São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998

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NOITE ILUSTRADA - ERIKA PALOMINO
Yes! A noite felizmente continua!

Claudia Guimarães/Folha Imagem
Marquinhos Marla, em momento a noite continua, na festa em que todo mundo dançou com casacón até de manhã


ALFRED, alfred. É o pensamento de todos esta semana. Entra no ar o site spectrogirl.com/h2a, para manter viva sua memória. As pessoas podem entrar e dar seu depoimento, contar histórias sobre um dos DJs que, sem dúvida, ajudaram a definir a cena brasileira de tecno e house. No Folha Informações Ilustrada (0900-78-0311), uma das últimas faixas criadas por Alfred, em estúdio com o amigo Paulo Gandolfi, que procurava recriar o clima de chegada num clube.

Todo mundo meio passado, mas a noite continua.

A cena trance de São Paulo, que cresce dia-a-dia recebe amanhã sua primeira performance ao vivo numa festa de sítio, com o projeto Etnica, de Max Lanfreconi e Maurizio Begotti, italianos, finíssimos no gênero, segundo informações. A festa terá ainda Dmitri e o convidado Federico (Foton Belt). O mapa é o seguinte: pegar rodovia Fernão Dias, saída terra preta km 54, pegar o outro lado da pista e seguir 5,2 km, pegar à direita 2,5 km de asfalto e novamente à direita 1,5 km de terra e pronto. Já reparou que convite de sítio tem sempre um pronto no final? E pronto!

QUE coisa, viu que o Universe 98 foi cancelado? Adiaram assim de qualquer jeito, alegando aquele problema de licença, mas aleijando com a coisa toda. Organizadores e público ficaram passados, mas não teve jeito. Mas o Creamfields rolou. Laurent Garnier foi um dos destaques, com sua performance ao vivo. Ao final, tocou insanamente, com uma violinista o acompanhando, numa faixa pesadíssima. Em seguida, Dave Clarke distorceu e pesou, num tecno limpo e pra cima. O povo saía de vez em quando para dar uma olhada na discotecagem do Daft Punk.
E depois entrou o Green Velvet, em versão Cajmere, possuído. Dos 11 palcos, passaram bem ainda Chemical Brothers, Carl Cox e Tony de Vit, que levou seu público bem específico ao delírio. Tudo terminou às 6h, com todo mundo encharcado de lama.

MARINA Dias também manda notícias. A mais expressiva modelo brasileira já saída da cena underground está agora em Londres, trabalhando bastante. Acaba de fazer um editorial para a "Ray Gun" e uma foto para a "i-D". E se prepara para fazer uma nova tatuagem: um coração com a inscrição True Love, já que ela e Ivan Abujamra continuam sim no espírito da tatoo.

E a cena no Rio se anima mesmo, com a entrada do clube Factoria. Semana passada foi a estréia do projeto Gran Luxo Super, de Cacá Ribeiro, que conseguiu tirar de casa (ou da catacumba) gente que há muito não saía. O casting estreladíssimo incluiu até Marina Lima, Liège Monteiro e Gringo Cardia, mais top clubbers como Helinho Romero, Rubens de Souza, Jeff Neale, Drica Freire, Pedro Garcia, Paulo Vieira, Muti e Claudio Gomes, que, no meio da festa, em meio a taças de champagne, ainda teve estômago para devorar três esfihas! Segundo brincou o promoter Roberto Pedroza, a Factoria é uma fundição limpa. E o povo do tecno, que agora toma café da manhã no Porcão?

OUTRA novidade do Rio é a boate gay Bobage, assim mesmo, sem o m. É onde a estrelíssima Rose Bom Bom agora faz seu show de domingo. Ela continua impagável. Diz agora que está fashion: fashion os olhos. Êta, essa é a Rose que a gente conhece. No show, maravilhosa de linda, Ione K (ou algo parecido), uma espécie de Veronika black.

ENQUANTO isso, Elba Ramalho grava um videoclipe tipo clubber, com casting clubber e figurino idem, sob a coordenação do stylist carioca Felipe Velloso -sempre o mais clubber, né? Velloso é tão fashion e fashion victim que o apelido dele antigamente era Felipe Chanel, lembra?
HOJE à noite a descolândia se reúne pra assistir à pré-estréia de "Boogie Nights", ciceroneados por André Fischer, no hotel Meliá. O próprio Fischer em si se prepara para se jogar no japonês. Ele leva alguns filmes do Mix Brasil (legendados em japonês) para a versão do festival em Tóquio, este mês.

JÁ foi ao Mayo Club? É o projeto de Marcão Morcerf que ocupa durante o mês de maio em si as dependências do Dávic, ali na Rui Barbosa. O sempre ascendente George Actv é o convidado de hoje. Na porta, a imbatível Marcelona, em produção de Kaká Moraes.

E semana que vem tem mais Alfred.

QUE pena, que pena, perdemos Alfred. Uma das mais peculiares personalidades da cena, um dos mais pessoais DJs de São Paulo. Inteligente mais do que qualquer um de nós, vivido mais do que qualquer um de nós, Alfred morreu na madrugada de sexta para sábado, depois de um mês de internação. O corpo não resistiu. Mas seu som e seu talento vão ficar na nossa lembrança. Vão permanecer nas pistas e no pensamento das pessoas que já o ouviram e o conheceram. Sorte dos que puderam desfrutar de seus pensamentos muito especiais sobre a vida, seu humor e suas histórias sobre viagens (ele foi ao Studio 54 e até ao Paradise Garage!). Flashes de Alfred vão voltando à mente. Por exemplo, suas animações gráficas; o dia em que tocou Elis Regina no Hell's; suas parcerias com o DJ Mau Mau ("Acid Cake", também com Apollo, está gravada no disco do clube), imbatíveis na pista; sua paixão pelo tecno de Detroit...
"Ele tinha um jeito muito passional de lidar com música. Tocava e dançava como se fosse uma valsa, brincando. Era uma coisa romântica mesmo, bonito de se ver", conta Renato Lopes. "Alfred Newman, do planeta X! O cara mais legal, criativo, maluco e chato que eu já conheci. E ainda supertalentoso! Todo seu trabalho como DJ, produtor e videomaker são muito especiais. Vai fazer muita falta", lembra o DJ e produtor Gil Barbara. Na madrugada de sábado, alguns amigos fizeram um Hell's em homenagem a ele, chorando muito. "Ô menininho, eu sou seu fã", gritava Grace Lesada, na última música dedicada a ele. Andrea Gram tocou uma entrevista com ele e abriu o microfone para lembrar da personalidade de Alfred. As homenagens não param: amanhã, um chill-in especial no Cube reúne Paula, George Actv, Renato Lopes e Gil Barbara.



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