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CRÍTICA ERUDITO
Maria João Pires despe Chopin de sentimentalismo excessivo
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Transparência, meticulosa atenção para com os detalhes, cuidado sonoro, refinamento estilístico.
É com um Chopin altamente intelectualizado que a
pianista portuguesa radicada no Brasil Maria João Pires,
65, nos brinda em seu disco
duplo dedicado ao compositor polonês.
Assim como no memorável recital de comemoração
ao bicentenário de Chopin na
Sala São Paulo, no último dia
5 de abril, Pires recebe o violoncelista russo Pavel Gomziakov, 34, para uma requintada execução da "Sonata
para Violoncelo e Piano",
mais alentada criação camerística do compositor.
E, a exemplo daquele concerto, também no disco o repertório está concentrado no
"Chopin tardio", com obras
dos cinco últimos anos de vida do compositor.
Como ponto alto, traz uma
leitura iluminadora e incrivelmente matizada de sua
"Sonata nº 3".
No meio do caminho entre
essas duas culminâncias, há
muito desfrute, como o intimismo dos "Noturnos op.
62", a verve com que são executadas as nove mazurcas e
três valsas selecionadas e a
inteligência aplicada à "Polonaise-Fantasia op. 61".
O resultado é um Chopin
essencialmente introspectivo, despido de excessos de
sentimentalismo e de arroubos estrondosos.
Uma escolha que pode ser
considerada fiel à essência
do compositor. De mãos pequenas e silhueta delicada,
não se trata aqui de uma leoa
do teclado de sonoridade
avassaladora: Maria João Pires é antes uma artista de toque sutil e som suave, a perscrutar as profundidades da
música.
Similar àquilo que os testemunhos de época relatam sobre o próprio Chopin -um
artista que evitava o pianismo estrepitoso e preferia o intimismo dos salões ao brilho
das apresentações públicas
ao teclado.
MARIA JOÃO PIRES - CHOPIN
ARTISTA Maria João Pires
GRAVADORA Deutsche
Grammophon
QUANTO R$ 48 (duplo), em média
AVALIAÇÃO ótimo
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