São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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PALATNIK

Artista desconstruiu a racionalidade das engrenagens

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

A braham Palatnik viu no ciclo da máquina a terapia da vida moderna. "Máquinas de Pintar e Máquinas de Desacelerar" é uma exposição que acompanha o artista na descoberta da irracionalidade da engrenagem.
A primeira obra da mostra é expressionista. "Natureza-Morta", de 1947, atesta a preocupação do jovem de 19 anos com a manifestação de estados psicológicos.
Um ano depois, Palatnik conhece a arte do inconsciente produzida sob orientação da espinozana Nise da Silveira. Visita o serviço de terapêutica ocupacional do hospital psiquiátrico D. Pedro 2º, no Rio de Janeiro, e mergulha em crise de identidade.
A cabeça que liberta fantasias irrefreáveis é representada no desenho do paciente Raphael: "Retrato de Palatnik", também em exibição, funde um móbile ao modelo em 1948.
A síntese criadora emerge do período introspectivo de três anos que se segue ao confronto com os ateliês do inconsciente. Palatnik relaciona, então, dois lados de sua vida: artista e engenheiro.

"Cinecromáticos"
A partir de 1951, surgem os "Cinecromáticos". Tais circuitos experimentais para máquinas com lâmpadas coloridas ficavam dentro de caixas translúcidas. Podemos apreciar seis deles, produzidos entre 1958 e 1969, num corredor escuro que preserva a hipnótica luminosidade cambiante das peças ali apresentadas.
"Objetos Cinéticos" desvelam o movimento calmoso. No cômodo seguinte, os mecanismos escondidos por telas na série anterior, agora abanam-se os braços. Embora ocultem rodas dentadas e imãs, exibem hastes com pontas escultóricas, orgânicas ou geométricas.

Mundos internos
Os movimentos resultam em órbitas idiossincráticas. O sistema de ponteiros gira de modo variado e harmônico, gerando mundos de ordem interna.
Contudo a impressão do conjunto de 14 "Cinéticos" é diminuída pela alternância das obras ligadas. Houve subdimensionamento das instalações para a função simultânea e contínua de todos os aparelhos.
Símbolos místicos aparecem. Num objeto de centro, diversas esferas metálicas rodam sobre um tetragrama inscrito em dois círculos concêntricos.
Noutro, de 1965, um campo magnético cria movimentos análogos em três planos de peças vermelhas, pretas ou verdes tanto em cima como embaixo. A curadoria pontua uma trajetória que ajudará o público da acelerada Paulista no misterioso afinamento da rotação das paixões modernas por meio de máquinas.


Máquinas de Pintar e Máquinas de Desacelerar    
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/3268-1700)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 19h; até 14 de julho
Quanto: entrada franca



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