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ANÁLISE
Personagens "incorretos" dão audiência a novela
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
O sucesso de mais uma produção "Riolywoodiana" não
deixa dúvidas. Quarenta anos depois da inauguração da Rede Globo -a emissora que em 1970 levou a novela ao primeiro lugar em
audiência-, o gênero permanece
no topo da lista dos programas
mais assistidos. Ao longo dessas
quatro décadas, as convenções
dramatúrgicas das novelas foram
se alargando. O que no início
eram referências a eventos da
conjuntura -como a Copa de 70
em "Irmãos Coragem"- se tornou intervenção social.
A novela virou uma espécie de
docudrama. Abriu espaço para a
divulgação de campanhas de ação
afirmativa, contra preconceitos
em geral. Personagens se posicionam pela tolerância racial, de
classe, de gênero. Advertem sobre
os perigos e conseqüências da
gravidez adolescente. Fazem propaganda do sexo seguro.
Já a denúncia da ineficiência
corrupta dos políticos, que um
dia foi novidade, hoje se tornou
carne de vaca.
Em meio à crescente segmentação do mercado, a novela milagrosamente sobrevive. Insiste em
buscar a unanimidade, mesmo
que seja preciso criar roteiros nada realistas.
Guilhermina, a herdeira criada
nos melhores colégios da Suíça, se
delicia com uma coxinha de frango na Baixada: "Finalmente uma
festa brasileira".
O caldo politicamente correto
faz contraponto à libido desenfreada dos personagens. A sexualidade à flor da pele desde os tempos da chanchada garante bons
índices no país do Carnaval.
Nesse universo onde tudo é permitido, destacam-se justamente
as personagens que fogem à regra.
As personagens queridas são as
incorretas. Giovanni, o ex-bicheiro manso, avesso à norma culta,
protetor a seu modo.
Nazaré, egoísta, tarada, desmiolada, de mau gosto, não aceita o figurino dominante do altruísmo.
Leva ao extremo a tensão entre o
desejo e a impossibilidade da família. E garante a audiência.
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