|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rio e SP concentram repasse direto do MinC
Acumulação de recursos em 2009 contradiz propostas de reforma para Lei Rouanet
Conforme pesquisa da
Folha, empresas, pessoas
físicas, órgãos públicos e
ONGs de Rio e SP receberam
R$ 199 mi e R$ 172 mi
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Faça o que eu digo, não o que
eu faço. Essa parece ser a receita do MinC (Ministério da Cultura) para reformar a Lei Rouanet, já que a distribuição de recursos da pasta destinados ao
fomento no ano passado privilegiou o eixo Rio-São Paulo,
prática que contradiz a cantilena de seu titular, Juca Ferreira.
Desde o início dos debates
sobre a mudança na lei, o governo tem criticado a concentração de verbas das empresas
nessas duas capitais.
Fora do Sudeste, o Estado
mais contemplado pelo MinC
em 2009 foi justamente a Bahia, base política do ministro e
de seu antecessor, Gilberto Gil,
ambos filiados ao PV. Criada
em 1991, a Lei Rouanet possibilita à iniciativa privada aplicar
uma parte de seu Imposto de
Renda em ações culturais.
Conforme levantamento da
Folha com base na execução
orçamentária da União, os pagamentos efetuados pelo MinC
por ordem bancária para municípios (excluídas as transferências constitucionais), aquelas
em que a pasta é senhora de
seus recursos, privilegiaram os
tradicionais polos.
Empresas, pessoas físicas,
órgãos públicos e ONGs sediadas no Rio e em São Paulo receberam R$ 199 milhões e R$ 172
milhões respectivamente em
pagamentos do MinC em 2009
(veja quadro nesta página).
A título de comparação, Rio
Branco (AC) levou R$ 3,5 milhões; Campo Grande (MS), R$
4,4 milhões; Maceió (AL) recebeu R$ 8,8 milhões; Aracaju
(SE), R$ 2,3 milhões; e Manaus
(AM), pouco mais de R$ 1 mi.
Mesmo ressalvada a força
econômica de Rio e São Paulo, o
levantamento revela a deformação atual nos negócios da
cultura no país, pois, juntas, as
24 demais capitais, receberam
R$ 187 milhões em pagamentos, portanto, abaixo do destinado ao eixo do Sudeste.
Segundo o Siafi (sistema de
acompanhamento dos gastos
públicos), a quase totalidade
dos pagamentos refere-se aos
programas de incentivo e fomento da pasta, como o Brasil
Patrimônio Cultural, o Cinema
Som e Vídeo, o Engenho das Artes e o Monumenta.
Do total recebido pelo Rio,
R$ 71 milhões foram para empresas do setor privado, como,
por exemplo, a produtora de cinema Conspiração Filmes,
uma das mais prestigiadas do
país. Ela recebeu R$ 519 mil,
sendo boa parte como "adicional de renda" por conta de seu
"desempenho de bilheteria"
em filmes como "Xuxa em Sonho de Menina" (2007).
O ministério não informou a
relação entre os pedidos de auxílio feitos e os pedidos atendidos em cada cidade ou Estado e
disse que a concentração de recursos no Sudeste é maior no
caso da Lei Rouanet (leia texto
nesta página).
Base política
Para Salvador, terra natal do
ministro, o MinC enviou no
ano passado R$ 25 milhões em
pagamentos gerais.
Na relação verba/população,
São Paulo recebeu R$ 15,4 por
habitante, o Rio, R$ 26, e Salvador, R$ 8,3. Já Campo Grande,
por exemplo, ganhou R$ 6, e
Manaus, R$ 0,61.
Mas foram nas verbas repassadas para órgãos públicos que
o Estado da Bahia se destacou.
Ferreira é aliado do governador
Jaques Wagner (PT) e o PV
mantinha cargos na gestão.
Em 2009, o MinC transferiu
em ordens bancárias aos órgão
públicos baianos R$ 16 milhões. Com isso, a Bahia superou o Estado do Rio (R$ 3,7 milhões) e ficou atrás apenas de
São Paulo (R$ 25,6 milhões).
Na outra mão, Espírito Santo,
Paraíba e Roraima, por exemplo, nada receberam.
Texto Anterior: O outono de Nabuco Próximo Texto: Outro lado: Órgão diz que distorção vem caindo Índice
|