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DVD
"Golias contra o Homem das Bolinhas", de 1969, exibe humorista em filme com Otelo Zeloni; coleção tem outros dois filmes
Caixa recupera Golias na SP dos anos 60
SÉRGIO RIZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Ih, ó a audácia do bofe." Demora um bocado até que Pacífico,
um dos personagens mais populares de Ronald Golias (1929-2005), solte um de seus bordões
clássicos em "Golias contra o Homem das Bolinhas" (1969), penúltimo de seus nove longas-metragens para cinema e o primeiro
lançado em DVD.
O título faz parte do pacote
inaugural da Coleção Herbert Richers, do qual também fazem parte "É de Chuá" (1958), com Ankito e Grande Otelo, e "Entrei de
Gaiato" (1960), com Zé Trindade
e Dercy Gonçalves.
Golias está no título, abre e encerra o filme, mas o protagonista é
o ator italiano Otelo Zeloni (1921-1973), à época seu colega no programa de TV "A Família Trapo"
(1967-1971), no papel de Augusto,
quarentão que trabalha há mais
de 20 anos em uma indústria de
tapetes.
Dominado pela mulher (Zilda
Cardoso), obrigado a sustentar os
sogros e o cunhado, ele se vê confundido com o assassino de Arlete
(Íris Bruzzi), uma loira fatal, porque, além de estar no lugar errado
e na hora errada, usa na ocasião
do crime uma ridícula gravata
azul de bolinhas brancas.
Além da oportunidade de rever
os dois atores, responsáveis por
um dos principais capítulos na
história do humor na televisão
brasileira, essa comédia de costumes com ares de chanchada e trama policial tem interesse quase
antropológico, ao registrar, em locações, a capital paulista no final
dos anos 60. "Veja a Nova São
Paulo - A Cidade que se Humaniza", diz um outdoor, ironia involuntária que o tempo se encarregou de produzir.
Na seqüência dos créditos, Pacífico sai voando -não convém explicar como, mas é coisa de Golias- e, depois de quase trombar
no edifício Itália, passa pelo hotel
Hilton da avenida Ipiranga ainda
em construção (o prédio em
obras será palco de outra cena),
por um Vale do Anhangabaú com
um desenho muito diferente de
hoje e pelo Museu do Ipiranga.
Augusto conhece Arlete em um
bar do Conjunto Nacional, com
mesas em ampla calçada (o dobro
da largura atual) de uma avenida
Paulista incrivelmente tranqüila.
Do lado oposto, operários erguem o Center 3. E como a cidade
acompanha o caso do assassino
da gravata? Pelas manchetes do
extinto diário "Notícias Populares".
"Golias contra o Homem das
Bolinhas" foi o último dos seis
longas-metragens do comediante
produzidos por Herbert Richers,
o único deles colorido e o quinto
assinado por Victor Lima.
Lima também dirigiu "Os Três
Cangaceiros" (1959), com Ankito
e Grande Otelo, "Tudo Legal"
(1960), com Jô Soares, "O Homem que Roubou a Copa do
Mundo" (1961) e "Os Cosmonautas" (1962), ambos com Grande
Otelo -que co-estrelou ainda "O
Dono da Bola" (1961), dirigido
por J. B. Tanko.
Sem Richers, Golias atuou em
"Marido Barra Limpa" (rodado
em 1957, mas finalizado dez anos
depois), de Luiz Sérgio Person,
"Vou te Contá" (1958), de Alfredo
Palácios, e "Agnaldo, Perigo à
Vista" (1969), de Reynaldo Paes
de Barros.
"Golias ia bem na TV quando o
convenci a trabalhar comigo", diz
Richers, 82. "Sua agenda era difícil, por causa do trabalho na televisão, o que dificultava as filmagens. Seus filmes não fizeram sucesso como os de Oscarito, mas
foram bem. O de maior bilheteria
foi "Os Três Cangaceiros"."
Richers
Ex-funcionário da Atlântida, Richers começou a trabalhar no cinema em 1941 e abriu sua produtora em 1948, com o objetivo de
fazer cinejornais.
Em 1955, já produzindo longas
de ficção, comprou as instalações
da Brasil Vita Filmes, de Carmen
Santos, no Rio de Janeiro, onde
funciona até hoje, com 11 estúdios
de dublagem e dois para filmagem.
No período mais prolífico, orgulha-se de ter produzido cinco
longas por ano. "Em alguns casos,
levávamos apenas 45 dias do início das filmagens até o lançamento", afirma Richers.
"Como não havia financiamento à produção, o dinheiro investido precisava retornar logo. Isso
forçava os produtores a fazer filmes para o grande público; caso
contrário, eles não davam dinheiro e comprometiam a sobrevivência. Hoje, os produtores fazem filmes para ganhar dinheiro fazendo os filmes, sem se preocupar se
eles terão bilheteria ou não."
O portfólio de longas-metragens de Richers, composto por 60
títulos, é bem mais diversificado
do que se costuma imaginar.
Ao lado de comédias com Golias, Ankito, Grande Otelo e Zé
Trindade, sua produtora realizou
"Assalto ao Trem Pagador" (62),
de Roberto Farias, e "Vidas Secas"
(64) e "Fome de Amor" (68), ambos de Nelson Pereira dos Santos,
além de distribuir filmes como
"Boca de Ouro" (62), também de
Nelson Pereira, e "Os Cafajestes"
(62), de Ruy Guerra.
"Sempre me dei muito bem
com o pessoal do cinema novo.
Distribuí vários filmes deles", diz.
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