São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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TELEVISÃO

Jornalista fala sobre a sua saída da Rede 21, emissora que escolheu para retornar ao ar após cinco anos ausente

Aos 51, Lillian Witte Fibe "continua errando"

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma das jornalistas mais influentes da TV brasileira na década passada, Lillian Witte Fibe, 51, deixou o "Jornal da Globo" no início de 2000 e ficou fora do ar até julho passado, quando finalmente aceitou ancorar o "Jornal 21", na Rede 21, pequena emissora do grupo Bandeirantes que raramente alcança um ponto no Ibope. No último dia 23, Witte Fibe deixou de apresentar o jornal. A Rede 21 diz que ela pediu demissão. A jornalista fala o contrário.
Na entrevista a seguir, Witte Fibe -que pode ser vista diariamente na "TV UOL", noticiário em banda larga do portal UOL- fala de sua curta passagem pelo 21 (embora sem muitos detalhes, pois ainda negocia o recebimento de multa). E revela: esnobou, recentemente, um convite para trabalhar numa TV de Nova York.

Folha - Você ficou cinco anos fora da TV. Por que tanto tempo?
Lillian Witte Fibe
- Passou tão rápido que nem percebi. Tendo a atribuir mais às condições de mercado do que a algum tipo de "voluntarismo" ou "capricho" da minha parte. Da mesma forma que, 30 anos atrás, caí de pára-quedas no jornalismo econômico sem saber rigorosamente nada do assunto. Dei um duro danado para aprender e fui ficando.
A TV também entrou na minha vida por acaso, em 1982. Fui ficando -até 2000! Mas TV para mim não é nem nunca foi profissão. Escolhi ser jornalista. O veículo, sinceramente, tanto faz.
Saí da Globo porque me enchi de trabalhar durante a madrugada e, claro, porque, àquela altura da vida, podia me dar ao luxo de assumir trabalhos não tão bem remunerados. Para minha sorte, a internet estava desabrochando.

Folha - Em seu retorno à TV, permaneceu no ar menos de três meses. O que houve?
Witte Fibe
- Por incrível que pareça, aos 51 anos, 32 de profissão, você pensa que já viu quase tudo na mídia, que sabe onde pisa, que conhece os interlocutores, mas... continua errando. E aprendendo.
Várias emissoras me procuraram. Ouvi todas, mas optei por ficar onde estava. Só que a Rede 21 ia e voltava. Houve uma insistência desconcertante. Acabei convencida. E o produto ia dar certo.
O que houve? Só eles podem responder. Só posso dizer que tive apenas a iniciativa de pedir que determinadas cláusulas contratuais fossem cumpridas.

Folha - O grupo Bandeirantes divulgou nota afirmando que foi você quem pediu rescisão, mas que tentou voltar atrás. Você foi demitida porque pediu demissão?
Witte Fibe -
Foi a brincadeira que meu advogado fez. E a nota tinha tantos erros e danos à minha imagem, à minha moral e à minha credibilidade, que me senti obrigada a esclarecer e desmentir. O fato é que, em 19 de setembro, ficou acertado que o contrato seria rigorosamente respeitado a partir de 1º de outubro. Tratei de fazer a ressalva: "Quero deixar claro que, se falamos em cumprimento de contrato, nem de longe me refiro, nem sequer veladamente, a algo que desemboque em litígio".

Folha - Que cláusulas são essas?
Witte Fibe -
O contrato é confidencial, não posso especificar.

Folha - A Rede 21 te deu as condições de trabalho que você exigiu?
Witte Fibe -
Fiz pouquíssimas exigências. Foi uma coisa espartana, conforme exige o mercado e os recursos da rede permitiriam.

Folha - O que mudou no telejornalismo desde 2000? A internet mexeu com o jornalismo de TV?
Witte Fibe -
Claro que a internet mexeu, com a TV e com tudo! Mas ainda não temos "objetividade histórica" para saber como e de que jeito mexeu. Para nós, jornalistas, é aquela velha máxima: ponha-se no lugar do leitor, do telespectador, do internauta. Faço sempre esse exercício.

Folha - Em recente entrevista, você disse que anda obcecada pela explicação da notícia. Você conseguiu fazer isso no 21?
Witte Fibe -
É, não deu tempo de chegar à explicação que julgo próxima da ideal. Mas estávamos no caminho, sim. Por isso levamos analistas de política, de economia e até de assuntos familiares, que tanto afligem as pessoas e deveriam receber espaço maior.

Folha - Você ainda pretende voltar ao telejornalismo?
Witte Fibe -
Tive recentemente uma sondagem daquelas irrecusáveis para ser âncora de uma TV fechada em Nova York. Para falar em inglês! Numa TV chiquérrima. Eles não queriam nem saber que meu inglês não é maravilhoso porque alegaram que a fluência eu pegaria rapidamente.
Mas eu estava em plena vigência de meu contrato com a Rede 21 e não dei andamento às conversas.
Não descarto voltar à TV. Mas também não procuro o telejornalismo como realização. Meu grande barato continua sendo a notícia. O veículo é o de menos.

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