Vocalista do Del Rey mistura influências que vão de Roberto Carlos a Iggy Pop

Disco foi gravado em Recife e contou com músicos de bandas da região, como Nação Zumbi, Mombojó e Bonsucesso Samba Clube

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o "grande" público da cena independente nacional, ele é apenas o sacolejante vocalista do Del Rey, banda de Recife que recria as músicas da melhor safra de Roberto Carlos (anos 60 e 70) e costuma lotar casas alternativas de shows.
Mas o cantor e compositor China, 28, é muito mais do que mero cover do Rei. Se for para ficar no campo das comparações, basta dizer que ele é uma versão mais suingada do insano Iggy Pop. E, na questão regional, trata-se do frontman mais carismático de Recife desde a morte de Chico Science, em 1997. Ou seja, um "Simulacro" de personalidades, como ele mesmo define no título de seu ótimo primeiro CD solo.
"Cada faixa do disco lembra algum artista. Fui no dicionário buscar a definição de "simulacro" e achei coisas como "simulação", "cópia imperfeita'", explica China. "Como eu não sei tocar [violão e guitarra] direito, tudo sai meio tosco. Quando tentava tocar alguma música do Jorge Ben Jor ou do Roberto, saía uma coisa diferente. Daí fui roubando uma nota de um, uma nota de outro, para criar minhas músicas, mas tudo com o maior respeito", completa ele, em tom de brincadeira.
O resultado, no entanto, não é mero pastiche. China mostra-se legítimo representante da moderna música brasileira, geração aberta a todos os tipos de influências e que consegue criar algo novo dentro disso.
"Simulacro" lembra a alegria do Del Rey relendo a jovem guarda, em "Jardim de Inverno"; a psicodelia de seus colegas do Mombojó, em "Um Dia Lindo de Morrer"; e as loucuras dos Mutantes, em "Câncer".
Neste disco, produzido por Pupillo (Nação Zumbi), China toma rumo diferente do samba indie de seu EP "Um Só" (2004) e do hardcore do Sheik Tosado, sua antiga banda. Incomoda o fato de ser conhecido como "o carinha do Del Rey?" e não ter shows solo tão lotados quanto os da banda? "Antes eu ficava chateado, hoje não. Até quero ser o Rei, mas com minhas próprias composições."