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ANÁLISE
"Mulheres" atualiza o imaginário masculino
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Mulheres em Pleno Ataque
de Nervos" seria um título
mais adequado à novela das oito.
Para deleite da audiência masculina, o folhetim de Manoel Carlos
expõe uma variedade de personagens femininas impulsivas.
Heloísa (Giulia Gam) vai se tornando referência na trama. Ela
encarna o ciúme doentio e vai às
vias de fato. Uma facada no marido querido e um acidente de carro
com traços suicidas salientam a
trajetória autodestrutiva da personagem.
O ciúme desmedido leva também Marina (Paloma Duarte) a
sair no tapa com Diogo (Rodrigo
Santoro), outro marido adorado.
Revoltada com a indiferença de
César (José Mayer), Helena
(Christiane Torloni), com os
olhos marejados, puxa a direção
do carro desgovernando momentaneamente o luxuoso importado
dirigido pelo cirurgião de sucesso.
Professora de educação física,
Rachel (Helena Rinaldi) encarna
a mulher que apanha do marido,
um tipo soturno que deixa marcas roxas ao redor dos olhos da esposa. A violência dele justifica a
traição dela, encantada pela meiguice de um aluno de segundo
grau, exímio nadador.
Em meio ao desatino infanto-juvenil dessas personagens encantadoras, as mais velhas impressionam pela placidez com
que articulam a realização de seus
desejos -para além de preconceitos de classe e idade.
Verdadeiras deusas nesse panteão de alucinadas, Lorena (Suzana Vieira) e Sílvia (Natália do Vale) realizam a sua fantasia com jovens empregados charmosos.
Após literalmente se despir de
seu figurino perua da zona sul,
substituído por traje sensual em
cores vivas, a senhora casada se
delícia com o ambiente descontraído de um baile de periferia. Se
torna amante do atraente motorista, namorado de sua empregada esforçada.
A heroína mor, talvez a única
sensata, é a sorridente Lorena.
Ideal de mulher e mãe moderna,
realizada profissionalmente, sem
medo de ser feliz, se casa com o filho do motorista. A bondosa fada
madrinha incentiva o amado jovem-objeto, sugestivamente chamado Expedito, a seguir carreira
de modelo.
Como se vê, no melhor estilo
melodrama, sentimentos exacerbados desencadeiam intervenções no corpo. As consequências
da emoção corrosiva se expressam literalmente na carne.
A novela atualiza o imaginário
convencional masculino, aquele
que atribui à mulher comportamentos que escapam à razão. As
mulheres da novela, de maneira
mais ou menos intempestiva, assumem as linhas mestras de condutas inexplicáveis e com isso fascinam espectadores homens.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
MULHERES APAIXONADAS. Quando:
seg. à sáb., às 20h55, na Globo (hoje, às
21h15).
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