São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2001

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LITERATURA

Indicação da escritora Zélia Gattai para a cadeira antes ocupada pelo autor divide opiniões entre os acadêmicos

Vaga de Jorge Amado na ABL é aberta hoje

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Quando a Academia Brasileira de Letras realizar hoje à tarde sua sessão especial em homenagem a Jorge Amado, o nome de uma nova candidata à cadeira ocupada por ele vai circular entre os acadêmicos. A viúva de Jorge Amado, a escritora Zélia Gattai, autora de "Anarquistas, Graças a Deus", é considerada o nome ideal para a cadeira 23 pelo acadêmico Marcos Vilaça. Falta o principal: a concordância de Zélia, que nem foi consultada por Vilaça sobre a possibilidade de candidatura.
"Não é por ela ser a viúva do Jorge. Ela é uma grande escritora. Não poderia haver melhor homenagem da Academia a Jorge do que eleger uma grande escritora para sucedê-lo. Esse é o sentido da minha proposta aos colegas", afirmou Vilaça, 62, que é amigo e compadre do casal Amado.
Vilaça disse que só conversará com os colegas depois de consultar a própria Zélia -o que deverá acontecer, segundo ele, em dez ou 15 dias- e que aguardará a concordância dela.
A "sessão da saudade", com a homenagem a Jorge Amado, é também a declaração oficial de que a cadeira dele -a mesma ocupada por Machado de Assis- está vaga. Os próprios candidatos têm de apresentar suas inscrições, num prazo de 60 dias.
A possibilidade de uma candidatura de Zélia Gattai para a vaga do marido não tem, porém, a unanimidade dos acadêmicos.
"Não acho de bom gosto que uma escritora se candidate à vaga do seu marido na ABL", afirmou Lêdo Ivo, 77, destacando não acreditar que Zélia aceite. Para ele, Zélia tem direito a se candidatar, mas é discutível candidatar-se à vaga do marido. "Haveria um problema ético [se ela se candidatasse à cadeira de Jorge". Soaria como uma espécie de herança. As cadeiras não são incluídas no patrimônio da família", afirmou.
"Quero um grande bem à Zélia. Mas não é pelo fato de ela ser a viúva do Jorge que ela tem que ser eleita para a Academia", afirmou Josué Montello, 84, dizendo que não é contra nem a favor a candidatura de Zélia Gattai.
Se Zélia aceitar a disputa, é considerada uma forte candidata. Acadêmicos ouvidos pela Folha disseram que ela é "pule de dez", "uma candidata sentimentalmente muito forte", e que outros candidatos nem sequer concorreriam caso ela disputasse.
Outros acadêmicos defenderam que a vaga de Jorge Amado, romancista consagrado, seja ocupado por outro romancista, por "um autor de imaginação".
Há, porém, outros postulantes a uma cadeira na Academia, mas ninguém fala em candidatura antes da sessão de homenagem ao morto -algo considerado fora dos padrões éticos da ABL.
Um deles é Paulo Coelho, que vinha anunciando sua intenção de se candidatar daqui a cinco anos. Já participou de um jantar organizado pelo acadêmico e jornalista Roberto Marinho na comemoração dos 104 anos da ABL.
Procurado ontem pela Folha, Coelho disse que não comentaria o assunto.
Outros nomes são sempre citados: os também baianos Antônio Torres e Cláudio Veiga, o cientista político Helio Jaguaribe, o romancista Autran Dourado, os paulistas Mário Chamie e Ives Gandra (candidatos dos que consideram que há poucos paulistas na ABL) e o romancista Gilberto Mendonça Telles (que participou da última disputa e perdeu).
Há, por fim, aqueles que a ABL gostaria de ter em seu chá das cinco, mas que têm se recusado a se candidatar: Fernando Sabino, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan.



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