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COMPORTAMENTO
Casas apostam em jovens atendentes com visual moderninho e postura "interativa" como diferencial
Novos garçons servem comida e atitude
JULIANA CALDERARI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Aquela imagem do garçom sério, de gravata borboleta e uniforme impecável, já não é mais lei
nos restaurantes de São Paulo.
Ecléticos como a população e sua
cidade, os garçons de hoje são
moderninhos, cantores, festeiros
e alguns parecem prontos para fazer uma nova amizade. Na maioria jovens e universitários, eles fazem do atendimento diferenciado
um poderoso atrativo no concorrido mundo dos restaurantes.
No moderno Skye, restaurante
do hotel Unique, há garçons com
piercings, tatuagens e cabelos coloridos, como Andréia Tiozezan,
24. Formada em hotelaria e cursando pós-graduação na área, ela
ouve com freqüência perguntas
sobre seu cabelo "vermelhaço".
"É de verdade?", brincam os
clientes.
Apesar do visual de sua brigada,
o serviço do Skye é formal. Enio,
39, maître, acredita que por serem
mais espontâneos, os garçons
moderninhos ajudam a desmistificar os restaurantes dos hotéis de
alto nível. "Muita gente não freqüenta esse tipo de lugar com medo de se sentir deslocado pelo excesso de formalidade. Alguns têm
medo até de não saberem se comportar à mesa, mas quando vêm
aqui, percebem que é tudo bobagem", explica.
Apostando também na interação com os clientes, muitos estabelecimentos adotam o estilo
"garçom amigo". Em ambientes
informais, como o da franquia
americana Outback Steakhouse,
os garçons se apresentam,
apoiam-se na mesa para tirar os
pedidos e quando há liberdade,
até se sentam para conversar.
Isso tudo para que o cliente se
sinta em casa. Daniel Garritano
Mendes, 23, waiter (como são
chamados), conta que é comum
os freqüentadores mais assíduos
acompanharem a equipe a baladas depois do expediente.
Ainda mais animado é o T.G.I.
Friday's, outra franquia americana. Lá é comum ver os garçons subindo em cadeiras e dançando
com os clientes. A diversão chega
ao máximo na comemoração de
um aniversário: a equipe se reúne
em volta da mesa para cantar os
parabéns. O resto do restaurante,
não raro, acompanha a cantoria.
Capazes de deixar até os mais
extrovertidos encabulados, algumas vezes são os próprios funcionários que caem na armadilha. A
garçonete Valquíria Dias Brandão, 25, já parabenizou o rapaz errado. "O melhor foi que, mesmo
sem entender nada, ele continuou
na farra e subiu na cadeira para
cantar junto", diverte-se.
Alguns restaurantes incrementam suas equipes ao contratar
cantores e atores para atuar como
garçons. O mais recente a adotar
os jovens performáticos foi o
Fran's Café. No endereço da Cidade Jardim, a trilha sonora é MPB
(Chico Buarque e Gilberto Gil, entre outros) e são relembradas canções que já fizeram parte do repertório de novelas. A novidade
tem agradado tanto que o proprietário José Munhoz Junior, 35,
já pensa em esticar a temporada,
antes programada para ficar até o
início de setembro.
Para os amantes dos grandes
musicais, a opção é o restaurante
Brooklin. Acompanhados por
pianos e violões, os garçons protagonizam cenas de espetáculos
da Broadway, como "Grease" e
"O Fantasma da Ópera". "Não é
"playback'", avisa João José Correia, 35, maître da casa. "Temos
um diretor artístico que ensaia as
músicas e as coreografias." O improviso fica por conta dos freqüentadores mais animados que
pedem para participar do show.
"Muitas vezes, achamos que a
pessoa vai cantar mal, mas acaba
sendo melhor que o próprio cantor. Por outro lado, já aconteceu
de um rapaz se empolgar demais
com uma canção dos Beatles e dar
o maior vexame", conta.
Apesar de ter perdido espaço, o
serviço formal tem lugar garantido nos estabelecimentos mais tradicionais. "Os clientes mais antigos gostam de encontrar aquele
mesmo garçom, que já sabe qual é
seu prato preferido e em que mesa
ele gosta de sentar", afirma Denis
de Oliveira, 30, há 12 anos no Antiquarius. Para isso, é essencial
que a equipe seja a mesma no almoço e no jantar. "Fica muito puxado, é difícil para um universitário agüentar", explica.
No Le Coq Hardy, outro endereço que não quer saber de novidades, parece ser nula a possibilidade de haver garçons descolados
circulando pelo salão. Pelo menos
é o que afirma um dos maîtres da
casa, Darci da Costa, 35. "Eles são
muito jovens, têm 18 ou 19 anos, e
não têm responsabilidade. A
maioria é de boys e, quando chega
um sábado ou feriado, não aparecem", justifica. Como se vê, já não
se fazem mais garçons como antigamente.
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