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CDS
MPB
"Alma Negra" tem músicas inéditas de Martinho da Vila e Dona Ivone Lara
Jair Rodrigues se dedica ao sambão rasgado em novo CD
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Talvez o sorriso mais aberto
e contagiante da música brasileira, Jair Rodrigues pode se orgulhar de pelo menos uma vantagem sobre quase todos os seus
contemporâneos, intérpretes,
músicos ou compositores: aos 66
anos, mantém até hoje o mesmo
nível de qualidade e coerência em
sua carreira, quase 40 anos depois
da primeira vez em que subiu em
um palco para se apresentar como crooner no interior de São
Paulo.
Recém-lançado pela gravadora
Trama, "Alma Negra" é o seu 43º
disco de carreira, segundo suas
contas. Por disco de carreira, entenda-se álbum como daqueles
que se tornaram cada vez mais raros entre os músicos de sua geração: recheado de músicas inéditas, com uma unidade.
Ele comenta: "Sempre gravei
um disco de carreira por ano. Nos
anos 60, cheguei a lançar dois ou
três no mesmo ano. O disco de
carreira sempre é o que tem uma
importância maior para mim
porque gosto muito de lançar
composições novas, dar continuidade ao meu repertório. Não quero ficar cantando música dos outros cantores. Nesse disco estou
lançando 11 inéditas. As outras
três são quase inéditas -pouco
conhecidas e pouco gravadas, inclusive uma linda e esquecida do
mestre Ary Barroso".
Entre os compositores que aparecem com faixas inéditas no álbum, estão Martinho da Vila e
Dona Ivone Lara. Algumas das
músicas já estavam guardadas
com o cantor havia tempos, só
aguardando o momento de ver a
luz do sol.
"Sempre tive essa pachorra de
ligar para as pessoas e pedir uma
música. Geralmente me perguntam que estilo eu quero; eu respondo: "Manda umas quatro, cinco, que eu ouço e ponho tudo no
meu estilo". Aí vou guardando tudo. Quando chega a hora de gravar inéditas, vou lá no baú. Aí, ouço, faço a relação das que gostei
mais e ligo para os compositores
para confirmar se as músicas ainda são inéditas", conta Jair, sobre
o processo de seleção.
Uma das principais características deste novo disco é seu lado assumido de sambão rasgado, mesmo tendo seus momentos de jongo, moda de viola caipira, brega
clichê de churrascaria. O tom é de
mãos para cima, levanta-auditório, festival.
Sobre o samba, Jair explica a
presença no disco novo e se lembra que é um gosto que vem da
época de crooner. "Quando eu
cantava na noite, em São Carlos,
tinha que cantar de tudo, mas o
que mais gostava era do samba.
Essa idéia toda para esse disco
nasceu um dia depois de a Daniela Mercury dizer para mim que
me adorava cantando samba.
Meus filhos, Jair e Luciana, também me encorajaram a fazer um
disco assim. O Caçulinha sempre
me pergunta: "E aí, quando vai
gravar aquele disco de samba?", e
eu sempre respondo: "Fica frio
que uma hora sai". Taí."
E tudo funciona. O vozeirão de
Jair é perfeito para o espírito batucada e o seu charme leva bem os
outros estilos. Grande momento
surge em "Alma Negra", levada
por percussão preguiçosa, quase
axé, e sua filha Luciana Mello fazendo bonito em participação.
Outro ponto alto é "Doce Margarida", tocada com guitarra, suingue de samba e batida seca de
rock, com ótima participação de
Max de Castro.
Além do disco, vale lembrar que
Jair passa o mês fazendo temporada de shows no Bar Brahma (av.
São João, 667, São Paulo, tel. 0/
xx/11/3333-0855), todas as terças-feiras.
Alma Negra
Artista: Jair Rodrigues
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 24, em média
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