São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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CRÍTICA TEATRO

Atores no máximo de si não atrapalham texto clássico de Pinter em "O Amante"

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O faz de conta muito além da brincadeira. "O Amante", de Harold Pinter, é um exercício dramático que aceita o registro cômico, mas pode alcançar paragens sombrias. A montagem de Francisco Medeiros equilibra-se nessa tensão, com leitura que valoriza o texto do autor inglês.
Escrito em 1962, foi adaptado no ano seguinte para televisão e encenado pelo próprio dramaturgo. Quase 50 anos depois, revela-se um clássico, exemplo de um extraordinário domínio sobre a forma dialógica.
A trama proposta é relativamente simples. Um casal vive uma experiência rara: o marido sabe que a esposa tem encontros regulares com um amante e não só sente-se à vontade com isso como a estimula a continuar.
Até aqui, o terreno seria o da comédia de costumes, não fosse insinuada uma sutil estranheza, que ameaça a estabilidade daquele gênero fundado na redundância.
O que encanta é o fato de que, apenas com diálogos curtos e certeiros, que nunca permitem o desvendamento pleno do mistério, estruture-se uma clarificação possível.
Afinal, não se atinge a dimensão metafísica de outras peças do escritor, mas há ambiguidade suficiente para deslocar as ações de um lugar estável e situá-las em uma zona de risco.
Paula Burlamaqui e Daniel Alvim dão o máximo de si na pele dos personagens. Conseguem não atrapalhar a potência intrínseca do texto e conduzir a imaginação da assistência apenas com as suas próprias falas.
O cenário de Márcio Medina já não colabora tanto. Em sua proposição de um ambiente sofisticado, parece flertar com o público, oferecendo-lhe um espaço de segurança na aventura sem destino que a peça enseja.
O "Amante" brinca em um terreno fronteiriço entre a realidade do dia a dia e os espaços mais abertos e inomináveis que a fabulação humana consegue produzir.

O AMANTE
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 26/9
ONDE Nair Bello - Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, 3º piso, tel. 0/xx/11/3472-2414)
QUANTO R$ 30 e R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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