São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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CDS

MPB

"Alma Negra" tem músicas inéditas de Martinho da Vila e Dona Ivone Lara

Jair Rodrigues se dedica ao sambão rasgado em novo CD

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Talvez o sorriso mais aberto e contagiante da música brasileira, Jair Rodrigues pode se orgulhar de pelo menos uma vantagem sobre quase todos os seus contemporâneos, intérpretes, músicos ou compositores: aos 66 anos, mantém até hoje o mesmo nível de qualidade e coerência em sua carreira, quase 40 anos depois da primeira vez em que subiu em um palco para se apresentar como crooner no interior de São Paulo.
Recém-lançado pela gravadora Trama, "Alma Negra" é o seu 43º disco de carreira, segundo suas contas. Por disco de carreira, entenda-se álbum como daqueles que se tornaram cada vez mais raros entre os músicos de sua geração: recheado de músicas inéditas, com uma unidade.
Ele comenta: "Sempre gravei um disco de carreira por ano. Nos anos 60, cheguei a lançar dois ou três no mesmo ano. O disco de carreira sempre é o que tem uma importância maior para mim porque gosto muito de lançar composições novas, dar continuidade ao meu repertório. Não quero ficar cantando música dos outros cantores. Nesse disco estou lançando 11 inéditas. As outras três são quase inéditas -pouco conhecidas e pouco gravadas, inclusive uma linda e esquecida do mestre Ary Barroso".
Entre os compositores que aparecem com faixas inéditas no álbum, estão Martinho da Vila e Dona Ivone Lara. Algumas das músicas já estavam guardadas com o cantor havia tempos, só aguardando o momento de ver a luz do sol.
"Sempre tive essa pachorra de ligar para as pessoas e pedir uma música. Geralmente me perguntam que estilo eu quero; eu respondo: "Manda umas quatro, cinco, que eu ouço e ponho tudo no meu estilo". Aí vou guardando tudo. Quando chega a hora de gravar inéditas, vou lá no baú. Aí, ouço, faço a relação das que gostei mais e ligo para os compositores para confirmar se as músicas ainda são inéditas", conta Jair, sobre o processo de seleção.
Uma das principais características deste novo disco é seu lado assumido de sambão rasgado, mesmo tendo seus momentos de jongo, moda de viola caipira, brega clichê de churrascaria. O tom é de mãos para cima, levanta-auditório, festival.
Sobre o samba, Jair explica a presença no disco novo e se lembra que é um gosto que vem da época de crooner. "Quando eu cantava na noite, em São Carlos, tinha que cantar de tudo, mas o que mais gostava era do samba. Essa idéia toda para esse disco nasceu um dia depois de a Daniela Mercury dizer para mim que me adorava cantando samba. Meus filhos, Jair e Luciana, também me encorajaram a fazer um disco assim. O Caçulinha sempre me pergunta: "E aí, quando vai gravar aquele disco de samba?", e eu sempre respondo: "Fica frio que uma hora sai". Taí."
E tudo funciona. O vozeirão de Jair é perfeito para o espírito batucada e o seu charme leva bem os outros estilos. Grande momento surge em "Alma Negra", levada por percussão preguiçosa, quase axé, e sua filha Luciana Mello fazendo bonito em participação. Outro ponto alto é "Doce Margarida", tocada com guitarra, suingue de samba e batida seca de rock, com ótima participação de Max de Castro.
Além do disco, vale lembrar que Jair passa o mês fazendo temporada de shows no Bar Brahma (av. São João, 667, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3333-0855), todas as terças-feiras.


Alma Negra
   
Artista: Jair Rodrigues
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 24, em média


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