|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/erudito/Osesp
Orquestra se sai bem com difícil repertório de Holliger e Debussy
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
"As noites a brilhar
pelo calor do carvão", escreveu Baudelaire (1821-1867) no Canto 38
de "As Flores do Mal"; em 1917,
Debussy (1862-1918) usou o
verso como título de sua última
peça para piano.
A partir dessas referências, o
suíço Heinz Holliger escreveu
"Ardeur Noire" (2008), obra
para coro e orquestra que abriu
concerto da Osesp, anteontem,
sob a regência do compositor.
Nascido em 1939, Holliger
talvez seja o mais importante
solista de oboé do século 20 e,
como regente, já colaborou
com as mais importantes orquestras do mundo.
Sua atividade criativa seguiu
em paralelo com a carreira de
instrumentista. É o que mostra
o ciclo de seis canções para soprano e orquestra sobre poemas de Christian Morgenstern
(1871-1914), composto em
1956-7 - quando o compositor
mal havia completado 18 anos
-, orquestrado em 2003 e cantado de modo inesquecível pela
finlandesa Anu Komsi.
Depois, "O Martírio de São
Sebastião" para vozes solistas,
coro e orquestra (1911), que Debussy escreveu para uma peça
de Gabrielle D'Annunzio
(1863-1938). Aqui, Debussy está no auge, faz da grandiosidade
perfeição, da complexidade
transparência, implode gêneros, inventa formas.
Tudo é sutileza entre o acorde de si bemol menor que abre
e o "Aleluia" final. Komsi foi de
novo o destaque, como "Virgem Erígone", "Voz Celestial" e
a alma de Sebastião.
A noite de estreia de um repertório novo e difícil solicita
atenção redobrada -que faltou
na primeira peça, quando o coro (oculto atrás do palco) não
entrou, forçando o maestro a
retomar do início.
É compreensível que nem todos os ouvintes tenham concentração para seguir até o fim
um programa como esse; de fato, muitos saíram antes de são
Sebastião atingir o Paraíso.
Encarar e propor desafios é,
porém, parte da missão de uma
orquestra como a Osesp e nada
substitui a oportunidade de
conviver com um músico completo como Heinz Holliger.
OSESP
Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Julio Prestes, 16, tel. 0/xx/3223-3966)
Quanto: R$ 36 a R$ 122
Classificação: 7 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Banda pernambucana vira febre cantando Roberto Carlos Próximo Texto: Cultura se alia à TV Brasil em novo programa Índice
|