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CINEMA
Os diretores Eduardo Escorel e José Joffily acompanham a trajetória de seis candidatos a vereador no Rio de Janeiro
Documentário aborda o fascínio pela política
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
"Vocação do Poder" desafia as probabilidades mais
negativas. O que esperar de um
documentário sobre política em
tempos de tão absoluto descrédito, e que ainda por cima se detém
em sua ponta considerada menos
"nobre" (as campanhas eleitorais
para a Câmara de Vereadores)?
Os mais céticos decretariam logo:
nada. Mas "Vocação do Poder"
oferece uma grata surpresa. Não
se trata apenas de um documento
sobre o dia-a-dia de uma campanha eleitoral -o filme é uma obra
envolvente, capaz de seduzir o espectador sem forçar a barra e, assim, gerar interesse genuíno pelos
seis personagens que a câmera segue em sua luta por votos.
O lançamento de "Vocação do
Poder" no meio do turbilhão dos
escândalos políticos pode gerar
expectativas falsas. O documentário não é nem pretende ser uma
reportagem investigativa em torno das origens do dinheiro das
campanhas. O interesse de Eduardo Escorel e José Joffily, que assinam juntos a direção, é outro.
Do lado de Escorel, "Vocação
do Poder" mantém forte coerência com toda sua trajetória de documentarista, que sempre teve a
política como centro. Para Joffily,
o filme representa a continuidade
da linha iniciada em "O Chamado
de Deus" (2000), sobre a descoberta da vocação religiosa entre
jovens brasileiros.
"Vocação" reúne, portanto,
dois pontos de vista complementares: às abordagens de questões
políticas tradicionais somou-se o
interesse pelo desejo que leva as
pessoas a investir em uma carreira não-convencional. Os seis personagens são marinheiros de primeira viagem, a maior parte deles
jovens entre 20 e 30 anos -com
exceção da pastora evangélica
Márcia Teixeira, 45-, todos empreendendo pela primeira vez a
maratona de uma campanha,
com níveis variados de envolvimento, garra e expectativa.
A primeira idéia interessante,
portanto, é a de mostrar que há
jovens interessados em política,
exceções que desafiam o senso comum, contra o clichê da juventude despolitizada. Isso permite que
o estranhamento inicial dê lugar a
uma identificação e ao envolvimento gradual do espectador no
processo da campanha eleitoral.
Não há como segurar a curiosidade para saber quais dos personagens do filme serão eleitos.
O segundo ponto interessante
está na própria escolha dos candidatos, que representam partidos
políticos e regiões diferentes do
Rio, mas nem por isso perdem
sua singularidade para se tornarem meros símbolos representativos. Esse aspecto se deve ao olhar
lançado pelos documentaristas,
que evita julgamentos e, ao mesmo tempo, não busca o inalcançável "olhar isento". Há um ponto
de vista, mas também há uma
abertura aos caminhos que cada
campanha tomará -e é esse aspecto que guia o documentário,
até a apuração dos votos.
Vocação do Poder
Direção: Eduardo Escorel e José Joffily
Produção: Brasil, 2005
Quando: em cartaz a partir de hoje no Espaço Unibanco 2
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