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Crítica/MPB
Guinga se solta como cantor em novo álbum
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Guinga estreou em disco já
aos 41 anos, em 1991, com "Simples e Absurdo". Mas eram os
outros que cantavam suas músicas, não ele. Nos cinco CDs
seguintes, interpretou algumas
faixas, mas é agora, em "Casa de
Villa", que o violonista se mostra mais maduro como cantor.
"Estou [no CD] com a voz
rouca do cantor que não sou.
Mas alma e emoção eu tenho.
Chico Buarque e Tom Jobim
nunca quiseram ser cantores e
são os maiores intérpretes de
suas obras", afirma ele, que
sempre ouviu de Djavan e outros especialistas o incentivo
para cantar mais.
Oito das 12 faixas têm sua
"voz rouca" -as outras são instrumentais. E Guinga ainda se
permite ousadias: faz um difícil
contracanto em "Via Crucis", a
única música com intérprete
convidada (Paula Santoro), e
experimenta o formato voz &
violão em "Tudo Fora de Lugar", bela parceria com Aldir
Blanc.
As inovações mostram um
artista mais corajoso e exposto.
Seus CDs anteriores, invariavelmente bonitos, eram cercados por muitos instrumentos,
inclusive cordas. Sob influência
do produtor Marcus Tardelli,
exímio violonista solo, Guinga
conta com poucos músicos ao
seu redor e encontra uma justa
medida para sua obra.
Se é que ainda era necessário,
fica ainda mais nítido em "Casa
de Villa" a capacidade que ele
tem de fundir e reescrever os
gêneros. Em "Bigshot", une
ragtime e xote, sopros e zabumba. Em "Jongo de Compadre", o
gênero afro-brasileiro do título
ganha curvas bem diferentes e
até tuba. Dos choros e valsas,
pode-se falar muita coisa, menos que são previsíveis ou passadistas.
"Progredir dentro da tradição é sempre possível. Não vou
fazer um choro nos moldes do
que já foi feito, ficar preso a
uma coisa que está estabelecida
há um século", ensina Carlos
Althier de Souza Lemos Escobar, dentista que trocou de vez
o boticão pelo violão.
Villa-Lobos é o maior homenageado do CD. "A casa de Villa
é o meu coração", declara-se
Guinga. "Villalobiana" e a faixa-título são as reverências explícitas, mas o grande compositor
não é uma influência apenas
sonora para Guinga.
Está nas suas misturas de
erudito e popular, simples e absurdo, zona sul e subúrbios. Estes são lindamente cantados
em "Mar de Maracanã" (parceria com Edu Kneip) e "Maviosa", a primeira letra que o compositor teve coragem de gravar.
Os versos são um passeio agridoce pelo Baixada Fluminense
e pelos bairros que ladeiam a
avenida Brasil.
"Ainda tem beleza [nos lugares]. Para quem sabe ver, né?",
diz Guinga, traduzindo muito
da sua música, que, em tempos
de felicidade eletrônica-desarmônica, mostra que a dor pode
ser bela.
Ainda pouco conhecida no
Brasil, sua obra está ultrapassando fronteiras: ele tem três
discos feitos na Itália, ainda
não lançados aqui; e fez em dezembro passado concerto com
a Filarmônica de Los Angeles.
CASA DE VILLA
Artista: Guinga
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 32, em média
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