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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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ANÁLISE

"Mulheres" atualiza o imaginário masculino

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Mulheres em Pleno Ataque de Nervos" seria um título mais adequado à novela das oito. Para deleite da audiência masculina, o folhetim de Manoel Carlos expõe uma variedade de personagens femininas impulsivas.
Heloísa (Giulia Gam) vai se tornando referência na trama. Ela encarna o ciúme doentio e vai às vias de fato. Uma facada no marido querido e um acidente de carro com traços suicidas salientam a trajetória autodestrutiva da personagem.
O ciúme desmedido leva também Marina (Paloma Duarte) a sair no tapa com Diogo (Rodrigo Santoro), outro marido adorado.
Revoltada com a indiferença de César (José Mayer), Helena (Christiane Torloni), com os olhos marejados, puxa a direção do carro desgovernando momentaneamente o luxuoso importado dirigido pelo cirurgião de sucesso.
Professora de educação física, Rachel (Helena Rinaldi) encarna a mulher que apanha do marido, um tipo soturno que deixa marcas roxas ao redor dos olhos da esposa. A violência dele justifica a traição dela, encantada pela meiguice de um aluno de segundo grau, exímio nadador.
Em meio ao desatino infanto-juvenil dessas personagens encantadoras, as mais velhas impressionam pela placidez com que articulam a realização de seus desejos -para além de preconceitos de classe e idade.
Verdadeiras deusas nesse panteão de alucinadas, Lorena (Suzana Vieira) e Sílvia (Natália do Vale) realizam a sua fantasia com jovens empregados charmosos.
Após literalmente se despir de seu figurino perua da zona sul, substituído por traje sensual em cores vivas, a senhora casada se delícia com o ambiente descontraído de um baile de periferia. Se torna amante do atraente motorista, namorado de sua empregada esforçada.
A heroína mor, talvez a única sensata, é a sorridente Lorena. Ideal de mulher e mãe moderna, realizada profissionalmente, sem medo de ser feliz, se casa com o filho do motorista. A bondosa fada madrinha incentiva o amado jovem-objeto, sugestivamente chamado Expedito, a seguir carreira de modelo.
Como se vê, no melhor estilo melodrama, sentimentos exacerbados desencadeiam intervenções no corpo. As consequências da emoção corrosiva se expressam literalmente na carne.
A novela atualiza o imaginário convencional masculino, aquele que atribui à mulher comportamentos que escapam à razão. As mulheres da novela, de maneira mais ou menos intempestiva, assumem as linhas mestras de condutas inexplicáveis e com isso fascinam espectadores homens.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

MULHERES APAIXONADAS. Quando: seg. à sáb., às 20h55, na Globo (hoje, às 21h15).



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