São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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TV PAGA

Allen aprendeu a lição de "Manhattan"

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Muita coisa se passou na vida de Woody Allen nos últimos anos, e o rompimento com a pérfida Mia Farrow para assumir romance com sua doce enteada é só uma delas. Que repercutiram em sua obra nos últimos anos, em que as implicações bergmanianas cederam então a um olhar que não tenta mais problematizar os enigmas da vida, mas sim desfrutá-los em todos os seus absurdos.
É o que está em "Igual a Tudo na Vida", no qual o título original ("Anything Else") nos diz mais: a vida é isso e algo mais. É também intervir sobre as coisas, como defende o escritor sessentão David Dobel (Allen), que nada mais é que o próprio Allen após ter aprendido a lição que sua jovem namoradinha lhe deu ao final de "Manhattan" (1979). Seu personagem, quarentão, ouvia que era impossível termos controle e certeza sobre tudo. Mais uma constatação de que viver pode ser algo bem simples.
Agora, calejado pelos 23 anos que separam ambos os filmes, seu olhar é mais cáustico sobre as mulheres, o casamento, a amizade, o trabalho, a vida. A cultura não tenta agora explicar o mundo, e sim preservar a discussão das coisas, o pensamento.
É um filme, também, de encontro entre dois tempos. Entre o Allen maturado, vulgo Dobel, e o jovem escritor Jerry Falk (Jason Biggs), seu pupilo e que ainda tenta entender o mundo como o turrão de "Manhattan". Insistindo inclusive num relacionamento falido com a mulher (Christina Ricci), que o filme faz questão de mostrar em brancas nuvens apenas através de um breve flashback.
Ainda que a vida aqui mantenha voláteis nossos amores e certezas, quase como num suspense, "Igual a Tudo na Vida" não é um filme distópico. Pelo contrário, é um encontro com a vida, como nos diz a bela citação que Dobel faz de Tennessee Williams: o oposto da morte é o desejo.


Igual a Tudo na Vida
Quando:
hoje, às 15h, no Telecine Premium


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