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LITERATURA
Obras de autores consagrados, como Ian McEwan e Joyce Carol Oates, trazem atentados em suas tramas
Cenas do 11 de Setembro voltam literárias
EDWARD WYATT
DO "NEW YORK TIMES"
Depois de três anos do 11 de Setembro, o mundo literário começa a enfrentar os significados e
conseqüências do pior ataque terrorista já realizado nos EUA.
Meia dúzia de romances que
usam o 11 de Setembro e o período que se segue como elementos
centrais de suas tramas, de alguns
dos mais aclamados romancistas,
devem sair ainda neste ano. Número semelhante já chegou às livrarias nos últimos meses.
Em "Windows on the World"
(janelas para o mundo) (Miramax), Frédéric Beigbeder imagina
o café da manhã de um pai divorciado acompanhado pelos filhos
num restaurante do World Trade
Center. Em "The Good Priest's
Son" (o filho do bom pastor),
Reynold Price fala sobre um restaurador cujo vôo de volta para os
EUA é desviado para o Canadá na
manhã do 11 de Setembro, enquanto seu apartamento é varrido
pelos destroços do atentado.
Em "Saturday" (sábado) (Nan
A. Talese/Doubleday), de Ian
McEwan, pai e filha debatem se o
Iraque teve algum envolvimento
nos ataques de 11 de setembro.
"The Writing on the Wall" [a escrita na parede] (Counterpoint),
de Lynne Sharon Schwartz, retrata uma bibliotecária cujo mundo
protegido se dilacera quando ela
vê um avião atingindo o World
Trade Center. E em "Extremely
Loud and Incredibly Close" [extremamente alto e incrivelmente
perto] (Houghton Mifflin), de Jonathan Safran Foer, um menino
procura pela cidade a fechadura
para a chave que encontrou no armário do pai, morto no atentado.
O 11 de Setembro ganhou espaço em diversos veículos de mídia.
Músicos country demoraram
poucas semanas para lançar canções patrióticas, e outros tributos
musicais, poemas, peças, documentários e livros de não-ficção
em breve se seguiram. E, embora
os atentados tenham sido assunto
de livros de ficção de massa, como
os de mistério, só agora estão sendo publicados livros por autores
respeitados pela crítica.
"Algumas formas de arte se
prestam a um tratamento mais
imediato de um evento como o 11
de Setembro", escreveu James
Shapiro, professor de inglês na
Universidade Columbia. "Mas
um romance precisa fazer mais.
Um romancista precisa sustentar
uma história que pareça satisfatória às pessoas que realmente viveram aquele acontecimento."
Joyce Carol Oates, escritora e
crítica cujo conto "The Mutants"
[os mutantes] trata de uma mulher aprisionada em seu apartamento em Manhattan em 11 de setembro, disse que romances talvez não sejam a forma de arte
ideal para lidar com o tema. "A
melhor forma de arte para tratar
dos acontecimentos talvez seja o
cinema, porque consegue capturar a qualidade alucinatória daquelas longas horas de assédio."
Nenhum dos romances literários que se inspiram no 11 de Setembro conquistou grande número de leitores, até agora. Mas
dada a popularidade dos trabalhos anteriores de McEwan e
Foer, isso pode mudar.
O estilo livre e surrealista de
prosa que Foer emprega talvez seja o mais próximo que a literatura
pode chegar desse ideal alucinatório mencionado por Oates. O romance que ele está por publicar
incluirá páginas em branco, páginas contendo uma única sentença, páginas contendo apenas números e muitas fotos, entre as
quais, imagens manipuladas para
simular um corpo caindo do topo
do World Trade Center.
"Windows on the World" e
"The Third Brother" [o terceiro
irmão], de Nick McDonell, também tentam representar literalmente cenas dos ataques. Outros
optaram por uma abordagem
mais figurativa. O livro de McEwan, por exemplo, que se passa
muito depois do 11 de Setembro,
se inicia com um evento que se
presume seja obra de terroristas.
"Windows on the World", já é
best-seller na França, o país natal
de Beigbeder, sobre as tensões entre Paris e Washington em razão
dos eventos que se seguiram ao 11
de Setembro. "Se uma catástrofe
acontece, temos de torná-la útil,
de modo que possamos tentar
impedir que se repita. É preciso
compreendê-la, e por isso escrevi
esse romance", diz Beigbeder.
Mas diante de tantas pessoas conectadas às vítimas fatais do 11 de
Setembro, levar um leitor ao interior da torre do World Trade Center, pode evocar reações hostis.
"Me disseram que fazê-lo era
obsceno", conta o francês. "Mas
essa é a idéia de escrever ficção a
respeito da história. É chocante.
Não deveríamos ter medo de escrever sobre o que importa."
McDonell, 21, disse que soube
logo após o 11 de Setembro que
transformaria os ataques em tema
de livro. "Comecei a tomar notas
no dia seguinte", diz McDonell.
Shapiro destaca que embora
não haja regra quanto ao tempo
ideal para que se possa transformar em ficção um evento como o
11 de Setembro, os melhores romances que tomam eventos cataclísmicos por tema levaram anos
em desenvolvimento. Cita como
exemplo "The Things They Carried" [as coisas que eles carregavam], de Tim O'Brien sobre a
Guerra do Vietnã, de 1990, mais
ou menos duas décadas após os
eventos retratados.
Tradução Paulo Migliacci
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