São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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9 DE JULHO

Diretores Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi lançam hoje em pré-estréia filme sobre o movimento popular paulista

Revolução de 32 vira documentário na TV

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO

Após 70 anos, a Revolução Constitucionalista de 32 se transforma em documentário pelas mãos dos diretores Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi.
"A Guerra dos Paulistas" tem pré-estréia hoje, durante as comemorações do evento, na Assembléia Legislativa de São Paulo, e, no próximo sábado, às 21h, será exibido na TV Cultura.
"O convite para o projeto partiu da própria TV Cultura", conta Laís Bodanzky. "Mas foi surpreendente realizá-lo para mim, que conhecia tão pouco desse conflito. Espero que o filme consiga reproduzir esse sentimento que eu tive, para que as pessoas também se surpreendam."
O filme mescla imagens de arquivo com um roteiro ficcional, escrito por Bolognesi, e depoimentos de ex-combatentes. "A principal preocupação era com a humanização do conflito. Quando se fala em guerra, a tendência é mostrar um factual muito distante e frio. Acho que nessa hora é importante ser afetivo. A ficção veio dar essa emoção para o filme", explica o diretor e roteirista.
"Além disso, os personagens dialogam com a história real. São imagens fortíssimas de uma guerra que foi muito bem documentada, tanto pelo rádio quanto pelos jornais. Então contamos, por exemplo, que os estudantes de direito pegaram em armas a partir da visão de um estudante", completa Bodanzky.

"Caras-pintadas"
Cerca de 2.000 pessoas morreram em três meses de luta pela instalação da Constituinte prometida pelo presidente Getúlio Vargas. "Chamamos os combatentes de "os caras-pintadas que clamavam pela Constituição-Já'", diz Bolognesi, em alusão às manifestações pelas Diretas-Já e contra o governo Collor.
"Mas foi uma tragédia épica. Os soldados eram, em sua grande maioria, gente que nunca havia tocado em armas. Eles eram voluntários, entre pequenos comerciantes e estudantes colegiais. Foram para a guerra em tom ufanista, em clima de Copa do Mundo mesmo. Nas trincheiras, se depararam com a realidade, o frio e a fome."
As imagens foram gravadas em super-8, em preto-e-branco, sem diálogos, recorrendo às antigas cartelas do cinema mudo. "A memória do brasileiro é curta. Por exemplo, se acredita que no Brasil nunca houve guerra. E essa é uma história recente", afirma a diretora, que estreou na direção de longas com "Bicho de Sete Cabeças", em 2000.
Com pesquisa de Marcelo Aith, o filme foi produzido em cerca de dois meses e meio: "Foi uma doideira, mas havia fartura em material disponível. Acabou sendo uma delícia de fazer. Além disso, a revolução é uma história que merece ser revisitada, porque o nosso olhar também muda", diz Bodanzky.
"Também é uma maneira de dizer que o Brasil não é essencialmente pacifista como gostam de nos fazer acreditar. Isso é balela. Se preciso, as pessoas embarcam no "vamos ver". Em 32, eram brasileiros contra brasileiros e os constitucionalistas foram para a batalha, mesmo tendo poucas chances de ganhar o conflito", completa Bolognesi.


A GUERRA DOS PAULISTAS - Direção: Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. Com: Caco Ciocler, Zedu Neves, Thiago de Brito. Narração: Selton Melo. Quando: pré-estréia hoje, às 16h, na Assembléia Legislativa (av. Pedro Álvares Cabral, 201, SP; entrada franca); estréia no sábado (dia 13), às 21h, na TV Cultura. Duração: 60 min.


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