São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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COMPORTAMENTO

Casas apostam em jovens atendentes com visual moderninho e postura "interativa" como diferencial

Novos garçons servem comida e atitude

JULIANA CALDERARI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aquela imagem do garçom sério, de gravata borboleta e uniforme impecável, já não é mais lei nos restaurantes de São Paulo. Ecléticos como a população e sua cidade, os garçons de hoje são moderninhos, cantores, festeiros e alguns parecem prontos para fazer uma nova amizade. Na maioria jovens e universitários, eles fazem do atendimento diferenciado um poderoso atrativo no concorrido mundo dos restaurantes.
No moderno Skye, restaurante do hotel Unique, há garçons com piercings, tatuagens e cabelos coloridos, como Andréia Tiozezan, 24. Formada em hotelaria e cursando pós-graduação na área, ela ouve com freqüência perguntas sobre seu cabelo "vermelhaço". "É de verdade?", brincam os clientes.
Apesar do visual de sua brigada, o serviço do Skye é formal. Enio, 39, maître, acredita que por serem mais espontâneos, os garçons moderninhos ajudam a desmistificar os restaurantes dos hotéis de alto nível. "Muita gente não freqüenta esse tipo de lugar com medo de se sentir deslocado pelo excesso de formalidade. Alguns têm medo até de não saberem se comportar à mesa, mas quando vêm aqui, percebem que é tudo bobagem", explica.
Apostando também na interação com os clientes, muitos estabelecimentos adotam o estilo "garçom amigo". Em ambientes informais, como o da franquia americana Outback Steakhouse, os garçons se apresentam, apoiam-se na mesa para tirar os pedidos e quando há liberdade, até se sentam para conversar.
Isso tudo para que o cliente se sinta em casa. Daniel Garritano Mendes, 23, waiter (como são chamados), conta que é comum os freqüentadores mais assíduos acompanharem a equipe a baladas depois do expediente.
Ainda mais animado é o T.G.I. Friday's, outra franquia americana. Lá é comum ver os garçons subindo em cadeiras e dançando com os clientes. A diversão chega ao máximo na comemoração de um aniversário: a equipe se reúne em volta da mesa para cantar os parabéns. O resto do restaurante, não raro, acompanha a cantoria.
Capazes de deixar até os mais extrovertidos encabulados, algumas vezes são os próprios funcionários que caem na armadilha. A garçonete Valquíria Dias Brandão, 25, já parabenizou o rapaz errado. "O melhor foi que, mesmo sem entender nada, ele continuou na farra e subiu na cadeira para cantar junto", diverte-se.
Alguns restaurantes incrementam suas equipes ao contratar cantores e atores para atuar como garçons. O mais recente a adotar os jovens performáticos foi o Fran's Café. No endereço da Cidade Jardim, a trilha sonora é MPB (Chico Buarque e Gilberto Gil, entre outros) e são relembradas canções que já fizeram parte do repertório de novelas. A novidade tem agradado tanto que o proprietário José Munhoz Junior, 35, já pensa em esticar a temporada, antes programada para ficar até o início de setembro.
Para os amantes dos grandes musicais, a opção é o restaurante Brooklin. Acompanhados por pianos e violões, os garçons protagonizam cenas de espetáculos da Broadway, como "Grease" e "O Fantasma da Ópera". "Não é "playback'", avisa João José Correia, 35, maître da casa. "Temos um diretor artístico que ensaia as músicas e as coreografias." O improviso fica por conta dos freqüentadores mais animados que pedem para participar do show.
"Muitas vezes, achamos que a pessoa vai cantar mal, mas acaba sendo melhor que o próprio cantor. Por outro lado, já aconteceu de um rapaz se empolgar demais com uma canção dos Beatles e dar o maior vexame", conta.
Apesar de ter perdido espaço, o serviço formal tem lugar garantido nos estabelecimentos mais tradicionais. "Os clientes mais antigos gostam de encontrar aquele mesmo garçom, que já sabe qual é seu prato preferido e em que mesa ele gosta de sentar", afirma Denis de Oliveira, 30, há 12 anos no Antiquarius. Para isso, é essencial que a equipe seja a mesma no almoço e no jantar. "Fica muito puxado, é difícil para um universitário agüentar", explica.
No Le Coq Hardy, outro endereço que não quer saber de novidades, parece ser nula a possibilidade de haver garçons descolados circulando pelo salão. Pelo menos é o que afirma um dos maîtres da casa, Darci da Costa, 35. "Eles são muito jovens, têm 18 ou 19 anos, e não têm responsabilidade. A maioria é de boys e, quando chega um sábado ou feriado, não aparecem", justifica. Como se vê, já não se fazem mais garçons como antigamente.


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