São Paulo, quarta-feira, 09 de março de 2005

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ANÁLISE

Personagens "incorretos" dão audiência a novela

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O sucesso de mais uma produção "Riolywoodiana" não deixa dúvidas. Quarenta anos depois da inauguração da Rede Globo -a emissora que em 1970 levou a novela ao primeiro lugar em audiência-, o gênero permanece no topo da lista dos programas mais assistidos. Ao longo dessas quatro décadas, as convenções dramatúrgicas das novelas foram se alargando. O que no início eram referências a eventos da conjuntura -como a Copa de 70 em "Irmãos Coragem"- se tornou intervenção social.
A novela virou uma espécie de docudrama. Abriu espaço para a divulgação de campanhas de ação afirmativa, contra preconceitos em geral. Personagens se posicionam pela tolerância racial, de classe, de gênero. Advertem sobre os perigos e conseqüências da gravidez adolescente. Fazem propaganda do sexo seguro.
Já a denúncia da ineficiência corrupta dos políticos, que um dia foi novidade, hoje se tornou carne de vaca.
Em meio à crescente segmentação do mercado, a novela milagrosamente sobrevive. Insiste em buscar a unanimidade, mesmo que seja preciso criar roteiros nada realistas.
Guilhermina, a herdeira criada nos melhores colégios da Suíça, se delicia com uma coxinha de frango na Baixada: "Finalmente uma festa brasileira".
O caldo politicamente correto faz contraponto à libido desenfreada dos personagens. A sexualidade à flor da pele desde os tempos da chanchada garante bons índices no país do Carnaval.
Nesse universo onde tudo é permitido, destacam-se justamente as personagens que fogem à regra. As personagens queridas são as incorretas. Giovanni, o ex-bicheiro manso, avesso à norma culta, protetor a seu modo.
Nazaré, egoísta, tarada, desmiolada, de mau gosto, não aceita o figurino dominante do altruísmo. Leva ao extremo a tensão entre o desejo e a impossibilidade da família. E garante a audiência.


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