|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Indicação da escritora Zélia Gattai para a cadeira antes ocupada pelo autor divide opiniões entre os acadêmicos
Vaga de Jorge Amado na ABL é aberta hoje
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Quando a Academia Brasileira
de Letras realizar hoje à tarde sua
sessão especial em homenagem a
Jorge Amado, o nome de uma nova candidata à cadeira ocupada
por ele vai circular entre os acadêmicos. A viúva de Jorge Amado, a
escritora Zélia Gattai, autora de
"Anarquistas, Graças a Deus", é
considerada o nome ideal para a
cadeira 23 pelo acadêmico Marcos Vilaça. Falta o principal: a
concordância de Zélia, que nem
foi consultada por Vilaça sobre a
possibilidade de candidatura.
"Não é por ela ser a viúva do Jorge. Ela é uma grande escritora.
Não poderia haver melhor homenagem da Academia a Jorge do
que eleger uma grande escritora
para sucedê-lo. Esse é o sentido da
minha proposta aos colegas",
afirmou Vilaça, 62, que é amigo e
compadre do casal Amado.
Vilaça disse que só conversará
com os colegas depois de consultar a própria Zélia -o que deverá
acontecer, segundo ele, em dez ou
15 dias- e que aguardará a concordância dela.
A "sessão da saudade", com a
homenagem a Jorge Amado, é
também a declaração oficial de
que a cadeira dele -a mesma
ocupada por Machado de Assis-
está vaga. Os próprios candidatos
têm de apresentar suas inscrições,
num prazo de 60 dias.
A possibilidade de uma candidatura de Zélia Gattai para a vaga
do marido não tem, porém, a
unanimidade dos acadêmicos.
"Não acho de bom gosto que
uma escritora se candidate à vaga
do seu marido na ABL", afirmou
Lêdo Ivo, 77, destacando não
acreditar que Zélia aceite. Para
ele, Zélia tem direito a se candidatar, mas é discutível candidatar-se
à vaga do marido. "Haveria um
problema ético [se ela se candidatasse à cadeira de Jorge". Soaria
como uma espécie de herança. As
cadeiras não são incluídas no patrimônio da família", afirmou.
"Quero um grande bem à Zélia.
Mas não é pelo fato de ela ser a
viúva do Jorge que ela tem que ser
eleita para a Academia", afirmou
Josué Montello, 84, dizendo que
não é contra nem a favor a candidatura de Zélia Gattai.
Se Zélia aceitar a disputa, é considerada uma forte candidata.
Acadêmicos ouvidos pela Folha
disseram que ela é "pule de dez",
"uma candidata sentimentalmente muito forte", e que outros candidatos nem sequer concorreriam
caso ela disputasse.
Outros acadêmicos defenderam
que a vaga de Jorge Amado, romancista consagrado, seja ocupado por outro romancista, por
"um autor de imaginação".
Há, porém, outros postulantes a
uma cadeira na Academia, mas
ninguém fala em candidatura antes da sessão de homenagem ao
morto -algo considerado fora
dos padrões éticos da ABL.
Um deles é Paulo Coelho, que
vinha anunciando sua intenção
de se candidatar daqui a cinco
anos. Já participou de um jantar
organizado pelo acadêmico e jornalista Roberto Marinho na comemoração dos 104 anos da ABL.
Procurado ontem pela Folha,
Coelho disse que não comentaria
o assunto.
Outros nomes são sempre citados: os também baianos Antônio
Torres e Cláudio Veiga, o cientista
político Helio Jaguaribe, o romancista Autran Dourado, os
paulistas Mário Chamie e Ives
Gandra (candidatos dos que consideram que há poucos paulistas
na ABL) e o romancista Gilberto
Mendonça Telles (que participou
da última disputa e perdeu).
Há, por fim, aqueles que a ABL
gostaria de ter em seu chá das cinco, mas que têm se recusado a se
candidatar: Fernando Sabino, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan.
Texto Anterior: "Trainspotting" busca síntese curta e grossa Próximo Texto: Corpo é cremado em Salvador e cinzas serão jogadas sob mangueira Índice
|