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Crítico tratou literatura e país como "processos"
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Walnice Nogueira Galvão, professora titular de literatura da USP, a grandeza e a inovação representadas por "Formação da Literatura Brasileira"
estão no fato de Antonio Candido ter apresentado tanto o Brasil quanto a literatura brasileira
não como entidades prontas,
dadas, que teriam sempre existido -ou, ao menos, desde Cabral-, mas como "duas coisas
que se constituíram".
É da articulação dessas duas
constituições -para ela projetos da elite brasileira, tanto o
Estado como a literatura nacional- que Candido deriva seu
modelo.
Walnice afirma que a literatura brasileira é apresentada
por Candido como "um projeto
da elite", mas que também existe, em parte, independentemente dela. "É e não é, ao mesmo tempo, autônoma".
"O que havia de inovador é isso: que ele pensava o Brasil e
sua literatura como processos.
Ninguém até então tinha pensado a construção da literatura
e do país dessa maneira", afirma Walnice.
Alcir Pécora, professor de
teoria literária da Unicamp, diz
que "Formação da Literatura
Brasileira" ainda é o principal
modelo utilizado no país para
pensar o conjunto histórico da
literatura brasileira.
Quase 50 anos depois, ele diz,
"ainda é o estudo que tem a
maior amplitude e que é o mais
aplicado". "O modelo é muito
consistente em sua formulação
e consegue dar conta de muita
coisa. É abrangente e, ao mesmo tempo, dá conta de muitas
obras particulares", afirma.
O professor da Unicamp, no
entanto, lembra que duas críticas são possíveis a esse modelo.
A primeira é de que ele é
"pouco aplicável a alguns objetos", a algumas obras que se encontram fora do viés e do período privilegiado por Candido -e
aí se inclui boa parte da produção feita na América portuguesa no período colonial, anterior, portanto, ao processo de
constituição do "sistema".
O outro ponto problemático,
nos dias que correm, é a crítica
constante quanto a qualquer
possibilidade de narrativa histórica. Modelos, para a crítica
contemporânea, ele diz, parecem não dar conta da "multiplicidade, dos acasos", da contingencialidade das obras.
Esta, no entanto, não é uma
crítica específica a Candido,
mas a toda tentativa de sistematização e de dar "sentido" à
história. "Como criticar o que
não tem lei?", pergunta Pécora.
(RC)
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