São Paulo, sábado, 08 de maio de 2010

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Crítica/erudito/Osesp

Orquestra se sai bem com difícil repertório de Holliger e Debussy

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

"As noites a brilhar pelo calor do carvão", escreveu Baudelaire (1821-1867) no Canto 38 de "As Flores do Mal"; em 1917, Debussy (1862-1918) usou o verso como título de sua última peça para piano.
A partir dessas referências, o suíço Heinz Holliger escreveu "Ardeur Noire" (2008), obra para coro e orquestra que abriu concerto da Osesp, anteontem, sob a regência do compositor.
Nascido em 1939, Holliger talvez seja o mais importante solista de oboé do século 20 e, como regente, já colaborou com as mais importantes orquestras do mundo.
Sua atividade criativa seguiu em paralelo com a carreira de instrumentista. É o que mostra o ciclo de seis canções para soprano e orquestra sobre poemas de Christian Morgenstern (1871-1914), composto em 1956-7 - quando o compositor mal havia completado 18 anos -, orquestrado em 2003 e cantado de modo inesquecível pela finlandesa Anu Komsi.
Depois, "O Martírio de São Sebastião" para vozes solistas, coro e orquestra (1911), que Debussy escreveu para uma peça de Gabrielle D'Annunzio (1863-1938). Aqui, Debussy está no auge, faz da grandiosidade perfeição, da complexidade transparência, implode gêneros, inventa formas. Tudo é sutileza entre o acorde de si bemol menor que abre e o "Aleluia" final. Komsi foi de novo o destaque, como "Virgem Erígone", "Voz Celestial" e a alma de Sebastião.
A noite de estreia de um repertório novo e difícil solicita atenção redobrada -que faltou na primeira peça, quando o coro (oculto atrás do palco) não entrou, forçando o maestro a retomar do início.
É compreensível que nem todos os ouvintes tenham concentração para seguir até o fim um programa como esse; de fato, muitos saíram antes de são Sebastião atingir o Paraíso.
Encarar e propor desafios é, porém, parte da missão de uma orquestra como a Osesp e nada substitui a oportunidade de conviver com um músico completo como Heinz Holliger.


OSESP
Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Julio Prestes, 16, tel. 0/xx/3223-3966)
Quanto: R$ 36 a R$ 122
Classificação: 7 anos
Avaliação: bom



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