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TV PAGA
Allen aprendeu a lição de "Manhattan"
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Muita coisa se passou na vida de
Woody Allen nos últimos anos, e
o rompimento com a pérfida Mia
Farrow para assumir romance
com sua doce enteada é só uma
delas. Que repercutiram em sua
obra nos últimos anos, em que as
implicações bergmanianas cederam então a um olhar que não
tenta mais problematizar os enigmas da vida, mas sim desfrutá-los
em todos os seus absurdos.
É o que está em "Igual a Tudo na
Vida", no qual o título original
("Anything Else") nos diz mais: a
vida é isso e algo mais. É também
intervir sobre as coisas, como defende o escritor sessentão David
Dobel (Allen), que nada mais é
que o próprio Allen após ter
aprendido a lição que sua jovem
namoradinha lhe deu ao final de
"Manhattan" (1979). Seu personagem, quarentão, ouvia que era
impossível termos controle e certeza sobre tudo. Mais uma constatação de que viver pode ser algo
bem simples.
Agora, calejado pelos 23 anos
que separam ambos os filmes, seu
olhar é mais cáustico sobre as mulheres, o casamento, a amizade, o
trabalho, a vida. A cultura não
tenta agora explicar o mundo, e
sim preservar a discussão das coisas, o pensamento.
É um filme, também, de encontro entre dois tempos. Entre o
Allen maturado, vulgo Dobel, e o
jovem escritor Jerry Falk (Jason
Biggs), seu pupilo e que ainda tenta entender o mundo como o turrão de "Manhattan". Insistindo
inclusive num relacionamento falido com a mulher (Christina Ricci), que o filme faz questão de
mostrar em brancas nuvens apenas através de um breve flashback.
Ainda que a vida aqui mantenha voláteis nossos amores e certezas, quase como num suspense,
"Igual a Tudo na Vida" não é um
filme distópico. Pelo contrário, é
um encontro com a vida, como
nos diz a bela citação que Dobel
faz de Tennessee Williams: o
oposto da morte é o desejo.
Igual a Tudo na Vida
Quando: hoje, às 15h, no Telecine Premium
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