São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2001

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TEATRO

Peça "Mais-Que-Imperfeito", sobre casal em crise, estréia hoje em SP

Paiva retrata vicissitudes da moderna vida a dois

VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O dramaturgo Marcelo Rubens Paiva, 41, segue pincelando seu retrato urbano dos descaminhos da moderna vida a dois.
"Mais-Que-Imperfeito", cuja montagem entra em cartaz hoje em São Paulo, após temporadas no Rio e Salvador, sucede "Da Boca pra Fora - E Aí, Comeu?" (1999, Prêmio Shell carioca de melhor autor) e serve de ponte para "Closet Show", texto inédito (parceria com Ana Ferreira) que encerra a trilogia algo involuntária.
Sai de cena o homem desbocado, entra o macho sensível e vem aí a assembléia de mulheres que repara os defeitos do sexo oposto e os delas mesmas, sobretudo.
"Marcelo é um cronista de sua época, sua condição de jornalista o favorece muito", afirma o diretor gaúcho Rafael Ponzi, 45, radicado há 25 anos no Rio, que também dirigiu "Da Boca pra Fora".
O músico desempregado Kito (Antônio Gonzalez) e a médica bem-sucedida Aline (Clara Garcia) atravessam crise de dez anos de casamento, choque do jeito sensível dele com a voracidade dela pela carreira.
Laura (Ingra Liberato), um amor adolescente de Kito, reaparece e o mobiliza para a paixão. Rui (Tato Gabus Mendes), um vizinho falastrão e mulherengo, completa os tipos que se relacionam (ou tentam) em "Mais-Que-Imperfeito", como fala Paiva.

ONTEM E HOJE - "O título refere-se às escolhas erradas feitas no passado. Kito chega a um ponto da vida em que revê sua história e se pergunta por que não casou com aquela da adolescência. Acredito que todas as noites, antes de dormir, as pessoas se perguntam como teriam sido suas vidas se, no passado, tivessem seguido um outro caminho. Nossa história é um labirinto. Tenho um amigo que usava dados para decidir o que fazer. As relações estão à prova todos os dias. Elas se distanciam e se aproximam. É só perguntar aos dentistas, professores de tênis e secretárias."

QUEIJO E GOIABADA - "Kito e Aline vivem num mundo menos romantizado, mais prático, realista. Sempre me pergunto: será que, se Romeu e Julieta tivessem sobrevivido, o casamento deles teria dado certo? Não haveria o dia em que Julieta iria para cama cedo com enxaqueca e que Romeu chegaria tarde bêbado porque ficou esgrimando com os amigos? Ele aguentaria aquele ar sonso de Julieta na velhice? Kito e Aline vivem como pessoas normais. Ele detesta o cheiro de cigarro da boca dela, e ela, no fundo, o acha meio feminino demais. É o típico casal que broxa, briga por causa do forro do sofá e diverge quanto a ir a um filme iraniano."

EDMUNDO E CHICO - "Não faço nenhum estudo empírico sobre as mulheres. Ouço por aí reclamações. As mulheres dizem uma coisa, mas parecem querer outra. Elas dizem que querem romantismo, dedicação, carinho, mas detestam homens muito dedicados, femininos, sensíveis. Elas gostam de uma síntese entre Edmundo e Chico Buarque. No fundo, os homens não devem dar tanto ouvidos às mulheres. Elas gostam da gente. É que gostam, também, de reclamar. Uma mulher passa a vida tentando mudar um marido. Quando ele muda, ela fica sem a sua luta e parte para outra, como um Exército sem guerra."


MAIS-QUE-IMPERFEITO - De: Marcelo Rubens Paiva.
Direção: Rafael Ponzi.
Com: Ingra Liberato.
Onde: teatro Augusta (r. Augusta, 943, tel. 0/ xx/11/ 3151-4141).
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 20h e 22h30; dom., às 19h. Até 30/9. Quanto: R$ 30 e R$ 35 (sáb.).



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