São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

Maria João Pires despe Chopin de sentimentalismo excessivo

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Transparência, meticulosa atenção para com os detalhes, cuidado sonoro, refinamento estilístico. É com um Chopin altamente intelectualizado que a pianista portuguesa radicada no Brasil Maria João Pires, 65, nos brinda em seu disco duplo dedicado ao compositor polonês.
Assim como no memorável recital de comemoração ao bicentenário de Chopin na Sala São Paulo, no último dia 5 de abril, Pires recebe o violoncelista russo Pavel Gomziakov, 34, para uma requintada execução da "Sonata para Violoncelo e Piano", mais alentada criação camerística do compositor.
E, a exemplo daquele concerto, também no disco o repertório está concentrado no "Chopin tardio", com obras dos cinco últimos anos de vida do compositor. Como ponto alto, traz uma leitura iluminadora e incrivelmente matizada de sua "Sonata nº 3".
No meio do caminho entre essas duas culminâncias, há muito desfrute, como o intimismo dos "Noturnos op. 62", a verve com que são executadas as nove mazurcas e três valsas selecionadas e a inteligência aplicada à "Polonaise-Fantasia op. 61". O resultado é um Chopin essencialmente introspectivo, despido de excessos de sentimentalismo e de arroubos estrondosos.
Uma escolha que pode ser considerada fiel à essência do compositor. De mãos pequenas e silhueta delicada, não se trata aqui de uma leoa do teclado de sonoridade avassaladora: Maria João Pires é antes uma artista de toque sutil e som suave, a perscrutar as profundidades da música.
Similar àquilo que os testemunhos de época relatam sobre o próprio Chopin -um artista que evitava o pianismo estrepitoso e preferia o intimismo dos salões ao brilho das apresentações públicas ao teclado.


MARIA JOÃO PIRES - CHOPIN

ARTISTA Maria João Pires
GRAVADORA Deutsche Grammophon
QUANTO R$ 48 (duplo), em média
AVALIAÇÃO ótimo




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