São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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crítica

Filme supera estilização da HQ original

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Enquanto "Homem de Ferro" optou por solução mais realista para adaptar HQ em forma de aventura contemporânea, "Speed Racer" seguiu caminho oposto: o desenho animado original é que talvez pareça mais realista diante da superestilização buscada no filme pelos irmãos Wachowsky.
Extensa paleta de cores e movimentação intensa contribuem para criar, em cenários futuristas de ambientação retrô, um universo de ação quase alucinógeno, como se os personagens do desenho adquirissem vida não em coordenadas como as nossas, mas em uma ambientação de videogame.
Esse compromisso com a procura de um código de imagens e sons que seja mais próximo do dialeto de outra mídia entra na conta da experimentação de caráter industrial, como em "Dick Tracy" (1990) e "Sin City" (2005), e tende a agradar a parcela do público jovem interessada em certa espécie de familiaridade.
Bom filme baseado em quadrinhos ou em animação seria, de acordo com essa lógica, o que se "parece" com quadrinhos ou animação. Em "Speed Racer", a tentativa de evocar o espírito ingênuo do original o tornou mais infantil do que juvenil, na contramão, por exemplo, de filmes como "Homem de Ferro" e até mesmo de "Homem-Aranha".
Há um toque sombrio na trama, relacionado à manipulação de resultados nas corridas e ao próprio desaparecimento (morte?) de Rex Racer, o irmão mais velho de Speed (Emile Hirsch, de "Na Natureza Selvagem"). Os vilões responsáveis por isso, no entanto, são interpretados de maneira caricatural pelos atores e, por tabela, soam infantilizados.

Família de cartum
Não é fácil a vida de atores em circunstâncias como essas, em que, além da referência de fundo ao desenho animado, a inserção de efeitos especiais na fase de pós-produção determina o resultado. No fundo, porém, talvez não seja tão difícil assim: basta, como na maior parte dos filmes, emprestar seu tipo físico aos personagens.
É o que fazem John Goodman e Susan Sarandon, nos papéis de Pops e Mom Racer, os pais de Speed. Essa família de cartum representa a cultura dos subúrbios da classe média norte-americana em uma espécie de mundo paralelo, também voltado para o consumo de televisão e comida, não necessariamente nessa ordem.
Mais do que disseminar hábitos pelo mundo, a indústria de diversão dos EUA formata todos os mundos à sua imagem e semelhança, até o superestilizado universo de "Speed Racer".


SPEED RACER
Direção:
Larry Wachowski e Andy Wachowski
Produção: EUA, 2008
Com: Emile Hirsch, Christina Ricci e Matthew Fox
Quando: a partir de amanhã nos cines Anália Franco, Eldorado e circuito (censura livre)
Avaliação: regular


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