|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BRUXARIA E MARKETING
Editoras e livrarias montam esquema ultraconfidencial para proteger sexto livro da série até 16 de julho
Segredo cerca lançamento de Harry Potter
LUCIANA COELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempos de pirataria, um
bruxo precisa saber se defender.
Ainda mais se sua história estiver
impressa em dezenas de milhões
de livros distribuídos pelo mundo
e se sua criadora exigir que essas
dezenas de milhões de exemplares saiam das caixas só no primeiro minuto do próximo sábado.
Para garantir o sigilo total cobrado pela escritora britânica J.K.
Rowling (ou Jo Rowling, como ela
tem preferido ser chamada ultimamente), as editoras Bloomsbury e Scholastic, que imprimem
respectivamente as versões britânica e americana da série literária
Harry Potter, viram-se obrigadas
a fazer mágicas dignas de Dumbledore -o hábil diretor da escola de magia que Harry freqüenta.
Só a Scholastic imprimiu 10,8
milhões de cópias da primeira
edição de "Harry Potter and the
Half-Blood Prince", o sexto volume da série. A Bloomsbury não
informa quantos exemplares rodou -a última vez que o fez foi
com o quarto livro da série,
"Harry Potter e o Cálice de Fogo",
que teve tiragem inicial de 1 milhão de exemplares, cem vezes
maior do que seu antecessor.
A edição em português deve ser
lançada só no final deste ano, segundo a editora Rocco, responsável pela versão brasileira. "Precisamos receber o livro ainda, o que
só vai acontecer no sábado", disse
à Folha a assessora Cintia Borges.
"Todo ano é assim, faz parte do
esquema de segurança deles. Não
sabemos de nada, a tradutora [Lia
Wyler] fica desesperada." Segundo Borges, não é possível nem dizer ainda qual será o título do livro em português. "Pode ser tanto
"o príncipe mestiço" como o "príncipe bastardo", precisamos ler para saber o contexto."
O frenesi com o segredo em torno do livro cresceu após uma onda de boatos, no início do ano, de
que o texto havia vazado na internet -o que era mentira. Piorou
no mês passado, quando dois homens foram presos no Reino Unido tentando vender a um repórter
duas cópias roubadas da editora.
Agora, das livrarias que já receberam o precioso carregamento,
as editoras exigem cuidados redobrados de segurança, sob pena de
não receberem cópias antecipadas do próximo e derradeiro volume da série.
As lojas nos EUA estão bem
mais cautelosas do que as do Brasil, que receberam milhares de cópias em inglês na semana passada
e já aceitam encomendas.
Enquanto a livraria on-line
Amazon.com criou áreas restritas
em seus depósitos para armazenar os livros, onde os funcionários só podem entrar com crachás
especiais, a brasileira Americanas.com mantém seus exemplares no mesmo depósito que as demais mercadorias, em Barueri.
"Já há um bom esquema de segurança lá, nunca tivemos problemas", disse uma assessora.
O Submarino designou uma
área específica, separada das demais mercadorias, mas não revela
se a segurança foi intensificada.
Nenhuma das duas lojas on-line
diz quantos exemplares comprou
nem quantos já foram vendidos.
A Livraria Cultura, que adquiriu
5.000 exemplares e já tem cerca de
2.500 reservados, exibe os livros
encaixotados na loja do Conjunto
Nacional desde a última terça. Há
vigilância, mas nenhum esquema
reforçado como o visto no exterior. Já a burocracia aumentou.
"Tivemos de assinar vários papéis que das outras vezes não precisamos, e o contrato foi muito
mais rigoroso, exigindo que as
caixas só fossem abertas à 0h01 do
dia 16 pelo horário brasileiro",
disse a assessora Sonia Goldfeder.
Da última vez, a livraria seguiu o
fuso horário britânico e começou
as vendas na noite anterior, às 20h
da véspera.
A Scholastic diz apenas que
"trabalha de perto" com seus revendedores e que criou um plano
especial de segurança para a distribuição, no qual estão incluídos
600 caminhões apenas nos EUA.
"Mas, por questões estratégicas,
não podemos revelar detalhes",
disse à Folha por telefone Kris
Moran, porta-voz da editora.
A única coisa que ela não esconde é o otimismo com o lançamento. "Do quinto volume, vendemos
60 milhões de cópias, 5 milhões
apenas nas primeiras 24 horas.
Desta vez, esperamos vender
muito mais."
Texto Anterior: Rodapé - Belém-Manaus: poesia e prosa ao norte Próximo Texto: Política cultural: Governo de SP rebate crítica do Paço das Artes Índice
|