São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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TEATRO

Companhia leva ao palco livro do criminalista Luís Francisco Carvalho Filho

Grupo encena contos sobre Justiça

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Acaso ou sincronicidade, os bastidores do Poder Judiciário flagrados pelo documentário "Justiça" (2004), de Maria Augusta Ramos, em exibição, tangenciam os contos de "Nada Mais Foi Dito Nem Perguntado" (2001, ed. 34), do escritor e advogado criminalista Luís Francisco Carvalho Filho, articulista da Folha, livro que ganha versão para o teatro nas mãos do grupo Folias d'Arte.
São 13 contos em que Carvalho Filho esmiúça, na forma de diálogos, ritos processuais (julgamentos, defesas, acusações, enfim, o universo forense que conhece por ofício).
Em comum, as narrativas como que não têm fim. Cada uma delas termina com um corte abrupto ou reticente. Invariavelmente, o juiz tem a última palavra: "Nada mais foi dito...". Nem perguntado.
"Os contos mostram um instante do processo, não chegam ao julgamento", diz Carvalho Filho.
No conto "Filha", o juiz pergunta se a testemunha praticou sexo anal. Em "Pederasta", um policial acusa de ato obsceno dois rapazes que estavam dentro de um carro, à noite, fazendo não se sabe o quê, pois o policial nada viu e tudo intuiu conforme sua moral.
E por aí vão as contradições da lei dos homens, caso a caso, com seus personagens recorrentes: o juiz, o advogado, o promotor, o réu, a testemunha, o júri etc. E sua linguagem inacessível, de termos como querelado, aquele contra quem se move ação penal.
"O linguajar é fechado, deixa réus, testemunhas e júri perdidos no rito, impotentes diante das manipulações", diz Dagoberto Feliz, um dos diretores. "Daí o terror diante do desconhecido. Qualquer cidadão que entra numa dessas instituições se apequena, mesmo que nada deva."
Nesse espetáculo, o Folias experimenta a encenação colegiada. São vários os diretores, que repartiram os contos e criaram seqüência distinta da do livro, de modo que as primeiras cenas acontecem no tribunal e avançam para o banheiro de um fórum, onde um advogado se queixa da falta de papel higiênico e promete encaminhar uma representação.


NADA MAIS FOI DITO NEM PERGUNTADO. Texto: Luís Francisco Carvalho Filho. Direção: Ailton Graça, Atílio Beline Vaz, Bruno Perillo, Carlos Francisco, Dagoberto Feliz e Gabriel Carmona. Com: Folias d'Arte. Onde: teatro Jardim São Paulo (av. Leôncio de Magalhães, 382, Jardim São Paulo, tel. 0/xx/11/6959-2952). Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 29/8. Quanto: R$ 15 e R$ 20 (sáb.).


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