A Escrava Isaura" (e agora em "Essas Mulheres") parecem prometer é uma história contada com menos acessórios e menos complicações artificiais. E isso encontra eco em um público que provavelmente se cansou do excesso de "atualidade" e da manipulação sem critérios que a concorrência vem praticando.


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