São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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Béla Tarr afirma que vai parar de filmar

Premiado em Berlim, o húngaro conta à Folha que abrirá escola e se dedicará a produzir cineastas iniciantes

Ele afirma que "O Cavalo de Turim", exibido hoje em sua retrospectiva no Festival do Rio, será o seu último filme

BRUNO GHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Os pintores me ensinaram muito mais sobre cinema do que os cineastas."
A frase até poderia surpreender se não tivesse sido dita pelo diretor húngaro Béla Tarr, 56, conhecido por seus filmes com imagens poéticas, belas, como se cada enquadramento fosse uma pintura.
O cineasta é um dos homenageados do Festival do Rio, que traz uma retrospectiva com "Satantango" (1994) e "Harmonias de Werckmeister" (2000), entre outros.
"O Cavalo de Turim", prêmio especial do júri em Berlim, é o destaque de hoje.
"É meu último filme. Agora, vou me dedicar a produzir cineastas iniciantes e abrir uma escola de cinema", diz à Folha, por telefone, de Budapeste -problemas de agenda o impediram de vir ao Brasil.
"O Cavalo de Turim" tem como ponto de partida um evento que teria desencadeado o colapso mental do filósofo Nietzsche (1844-1900).
Foi visto por muitos como um filme-testamento de Tarr, com uma súmula de seu estilo e suas inquietações. "Após esse filme, tenho a sensação de que é hora de parar, de que meu trabalho já foi feito."
Tarr começou a carreira nos anos 1970 e chamou a atenção por seu cinema austero e filosófico, com personagens oprimidos por questões concretas e metafísicas.
Encarar seus filmes até o fim é quase um ato de bravura aos habituados ao cinema comercial: têm planos longuíssimos, pouca ação e diálogos escassos.
Uma boa dose de cafeína é aconselhável: são em geral filmes muito longos ("Satantango", por exemplo, dura mais de sete horas). Mas os que chegam ao final não costumam se arrepender e veem imagens de força incomum.
"Nos planos longos, tem-se uma tensão especial. A concentração exigida é maior. Além disso, ocorre uma montagem que não se percebe: uma paisagem, após alguns minutos, dá lugar a um outro espaço -o corte é feito fora da mesa de edição", diz o diretor, que não recorre a roteiro ou storyboards.
"Na locação, imagino e planejo as cenas, discuto com a equipe. Até admito improvisos dos atores, mas jamais por parte dos técnicos."
Ele não vê problemas em reiniciar uma tomada longa do início se um detalhe não sai como esperado. "Às vezes, só se chega à sequência definitiva após dias de tentativa."
É difícil ignorar traços de Andrei Tarkovski e Miklós Jancsó em seus filmes, mas Tarr prefere dizer que a pintura foi sua grande influência. "A maioria dos diretores se preocupa só com a história. Os pintores têm outro foco: tudo na tela é informação, é importante. A história, quem se importa com ela?"

O CAVALO DE TURIM
DIREÇÃO Béla Tarr
PRODUÇÃO Hungria, 2011
QUANDO hoje, às 14h, no IMS (veja endereços e programação em www.festivaldorio.com.br)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos



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