BRUNA BITTENCOURT
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi se apropriando de gêneros distantes do rock que o projeto francês Nouvelle Vague criou releituras inusitadas de sucessos do punk rock e da new wave. Primeiro, o grupou tomou emprestado a batida da bossa nova para seu álbum de estreia, "Nouvelle Vague". Depois, flertou com ritmos caribenhos em "Bande à Part". Em seu terceiro disco, "3", recém-lançado na Europa, a música country é a base para os arranjos dos covers, que vão de Talking Heads aos Sex Pistols. "Não era exatamente a bossa nova, mas seu espírito que tentamos dar aos nossos arranjos. É a mesma coisa com o country neste disco", disse à Folha o produtor Marc Collin, que, com o músico Olivier Libaux, forma a dupla por trás da Nouvelle Vague. Em "3", a ruidosa e controversa "God Save the Queen", dos Sex Pistols, torna-se uma balada inofensiva na voz de Melanie Pain, uma das cantoras que dá voz ao projeto. "Blister in the Sun", do Violent Femmes, perde a urgência de sua gravação original e "Road to Nowhere", dos Talking Heads, ganha a melancolia da música country. Em "3", há a participação de alguns dos cantores originais das faixas que o grupo recria, em duetos com vozes femininas, marca do grupo. Martin Gore, do Depeche Mode, gravou com Pain "Master and Servant". Ian McCulloch, do Echo and The Bunnymen, recriou, com a cantora francesa, "All My Colours". "Foi um pouco emocionante. Eles eram meus heróis quando eu era jovem", conta Collin. Impulsionado por um repertório já conhecido, o grupo vendeu meio milhão de cópias de seus dois primeiros álbuns e se apresentou duas vezes por aqui. "Na segunda vez [em 2007], tocamos em São Paulo com ingressos esgotados e o show no Rio foi talvez nosso melhor show até hoje. As pessoas foram dançar no palco." O grupo, segundo o produtor, volta ao país em novembro. Collin, no entanto, tem dúvidas sobre o futuro do projeto e o desgaste de sua receita para covers. "Desde o começo nós dizíamos que seria provavelmente nosso último disco. Claro que podemos fazer outros álbuns. O público talvez goste, mas tenho certeza que a mídia não. Nós temos que achar outra boa ideia."