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GUILHERME WISNIK
Do petróleo ao resort
Emirados Árabes Unidos representam apoteose dos valores neoliberais associada ao despotismo do Oriente
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O ORIENTE Médio, como se sabe, representa o maior foco
de resistência à dominação
ocidental do mundo. Não por acaso,
está no centro do conflito geopolítico contemporâneo. No entanto, em
pleno Golfo Pérsico, desenvolve-se
em ritmo frenético um conjunto de
cidades-estado que compõem os
chamados Emirados Árabes Unidos:
oásis ultra-ocidentalizados que vêm
se tornando o principal destino turístico de luxo do mundo. São "ilhotes de prosperidade" em um oceano
de tormentas, como diz o editorial
da revista espanhola "Arquitectura
Viva", que dedica seu último número ao tema.
Com uma das rendas per capita
mais altas do mundo (US$ 46 mil
por ano), o emirado de Abu Dhabi,
por exemplo, responde por 9% das
reservas mundiais de petróleo e ancora sua urbanização em espetaculares museus-franquia, tais como o
Guggenheim e o Louvre, com projetos dos arquitetos Frank O. Gehry,
Zaha Hadid, Jean Nouvel e Tadao
Ando. Dubai também apresenta situação semelhante e atualmente reforma seu aeroporto para receber
120 milhões de passageiros ao ano,
representando o segundo maior
"boom" imobiliário do planeta, só
abaixo de Xangai, que tem dez vezes
a sua população. Governada por um
príncipe extravagante, constrói o
edifício mais alto do planeta (Burj
Dubai, com 808 metros), a maior
pista de esqui artificial jamais vista e
diversos parques temáticos em ilhas
artificiais em forma de palmeiras,
mapas-múndi e outras figuras.
Mas como um local tão castigado
pelo calor e assolado por freqüentes
tempestades de areia pode se tornar
pólo de atração turística? Absolutamente fabricadas pelo dinheiro e pelo marketing, essas cidades-resort
contam com uma localização geográfica favorável: estão, por exemplo, num ponto médio entre Moscou e Nova Déli, ou entre Londres e
Pequim. Com uma companhia aérea
eficiente, impostos amenos, segurança garantida e uma relativa permissividade em relação a álcool e
drogas, os Emirados Árabes inventaram um novo centro de convergência mundial, nublando a antiga
separação entre Ocidente e Oriente.
Aprendendo com Singapura e
Hong Kong, essas cidades-estado se
tornaram estados-empresa. E, conscientes de que as reservas de petróleo vão se esgotar, passaram a investir em valor "perene": o turismo de
luxo, fomentando as indústrias imobiliária e de consumo de alto padrão.
Contudo, há ainda uma outra explicação para o sucesso desses enclaves
em uma região conflituosa: a mão-de-obra semi-escrava.
Os Emirados Árabes representam
a apoteose dos valores neoliberais
potencializados pelo despotismo
oriental, pois desenvolveram o sistema mais "avançado" do mundo em
matéria de privação dos direitos trabalhistas. Em situação extremamente frágil, levas de imigrantes paquistaneses, afegãos, palestinos e
iraquianos têm seus passaportes
confiscados logo na entrada do país,
podendo ser imediatamente deportados ao menor sinal de sublevação.
Conseqüentemente, cumprem jornadas de trabalho massacrantes e
moram em cativeiros piores que os
da Babilônia.
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