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"A PONTE E A ÁGUA DA PISCINA"
Villela se reconcilia com a delicadeza
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Com "A Ponte e a Água da Piscina", Gabriel Villela se reconcilia com a delicadeza. Isso
não significa que tenha se tornado
sutil: ainda usa despudoradamente o kitsch para desarticular
texto e peça, ostenta o artificialismo da marca e encoraja os atores
ao autodeboche, como se encenasse uma encenação, em ambígua homenagem ao teatro-circo.
Desta vez, porém, Villela compartilha a assinatura da peça. Suas
intervenções não ofuscam o texto
de Alcides Nogueira, que, em vez
de servir de mero pretexto para
associações, se presta bem às desconstruções do encenador e não
subjuga os atores, seus cúmplices.
Trata-se de uma fábula simples
e aberta, na qual mãe castradora
disputa amante com filha. Fazendo pensar no expressionismo de
Ghelderode, em seu universo onírico todos são loucos confinados,
se reinventando no sagrado e se
deleitando na morbidez de incesto e profanação, enquanto a guerra e a seca destróem o mundo.
Chavões de melodrama e uma
retórica cheia de símbolos são desautorizados por intervenções
que beiram o pueril, como a utilização da web enquanto instrumento mágico -e esse lúdico e
sacro faz-de-conta remete, como
assinala bem a cenografia de Serroni, a Arthur Bispo do Rosário.
Para funcionar, é preciso atores
seguros e com humor e isso não
falta ao elenco. Walderez de Barros tem larga experiência para poder brincar de representar, apontando os gestos do melodrama
para depois ressurgir como atriz,
brincando com o sotaque mineiro
de Villela, sem reivindicar a sua
falsa ingenuidade. Com um deboche minimalista, tira de letra a
complexa Sóror Justina, mãe, freira, ex-puta, megera apaixonada,
delirante diretora do manicômio.
O lírico, em contraponto, é garantido por Cláudio Fontana.
Com simplicidade e grande limpeza de gestos, transforma o delírio do arquetípico príncipe salvador em depoimento sincero e de
emoção contida. Vera Zimmermann, a partir de uma voz de boneca e trejeitos de ingênua, consegue passar nas entrelinhas seu
abandono e amor: finge a dor que
deveras sente. Nábia Villela vive
uma aposta arriscada de ser a trilha personificada e sua bela voz
garante encantamento.
Contido, Villela não se dilui. A
delicadeza da montagem faz com
que se veja com mais clareza sua
proposta, que costumava transbordar e sufocar o espetáculo. Às
vezes gira em falso, se desautoriza
sem estabelecer antes um nexo
claro, mas surge enquanto um esboço essencial, que pode preparar, tomara, uma nova fase.
A Ponte e a Água de Piscina
Direção: Gabriel Villela
Onde: CCBB - teatro (r. Álvares
Penteado, 112, tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quando: qui. a dom.: 19h30; até 15/12
Quanto: R$ 15
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