|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Companhia leva ao palco livro do criminalista Luís Francisco Carvalho Filho
Grupo encena contos sobre Justiça
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Acaso ou sincronicidade, os
bastidores do Poder Judiciário
flagrados pelo documentário
"Justiça" (2004), de Maria Augusta Ramos, em exibição, tangenciam os contos de "Nada Mais Foi
Dito Nem Perguntado" (2001, ed.
34), do escritor e advogado criminalista Luís Francisco Carvalho
Filho, articulista da Folha, livro
que ganha versão para o teatro
nas mãos do grupo Folias d'Arte.
São 13 contos em que Carvalho
Filho esmiúça, na forma de diálogos, ritos processuais (julgamentos, defesas, acusações, enfim, o
universo forense que conhece por
ofício).
Em comum, as narrativas como
que não têm fim. Cada uma delas
termina com um corte abrupto ou
reticente. Invariavelmente, o juiz
tem a última palavra: "Nada mais
foi dito...". Nem perguntado.
"Os contos mostram um instante do processo, não chegam ao
julgamento", diz Carvalho Filho.
No conto "Filha", o juiz pergunta se a testemunha praticou sexo
anal. Em "Pederasta", um policial
acusa de ato obsceno dois rapazes
que estavam dentro de um carro,
à noite, fazendo não se sabe o quê,
pois o policial nada viu e tudo intuiu conforme sua moral.
E por aí vão as contradições da
lei dos homens, caso a caso, com
seus personagens recorrentes: o
juiz, o advogado, o promotor, o
réu, a testemunha, o júri etc. E sua
linguagem inacessível, de termos
como querelado, aquele contra
quem se move ação penal.
"O linguajar é fechado, deixa
réus, testemunhas e júri perdidos
no rito, impotentes diante das
manipulações", diz Dagoberto
Feliz, um dos diretores. "Daí o terror diante do desconhecido.
Qualquer cidadão que entra numa dessas instituições se apequena, mesmo que nada deva."
Nesse espetáculo, o Folias experimenta a encenação colegiada.
São vários os diretores, que repartiram os contos e criaram seqüência distinta da do livro, de modo
que as primeiras cenas acontecem
no tribunal e avançam para o banheiro de um fórum, onde um advogado se queixa da falta de papel
higiênico e promete encaminhar
uma representação.
NADA MAIS FOI DITO NEM
PERGUNTADO. Texto: Luís Francisco
Carvalho Filho. Direção: Ailton Graça,
Atílio Beline Vaz, Bruno Perillo, Carlos
Francisco, Dagoberto Feliz e Gabriel
Carmona. Com: Folias d'Arte. Onde:
teatro Jardim São Paulo (av. Leôncio de
Magalhães, 382, Jardim São Paulo, tel.
0/xx/11/6959-2952). Quando: estréia
amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h;
até 29/8. Quanto: R$ 15 e R$ 20 (sáb.).
Texto Anterior: Música: Sons "doidos" de Valle e Donato voltam a convergir Próximo Texto: Mundo gourmet: Vila Lina leva os Jardins a Santana, mas requer ajustes Índice
|