São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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ÚLTIMA MODA

De pai para FILHA (e vice-versa)

O estilista Tufi Duek, dono da Forum e da Triton, fez de tudo para convencer Carina, sua filha mais velha, de que não valia a pena ela se meter com o mundo da moda. "Está louca? Não vê como eu trabalho? Não vai ter mais sossego", alertou.
A garota, porém, bateu o pé, entrou para o curso de moda da Santa Marcelina, foi convidada para os desfiles da Semana de Criadores, em São Paulo, viajou para Nova York para cursar a escola Parsons de design e fundou em 2004 sua própria grife: Carina Duek, que está lançando neste mês sua coleção de alto verão.
Tufi teve que ceder. Por fim, emprestou a estrutura da empresa para ela criar e negociar as peças. E avisou: "Aqui, você não é minha filha, é uma marca".
Na escola de moda, a herdeira da Triton e da Forum cansou de ouvir insinuações maliciosas sobre o seu talento. "Até hoje ainda ouço. Mas aprendi a lidar com isso." Decidiu, então, que não colocaria suas roupas nas lojas do pai. A empresa queria vender as coleções de Carina na Triton, mas ela não deixou. "Você encontra as roupas dela aqui perto, em outras lojas, mas não aqui dentro", diz Tufi, na loja principal da Forum, na rua Oscar Freire.
A grife Carina Duek não dá prejuízo, mas também não dá lucro para a empresa de Tufi Duek. "Ela tem um prazo para amadurecer comercialmente", afirma o pai, que prefere não interferir na criação da filha. "Só critico a coleção depois de pronta."
Eles são muito diferentes como designers -e tentam descobrir por quê. "A mulher da Forum é mais sexy e senhora de si", diz Carina, 27. "A mulher de Carina é intimista e preserva certa ingenuidade, ainda tem algo de menina", diz Tufi, 50. "Ela pode ser menina ou mulher, conforme a conveniência", retruca Carina. Tufi insiste na dimensão comercial da moda. Para ele, a consagração de um design é o seu sucesso de vendas. Carina concorda, mas avisa: "Não quero ter uma grande empresa, pois sou perfeccionista e perderei o controle da criação. Penso em ter um negócio menor, um ateliê".
Tufi observa a filha com uma ponta de orgulho. Ele também tem novos planos. "Não me sinto realizado profissionalmente", confessa.
Por isso mesmo, vai inaugurar no ano que vem uma loja nos Jardins com o seu próprio nome, consolidando a grife Tufi Duek, de roupas sofisticadas e mais caras. "A inauguração será em junho ou julho", revela. "A Tufi Duek vai me permitir não preocupar com o resultado financeiro. A Forum chegou num limite e não pode ir mais longe. Terei maior liberdade criativa", diz.
Carina observa o pai com uma pitada de orgulho. Ela está começando. Ele está recomeçando.

MADE IN GERMAN
A Hugo Boss quer recuperar o seu conceito no Brasil. As roupas da loja inaugurada na última terça no shopping Iguatemi, em SP, virão da Alemanha. O prestígio da marca entrou em declínio no país depois que as peças passaram a ser produzidas aqui, com qualidade duvidosa.

DO LADO DE FORA
Estilistas que participam da São Paulo Fashion Week já estão à procura de espaços inusuais para os desfiles. A Cavalera montará sua passarela no Museu do Ipiranga. Lorenzo Merlino vai apresentar sua coleção no teatro Sérgio Cardoso, no Bixiga. O centro nervoso do evento (em janeiro) ficará, mais uma vez, no prédio da Bienal, no Ibirapuera.

AGRIDOCE
O tema da nova edição da cultuada revista "Visionaire" é o paladar, interpretado por artistas como David Sims, Jenny Holzer e Bruce Weber e o chef catalão Ferran Adrià. Yoko Ono, uma das convidadas, resumiu o tema com a foto de um seio.

À MEIA-NOITE LEVAREI SEU VESTIDO

"Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver"; à dir., look de Herchcovitch Alexandre Herchcovitch vai receber em breve um convite do além. José Mojica, criador do personagem Zé do Caixão, oferecerá ao estilista o papel principal no filme "Horror na Passarela", um dos três episódios do longa-metragem "Transplante Demoníaco".
"Horror na Passarela" narra a história de um estilista que, após ser traído pelo rival malvado, conta com a ajuda de uma modelo morta para fazer seu desfile. O cineasta quer que Herchcovitch interprete o fashionista bonzinho. "O Alexandre é uma ótima pessoa. No mundo da moda há muitos invejosos, muitos intrigantes, mas também existem boas almas", diz Mojica. Ocimar Versolato não está previsto para o papel do estilista vilão. Herchcovitch, que lançou uma coleção inspirada em Zé do Caixão em 2004, receberá a proposta na semana que vem. Nas temporadas de desfile, aliás, não é difícil encontrar referências à estética de Zé do Caixão. Alguns maquiadores, por exemplo, adoram deixar as modelos com aquela cara de quem acabou de escapar do mundo dos mortos.

A China é um luxo

A Chanel inaugurou na última segunda-feira uma loja de cinco andares em Hong Kong, a segunda da maison francesa na China -a outra fica em Pequim. A Louis Vuitton também abriu, em novembro, um novo espaço na capital chinesa, de três andares.

 

A China é a nova meca do luxo mundial. É para lá -e não para o Brasil- que as marcas mais sofisticadas estão se dirigindo.
 

Segundo um estudo da Merryll Lynch, a China continental representa hoje entre 1% e 3% da renda do setor de luxo. Em 2014, será responsável por 24%.
 

Caso isso ocorra, os chineses vão superar os americanos no consumo de bens de luxo. Hoje, os EUA são o segundo maior consumidor desses produtos. O Japão é o primeiro: consome 41% de todos os itens de luxo, de acordo a consultoria Ernst and Young.
 

A China, que é formalmente um regime comunista, tem hoje cerca de 300 mil milionários, diz o jornal "Le Monde". Por causa do forte crescimento da economia (9,5% ao ano), o número de ricos não pára de crescer.

ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br

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