São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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Arte electro

Dupla americana Fischerspooner, que tocará, em SP, em abril, no festival Skol Beats, leva performances visuais a seus shows e agora é acompanhada por uma banda

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Eles têm um dos shows mais caros e extravagantes do planeta. Assinaram contrato milionário com uma gravadora logo em seu primeiro álbum -depois a gravadora quase faliu. Uma de suas músicas foi tocada em praticamente 99% dos clubes do mundo e ganhou versões rock, house, tecno e por aí vai. Eles são o Fischerspooner e estarão no Brasil no mês que vem, em disco e ao vivo.
O disco, "#1", será lançado pela EMI. Ao vivo, a dupla nova-iorquina se apresenta no Skol Beats, em 24 de abril, em São Paulo. Será o primeiro show do grupo não-exclusivamente digital; eles serão acompanhados por uma banda de verdade.
"São quatro músicos, mais os dançarinos. Quando fizemos o primeiro disco, tínhamos na cabeça gravar um álbum que fosse 100% feito por sintetizadores. Agora, queremos uma música mais quente, menos impessoal, por isso chamamos músicos. Ao vivo, será como os nossos shows do passado, mas, agora, com a diferença de que teremos uma banda...", diz Casey Spooner, ator, artista plástico e uma das metades do Fischerspooner. A outra é Warren Fischer, produtor, artista, filho de uma cantora de ópera e de um neurologista.
Entre esses "shows do passado", estão uma apresentação no tradicionalíssimo Royal Festival Hall, em Londres, em 2002, e outra, em Nova York, em 2001, que, segundo a imprensa local, custou US$ 250 mil. Foi o dinheiro necessário para bancar uma produção digna dos musicais da Broadway, que envolvia várias trocas de roupas, jogos de luzes, dezenas de dançarinos, sangue falso e canhões que disparam uma chuva de purpurina. Chegaram a comparar com o Cirque du Soleil.
Mas as coisas não foram sempre assim para Spooner e Fischer.
Nascido em Athens (cidade do R.E.M.), no Estado da Geórgia, Spooner trabalhou como ator em peças underground por oito anos. Realizava também performances em galerias de arte de Nova York e de Chicago, para apenas uma meia dúzia de "espectadores". Conheceu Fischer numa escola de arte de Chicago.
Os dois continuaram com as performances, mas, dessa vez, colocaram música (no caso, o electro, que estava ressurgindo na Europa) por cima.
"Nunca pretendemos construir uma carreira na indústria musical. Sempre fomos artistas fazendo música e performances. Era mais uma coisa de criar eventos excêntricos e, aos poucos, o público pedia mais músicas, então criamos mais músicas...", diz Spooner, por telefone, de Nova York.
"Era como uma continuação de minhas performances. As músicas eram ligadas aos efeitos visuais. Com as canções, sentia que formava uma conexão melhor com o público, que pulava e dançava, em vez de apenas permanecer parado, como numa performance normal", afirma Spooner, letrista e vocalista da dupla, cuja primeira incursão artística foi a gravação de "álbum falado", em 1992, em que ele recitava letras acompanhado por Warren ao violino ("Continuo fazendo a mesma coisa,só que agora posso falar um pouco mais alto").
O primeiro "show" foi numa loja Starbucks (a mais famosa franquia de cafés dos EUA), em Nova York, em 2000.
Cerca de um ano e meio depois e com fãs como Lou Reed e o artista plástico Jeff Koons, assinaram contrato com a gravadora inglesa Ministry of Sound. Por 1 milhão de libras. Quantia que depois quase levou o selo à falência, e o contrato de distribuição da dupla na Europa foi transferido para o conglomerado EMI (leia texto nesta página).
O álbum trouxe um cover ótimo da banda pós-punk Wire ("The 15th") e um hit forte, "Emerge". A música, de letra nonsense e hedonista, ganhou remixes de top DJs como Dave Clarke, Felix da Housecat e Tiga.
"Acho que ninguém tem a mínima idéia do que a letra significa. São idéias desconexas, mas há certa dose de emoção. E tem algumas partes bem atrativas, como a que eu digo "Uh-huh that's right". É uma música bem superficial, mas sensível."
Spooner diz que, no electro de melodias assumidamente bobas do Fischerspooner, também dá para "expressar emoções". "Mas, claro, você não vai escrever uma letra que seja uma novela ou um épico de ficção científica. Quando você se expressa de forma clara e sucinta, as pessoas o entendem facilmente."
O público -e o mundo fashion americano- parecem ter entendido o Fischerspooner. A Levi's chegou a confeccionar uma edição limitada de jeans "Fischerspooner". E o segundo disco do grupo sai em setembro.


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