|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"REFLEXÕES..."
O brinquedo e a produção da mercadoria
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na fronteira da Espanha com a França,
em 1940, Walter Benjamin
tomou overdose de morfina
suicidando-se para não cair
nas mãos da Gestapo hitlerista. Se o desesperado gesto
foi ou não precipitado não
importa; importa é que uma
das mais cintilantes inteligências européias teve um
desfecho trágico antes de
completar 50 anos.
Aos 21, ele já despontava
como uma fera no exercício
da crítica da cultura, com
um olhar arguto e inteligente, como é o caso de uma sacada sobre a vida dos estudantes: "um fato deve ser
destacado como notável e
espantoso: como na instituição acadêmica a totalidade
dos alunos e dos professores,
à semelhança de um gigantesco jogo de esconde-esconde, passam uns pelos outros e nunca se enxergam".
Mas o lance notável neste
livro é a reflexão sobre o
brinquedo infantil, sua história cultural e o seu entrosamento com o sistema de
produção de mercadoria em
que fica escancarada a célebre divisa, segundo a qual a
criança é o pai do homem.
Ao contrário do que se
ventila por aí, não há um
abismo a separar os jogos infantis do universo dos adultos, pois, afinal, são estes que
dão pela primeira vez às
crianças os brinquedos.
Procedendo a uma classificação filosófica da lúdica infantil, Benjamin mostra que
a anatomia dos brinquedos
pode revelar as entranhas da
cultura e da sociedade. Não é
inocente o progressivo tamanho gigante dos industrializados brinquedos, os
quais "vão perdendo aos
poucos o elemento discreto,
minúsculo e sonhador".
Benjamin extraiu daí uma
formulação genial: quanto
mais avança a industrialização, mais o brinquedo se
subtrai ao controle familiar:
dos pais e das crianças.
(GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS)
Reflexões sobre a Criança,
o Brinquedo e a Educação
Autor: Walter Benjamin
Lançamento: 34
Quanto: R$ 23 (176 págs.)
Texto Anterior: "Walter Benjamin: Tradução e Melancolia": Obra tematiza a teoria da tradução de Benjamin Próximo Texto: Artigo: "Nazarín" é ato de fé pela humanidade de Luis Buñuel Índice
|