São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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Paredão

Grupo selecionado pela Ilustrada entrevista Sandy e Junior

José Ramos Tinhorão
crítico e pesquisador de música
"Pessoas inteligentes não falam de Sandy & Junior"
Junior: "Jesus..."
Sandy: "Os críticos da atualidade consideram, apesar de ele não ser da atualidade [fala olhando para o gravador; Tinhorão tem 79 anos], consideram que o que é bom não pode fazer sucesso e o que faz sucesso não pode ser bom. Então acham que Sandy & Junior, como faz muito sucesso, não é bom, e as pessoas inteligentes não podem falar da dupla. É tudo uma questão de lógica. Meio portuguesa"
Junior: "Na verdade, as pessoas inteligentes deveriam se atualizar."
Sandy: "Também acho."

Nelson Motta
jornalista, produtor musical e colunista da Folha
"Essa transição para a carreira solo deverá ser difícil. Como pretendem enfrentá-la?"

Sandy: "Eu concordo, acho que não vai ser fácil. Pretendo fazer muita psicanálise [risos]. Vou ter mais segurança a partir do momento que eu souber que estou fazendo o que sei, quero e gosto de fazer. Com essa consciência tranqüila, a gente assume um erro, um fracasso muito melhor do que quando fazemos algo que alguém mandou fazer."
Junior: "Vamos estranhar muito, serão muitas mudanças. Mas teremos que lembrar que foi uma decisão bem pensada, que é o melhor para a gente. Existem muitas possibilidades, dá para a gente se divertir em muitas áreas voltadas para a música."

Cleusa Turra
diretora de revistas da Folha
"Vocês anunciaram a despedida mas continuam dando coletivas juntos e agora partem para uma turnê. O fim da dupla é pra valer ou daqui a pouco haverá o CD da "Última Turnê" e a turnê do CD da "Última Turnê"

Sandy: "[risos] As pessoas estão confundindo essa história do fim da carreira. A gente anunciou que o "Acústico MTV" vai ser o último projeto da carreira e não que estamos encerrando antes dele."
Junior: "A gente anunciou o último projeto. Vamos terminar a turnê até o final do ano e já era."

Tales Ab'Sáber
psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
"Considerando que vocês são jovens e conquistaram um lugar tão privilegiado no mercado da música, que tem liberdade e potência ilimitadas, por que nunca pensaram em ultrapassar os limites de suas músicas, em outras possibilidades formais e estéticas? Por que não radicalizaram mais o pensamento, trabalharam com produtores inventivos? Trocando em miúdos, reenvio a vocês a pergunta: que juventude é essa?
Junior: "Acho que ele poderia ter conhecido mais o nosso trabalho antes de fazer essa pergunta. A mudança foi bem drástica."
Sandy: "Dentro do nosso som, temos consciência de que revolucionamos o bastante. Não sei se o bastante para ele, mas para a gente foi."
Junior: "A gente não poderia deixar de fazer o nosso som para fazer o de outras pessoas. E o nosso som era aquele. E a cada CD evoluiu muito."
Sandy: "Eu não ia buscar o produtor do Iron Maiden se o som que eu queria fazer era aquele."

Mônica Velloso
jornalista, pivô do escândalo Renan Calheiros e futura capa da "Playboy"
"Sandy, cantar com o seu irmão era realmente prazeroso ou durou tanto tempo por questão de marketing?"
Sandy: "Foi muito prazeroso e posso dizer isso do fundo do meu coração. E a gente não está terminando a carreira agora porque deixou de ser prazeroso."
Junior: "E nem por marketing. As pessoas tem mania de associar nosso trabalho com marketing. Neguinho tem mania de falar que a gente cria estratégia. E é exatamente o oposto, a gente faz aquilo que está sentindo, está a fim. Nossa carreira foi muito guiada no feeling."

Fernando Rodrigues
colunista da sucursal de Brasília da Folha
"Vocês são artistas populares. O presidente da República é um homem popular. Por que, na opinião de vocês, Lula consegue se manter popular no comando do país, como dizem as pesquisas?"

Sandy (que, como o irmão, não votou em Lula): "Acho que existe uma identificação da maior parte do público. As pessoas que antes não entendiam [o que um presidente dizia], agora entendem."
Junior: "Grande parte do povo, que, em razão de uma vida sem formação e educação, não consegue analisar a política do país, se identifica com ele."
Sandy: "As pessoas pensam: "Ah, ele teve uma origem humilde como a gente, ele nos entende, então vai fazer as coisas para o nosso bem..."


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