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ÚLTIMA MODA
De pai para FILHA (e vice-versa)
O estilista Tufi Duek, dono da
Forum e da Triton, fez de tudo para convencer Carina,
sua filha mais velha, de que
não valia a pena ela se meter com
o mundo da moda. "Está louca?
Não vê como eu trabalho? Não
vai ter mais sossego", alertou.
A garota, porém, bateu o pé, entrou para o curso de moda da
Santa Marcelina, foi convidada
para os desfiles da Semana de
Criadores, em São Paulo, viajou
para Nova York para cursar a escola Parsons de design e fundou
em 2004 sua própria grife: Carina
Duek, que está lançando neste
mês sua coleção de alto verão.
Tufi teve que ceder. Por fim,
emprestou a estrutura da empresa para ela criar e negociar as peças. E avisou: "Aqui, você não é
minha filha, é uma marca".
Na escola de moda, a herdeira
da Triton e da Forum cansou de
ouvir insinuações maliciosas sobre o seu talento. "Até hoje ainda
ouço. Mas aprendi a lidar com isso." Decidiu, então, que não colocaria suas roupas nas lojas do pai.
A empresa queria vender as coleções de Carina na Triton, mas ela
não deixou. "Você encontra as
roupas dela aqui perto, em outras
lojas, mas não aqui dentro", diz
Tufi, na loja principal da Forum,
na rua Oscar Freire.
A grife Carina Duek não dá prejuízo, mas também não dá lucro
para a empresa de Tufi Duek. "Ela
tem um prazo para amadurecer
comercialmente", afirma o pai,
que prefere não interferir na criação da filha. "Só critico a coleção
depois de pronta."
Eles são muito diferentes como
designers -e tentam descobrir
por quê. "A mulher da Forum é
mais sexy e senhora de si", diz Carina, 27. "A mulher de Carina é
intimista e preserva certa ingenuidade, ainda tem algo
de menina", diz Tufi, 50.
"Ela pode ser menina
ou mulher, conforme a
conveniência", retruca
Carina. Tufi insiste na
dimensão comercial da
moda. Para ele, a consagração de um design é o seu sucesso de vendas. Carina concorda, mas avisa: "Não quero ter
uma grande empresa, pois sou
perfeccionista e perderei o controle da criação. Penso em ter um
negócio menor, um ateliê".
Tufi observa a filha com uma
ponta de orgulho. Ele também
tem novos planos. "Não me sinto
realizado profissionalmente",
confessa.
Por isso mesmo, vai inaugurar
no ano que vem uma loja nos Jardins com o seu próprio nome,
consolidando a grife Tufi Duek,
de roupas sofisticadas e mais caras. "A inauguração será em junho ou julho", revela. "A Tufi
Duek vai me permitir não preocupar com o resultado financeiro. A
Forum chegou num limite e não
pode ir mais longe. Terei maior liberdade criativa", diz.
Carina observa o pai com uma
pitada de orgulho. Ela está começando. Ele está recomeçando.
MADE IN GERMAN
A Hugo Boss quer recuperar o seu conceito no Brasil.
As roupas da loja inaugurada na última terça no shopping Iguatemi, em SP, virão
da Alemanha. O prestígio da
marca entrou em declínio no
país depois que as peças passaram a ser produzidas aqui,
com qualidade duvidosa.
DO LADO DE FORA
Estilistas que participam da
São Paulo Fashion Week já estão à procura de espaços inusuais para os desfiles. A Cavalera montará sua passarela no
Museu do Ipiranga. Lorenzo
Merlino vai apresentar sua coleção no teatro Sérgio Cardoso,
no Bixiga. O centro nervoso do
evento (em janeiro) ficará,
mais uma vez, no prédio da
Bienal, no Ibirapuera.
AGRIDOCE
O tema da nova edição
da cultuada revista "Visionaire" é o paladar, interpretado por artistas como
David Sims, Jenny Holzer
e Bruce Weber e o chef catalão Ferran Adrià. Yoko
Ono, uma das convidadas,
resumiu o tema com a foto
de um seio.
À MEIA-NOITE LEVAREI SEU VESTIDO
"Esta Noite
Encarnarei no
Teu Cadáver";
à dir., look de Herchcovitch
Alexandre Herchcovitch
vai receber em breve um
convite do além. José Mojica,
criador do personagem Zé
do Caixão, oferecerá ao estilista o papel principal no filme "Horror na Passarela",
um dos três episódios do longa-metragem "Transplante Demoníaco".
"Horror na Passarela" narra a história de
um estilista que, após
ser traído pelo rival
malvado, conta com
a ajuda de uma modelo morta para fazer
seu desfile. O cineasta
quer que Herchcovitch interprete o
fashionista
bonzinho.
"O Alexandre
é uma ótima pessoa. No
mundo da moda há muitos
invejosos, muitos intrigantes, mas também existem
boas almas", diz Mojica. Ocimar Versolato não está previsto para o papel do estilista
vilão. Herchcovitch, que lançou uma coleção inspirada em Zé do Caixão em
2004, receberá a proposta na semana que
vem. Nas temporadas
de desfile, aliás, não é
difícil encontrar referências à estética de
Zé do Caixão. Alguns
maquiadores, por
exemplo, adoram deixar as modelos com
aquela cara de quem
acabou de escapar do
mundo dos mortos.
A China é um luxo
A Chanel inaugurou na
última segunda-feira uma
loja de cinco andares em
Hong Kong, a segunda da
maison francesa na China
-a outra fica em Pequim.
A Louis Vuitton também
abriu, em novembro, um
novo espaço na capital chinesa, de três andares.
A China é a nova meca do
luxo mundial. É para lá -e
não para o Brasil- que as
marcas mais sofisticadas estão se dirigindo.
Segundo um estudo da
Merryll Lynch, a China continental representa hoje entre 1% e 3% da renda do setor de luxo. Em 2014, será
responsável por 24%.
Caso isso ocorra, os chineses vão superar os americanos no consumo de bens
de luxo. Hoje, os EUA são o
segundo maior consumidor desses produtos. O Japão é o primeiro: consome
41% de todos os itens de luxo, de acordo a consultoria
Ernst and Young.
A China, que é formalmente um regime comunista, tem hoje cerca de 300 mil
milionários, diz o jornal "Le
Monde". Por causa do forte
crescimento da economia
(9,5% ao ano), o número de
ricos não pára de crescer.
ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br
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