HAMILTON MELLÃO JR.
Colunista da Folha

Desci do táxi, bati a porta e dei um chute bem no meio da bunda do Brasil. Quem atende pelo epíteto de Brasil é uma cadela que passa o dia inteiro deitada eternamente em berço esplêndido na porta do nosso bar Estudantes Paulistas, aqui em Tatuí.
Ela tem um companheiro, o trouxa do Brasileiro, que a trata com um amor de 10 mil corações, protegendo-a, alimentando-a e enchendo-a de obséquios. Em contrapartida, Brasil só tem por ele desprezo e arrogância.
Enquanto o Brasileiro sua seu casaco sarnento, buscando comida para os dois, ela só se levanta para fazer as necessidades fisiológicas e traí-lo. Está sempre com as tetas cheias, alimentando os bastardos.
Fugi para Tatuí para esquecer das dívidas da capital e dos dois pivôs centrais que perdi. Como aqui neste bar todo mundo deve e ninguém tem dente, me senti em casa.
No meio da ebriedade, veio a idéia: um bolão cujo ganhador seria aquele que acertasse, entre dez candidatos, quem iria morrer primeiro na cidade. Feita a lista, faltava um nome, e alguém sugeriu o Brasileiro. Eu, já todo ferrado, votei seco e sozinho no azarão porque o brasileiro é, antes de tudo, um forte. Partimos para outros aperitivos e mais outros.
Meio de madrugada, alguém gritou que o Brasileiro estava passando mal. Quando chegamos, ele dava seu último suspiro, desfalecido no colo do Brasil, uma cena tristemente linda de se ver.
O P.G. Rebouças, um negro cuja única ocupação é pensar que toca pandeiro, me olhou e disse: "Nós ganhamos". Este "nós" tinha tudo de verdadeiro porque os R$ 6.000 que eu ganhei foram torrados em conjunto. Estamos em festa futebol clube há seis dias.
Aproveito esta para avisar aos credores e à minha mulher que estou bem, volto logo e pagarei a todos assim que puder. Os últimos reais foram gastos no sítio do Guédão Fubá na confecção de um sensacional arroz da saudade, criado e executado pelo Guarugy, que também aproveita para mandar um alô.
Esta receita serve dez pessoas.
Ingredientes: uma galinha de dois quilos e meio; um quilo de arroz; duas latas de ervilha; meio quilo de presunto cozido; dez bananas-da-terra; oito ovos; uma cebola grande; uma folha de louro; um maço de salsa e cebolinha; dois limões; óleo para fritura; uma colher de sopa de manteiga; farinha de rosca, sal e pimenta.

Preparo
Limpe a galinha, e lave-a com água e o suco dos limões. Coloque em um panelão com quatro litros de água, o louro, a cebola em rodelas, a salsa e a cebolinha picadas, uma colher de sopa de sal e uma colher de chá de pimenta preta. Cozinhe em fogo forte até que a galinha esteja macia.
Retire a galinha, coe o caldo e reserve. Desfie sua carne desprezando a pele.
Prepare um arroz bem solto, usando o caldo da galinha no lugar da água. Corte as bananas-da-terra em rodelas grossas e frite em óleo quente. Pique o presunto em cubinhos. Esquente a manteiga até alourar e misture com as ervilhas escorridas.
Em um Pirex, grande e fundo, arrume uma camada de arroz, uma de galinha e mais uma de arroz. Espalhe as ervilhas. Coloque mais uma camada de galinha, uma de bananas fritas, uma de presunto e outra de bananas. Cubra tudo com o arroz. Bata os ovos como para omelete e tempere com sal.
Despeje sobre o arroz, ajeitando com o garfo para ficar entranhado. Polvilhe com farinha de rosca. Leve ao forno médio e preaquecido por cerca de 30 minutos.

E-mail: mellão@uol.com.br


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