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ARTE NA CIDADE
Obras estão na lista de prioridades do Patrimônio Histórico
Estátuas de Bruno Giorgi esperam por pai adotivo
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos mais importantes escultores brasileiros, Bruno Giorgi
(1905-1993) tem duas obras com
problemas sérios de conservação.
Localizadas na praça Dom José
Gaspar, as esculturas -a cabeça
de Mário Andrade feita em bronze e uma grande estátua de Dante
Alighieri feita de pedra- estão
pichadas, sujas e com materiais
deteriorados. A boca em bronze
do poeta modernista foi pintada
com "batom" vermelho. Intervenção artística?
As duas esculturas de Giorgi integram a lista das 63 prioridades
do programa "Adote uma Obra
Artística", concebido pelo Departamento de Patrimônio Histórico
(DPH) da Prefeitura.
Pensado para que empresas
possam estimar os custos, contratar e financiar o restauro e a manutenção das obras em troca de
placas de patrocínio, o programa
surgiu em 1994, mas só começou
a vigorar de fato em 2000, sem
muito sucesso. Até hoje, apenas
três dos 400 monumentos municipais foram apadrinhados. O
mais famoso deles é curiosamente o Obelisco da Memória, que fica no largo de mesmo nome.
"Nós temos um cuidado enorme com as obras, mas não podemos tomar conta de 400 esculturas ao mesmo tempo", diz Regina
Ponte, assistente técnica da diretoria do DPH, na espera que mais
empresas se interessem pela proposta. "A idéia do projeto é que a
empresa adotante vá voltar o foco
somente para uma determinada
obra e tomar conta de modo que
ela esteja sempre bem cuidada."
Segundo ela, a campanha para
adoção não significa que as obras
não estejam sendo devidamente
limpas. O DPH e a Limpurb fazem um rodízio entre os monumentos, o que faz com que os procedimentos de manutenção se
dêem em média de dois em dois
meses para cada estátua.
"O problema é que existe uma
cultura do descuido", diz. "Limpamos, mas no dia seguinte está
sujo de novo. Sabemos que as
pessoas picham e fazem xixi, mas
não temos como manter um posto de guarda 24 horas por dia em
400 pontos da cidade."
De fato, atrás da biblioteca municipal a degradação do cenário é
visível: o mato cresce ao redor e o
cheiro não conduz propriamente
à contemplação artística.
Peça de museu
Se por um lado estão nas ruas, as
obras de Giorgi estão também
resguardadas nos museus da cidade. A escultura "Prometeu
Acorrentado", por exemplo, fica
exposta no primeiro andar da Pinacoteca, e "São Jorge" integra o
acervo do MAC. As estátuas vistas
nas ruas e museus provam que o
autor da célebre "Candangos", da
praça dos Três Poderes, em Brasília, também deixou suas marcas
no centro da capital paulistana.
"Podemos considerar Bruno
Giorgi como um dos mais importantes escultores brasileiros. Ele
ilustra as obras de arquitetura da
modernidade e tem uma relação
única com o espaço público", explica a historiadora da arte Piedade Grinberg, autora do livro "Bruno Giorgi 1905-1993" (Metalivros), sobre o escultor.
Segundo ela, exemplos dessa relação de proximidade com os arquitetos, com o espaço e com a
modernidade podem ser vistas
sobretudo no Rio e em Brasília
mas também em São Paulo. "Ele é
fundamentalmente um homem e
um escultor das cidades", diz.
Quanto vale (ou é por quilo)?
Por conta de sua importância
histórica e qualidade estética, é
muito difícil estimar o valor das
obras de Giorgi. Se o preço de
uma pequena estátua em mármore gira em torno de R$ 50 mil, o
valor chega a centenas de milhares de reais quando se trata de
grandes escultura em bronze. "É
impossível estimar com precisão
o valor de grandes obras. Mas
basta pensar na quantidade de
metal que levam para perceber
que os valores são altíssimos", diz
o marchand Jones Bergamin.
E quanto custa o restauro/adoção? O DPH ainda não preparou
as estimativas de custo para o restauro das esculturas de Bruno
Giorgi, mas a lista de orçamentos
já traçados inclui valores que vão
de R$ 15 mil -"Guanabara", de
João Batista Ferri, no Vale do
Anhangabaú- a R$ 220 mil, preço que recebe o restauro da estátua de Duque de Caxias feita por Brecheret.
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