São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTE NA CIDADE

Obras estão na lista de prioridades do Patrimônio Histórico

Estátuas de Bruno Giorgi esperam por pai adotivo

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos mais importantes escultores brasileiros, Bruno Giorgi (1905-1993) tem duas obras com problemas sérios de conservação. Localizadas na praça Dom José Gaspar, as esculturas -a cabeça de Mário Andrade feita em bronze e uma grande estátua de Dante Alighieri feita de pedra- estão pichadas, sujas e com materiais deteriorados. A boca em bronze do poeta modernista foi pintada com "batom" vermelho. Intervenção artística?
As duas esculturas de Giorgi integram a lista das 63 prioridades do programa "Adote uma Obra Artística", concebido pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Prefeitura.
Pensado para que empresas possam estimar os custos, contratar e financiar o restauro e a manutenção das obras em troca de placas de patrocínio, o programa surgiu em 1994, mas só começou a vigorar de fato em 2000, sem muito sucesso. Até hoje, apenas três dos 400 monumentos municipais foram apadrinhados. O mais famoso deles é curiosamente o Obelisco da Memória, que fica no largo de mesmo nome.
"Nós temos um cuidado enorme com as obras, mas não podemos tomar conta de 400 esculturas ao mesmo tempo", diz Regina Ponte, assistente técnica da diretoria do DPH, na espera que mais empresas se interessem pela proposta. "A idéia do projeto é que a empresa adotante vá voltar o foco somente para uma determinada obra e tomar conta de modo que ela esteja sempre bem cuidada."
Segundo ela, a campanha para adoção não significa que as obras não estejam sendo devidamente limpas. O DPH e a Limpurb fazem um rodízio entre os monumentos, o que faz com que os procedimentos de manutenção se dêem em média de dois em dois meses para cada estátua.
"O problema é que existe uma cultura do descuido", diz. "Limpamos, mas no dia seguinte está sujo de novo. Sabemos que as pessoas picham e fazem xixi, mas não temos como manter um posto de guarda 24 horas por dia em 400 pontos da cidade."
De fato, atrás da biblioteca municipal a degradação do cenário é visível: o mato cresce ao redor e o cheiro não conduz propriamente à contemplação artística.

Peça de museu
Se por um lado estão nas ruas, as obras de Giorgi estão também resguardadas nos museus da cidade. A escultura "Prometeu Acorrentado", por exemplo, fica exposta no primeiro andar da Pinacoteca, e "São Jorge" integra o acervo do MAC. As estátuas vistas nas ruas e museus provam que o autor da célebre "Candangos", da praça dos Três Poderes, em Brasília, também deixou suas marcas no centro da capital paulistana.
"Podemos considerar Bruno Giorgi como um dos mais importantes escultores brasileiros. Ele ilustra as obras de arquitetura da modernidade e tem uma relação única com o espaço público", explica a historiadora da arte Piedade Grinberg, autora do livro "Bruno Giorgi 1905-1993" (Metalivros), sobre o escultor.
Segundo ela, exemplos dessa relação de proximidade com os arquitetos, com o espaço e com a modernidade podem ser vistas sobretudo no Rio e em Brasília mas também em São Paulo. "Ele é fundamentalmente um homem e um escultor das cidades", diz.

Quanto vale (ou é por quilo)?
Por conta de sua importância histórica e qualidade estética, é muito difícil estimar o valor das obras de Giorgi. Se o preço de uma pequena estátua em mármore gira em torno de R$ 50 mil, o valor chega a centenas de milhares de reais quando se trata de grandes escultura em bronze. "É impossível estimar com precisão o valor de grandes obras. Mas basta pensar na quantidade de metal que levam para perceber que os valores são altíssimos", diz o marchand Jones Bergamin.
E quanto custa o restauro/adoção? O DPH ainda não preparou as estimativas de custo para o restauro das esculturas de Bruno Giorgi, mas a lista de orçamentos já traçados inclui valores que vão de R$ 15 mil -"Guanabara", de João Batista Ferri, no Vale do Anhangabaú- a R$ 220 mil, preço que recebe o restauro da estátua de Duque de Caxias feita por Brecheret.

Texto Anterior: Coleção Folha: Volume explora grandiosidade de Mahler
Próximo Texto: Crítica: "Madame Lee" desperdiça doidice de Rita
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.