|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA TEATRO
Atores no máximo de si não atrapalham texto clássico de Pinter em "O Amante"
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O faz de conta muito além
da brincadeira. "O Amante",
de Harold Pinter, é um exercício dramático que aceita o
registro cômico, mas pode alcançar paragens sombrias.
A montagem de Francisco
Medeiros equilibra-se nessa
tensão, com leitura que valoriza o texto do autor inglês.
Escrito em 1962, foi adaptado no ano seguinte para televisão e encenado pelo próprio dramaturgo.
Quase 50 anos depois, revela-se um clássico, exemplo
de um extraordinário domínio sobre a forma dialógica.
A trama proposta é relativamente simples. Um casal
vive uma experiência rara: o
marido sabe que a esposa
tem encontros regulares com
um amante e não só sente-se
à vontade com isso como a
estimula a continuar.
Até aqui, o terreno seria o
da comédia de costumes,
não fosse insinuada uma sutil estranheza, que ameaça a
estabilidade daquele gênero
fundado na redundância.
O que encanta é o fato de
que, apenas com diálogos
curtos e certeiros, que nunca
permitem o desvendamento
pleno do mistério, estruture-se uma clarificação possível.
Afinal, não se atinge a dimensão metafísica de outras
peças do escritor, mas há ambiguidade suficiente para
deslocar as ações de um lugar estável e situá-las em
uma zona de risco.
Paula Burlamaqui e Daniel
Alvim dão o máximo de si na
pele dos personagens. Conseguem não atrapalhar a potência intrínseca do texto e
conduzir a imaginação da assistência apenas com as suas
próprias falas.
O cenário de Márcio Medina já não colabora tanto. Em
sua proposição de um ambiente sofisticado, parece
flertar com o público, oferecendo-lhe um espaço de segurança na aventura sem
destino que a peça enseja.
O "Amante" brinca em um
terreno fronteiriço entre a
realidade do dia a dia e os espaços mais abertos e inomináveis que a fabulação humana consegue produzir.
O AMANTE
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às
21h, e dom., às 19h; até 26/9
ONDE Nair Bello - Shopping Frei
Caneca (r. Frei Caneca, 569, 3º
piso, tel. 0/xx/11/3472-2414)
QUANTO R$ 30 e R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
Texto Anterior: Brasileiros levam dança da periferia à França Próximo Texto: 67º Festival de Cinema de Veneza: Kechiche choca com tragédia do corpo negro Índice
|