São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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"REFLEXÕES..."

O brinquedo e a produção da mercadoria

ESPECIAL PARA A FOLHA

Na fronteira da Espanha com a França, em 1940, Walter Benjamin tomou overdose de morfina suicidando-se para não cair nas mãos da Gestapo hitlerista. Se o desesperado gesto foi ou não precipitado não importa; importa é que uma das mais cintilantes inteligências européias teve um desfecho trágico antes de completar 50 anos.
Aos 21, ele já despontava como uma fera no exercício da crítica da cultura, com um olhar arguto e inteligente, como é o caso de uma sacada sobre a vida dos estudantes: "um fato deve ser destacado como notável e espantoso: como na instituição acadêmica a totalidade dos alunos e dos professores, à semelhança de um gigantesco jogo de esconde-esconde, passam uns pelos outros e nunca se enxergam".
Mas o lance notável neste livro é a reflexão sobre o brinquedo infantil, sua história cultural e o seu entrosamento com o sistema de produção de mercadoria em que fica escancarada a célebre divisa, segundo a qual a criança é o pai do homem.
Ao contrário do que se ventila por aí, não há um abismo a separar os jogos infantis do universo dos adultos, pois, afinal, são estes que dão pela primeira vez às crianças os brinquedos.
Procedendo a uma classificação filosófica da lúdica infantil, Benjamin mostra que a anatomia dos brinquedos pode revelar as entranhas da cultura e da sociedade. Não é inocente o progressivo tamanho gigante dos industrializados brinquedos, os quais "vão perdendo aos poucos o elemento discreto, minúsculo e sonhador".
Benjamin extraiu daí uma formulação genial: quanto mais avança a industrialização, mais o brinquedo se subtrai ao controle familiar: dos pais e das crianças. (GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS)


Reflexões sobre a Criança, o Brinquedo e a Educação     
Autor: Walter Benjamin
Lançamento: 34
Quanto: R$ 23 (176 págs.)




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