São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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YouTube leva novata a Sundance

Clarice, 18, protagoniza curta vencedor de concurso na internet, que será exibido em festival de cinema

Filha de Adriana e João Falcão, que cantou na trilha de "Lisbela", também compôs música do vídeo "Laços", visto mais de 145 mil vezes na web

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

É Clarice, sem complemento, o nome "artístico" da menina que estrela a única produção nacional a ser exibida em janeiro próximo no Festival Sundance (EUA), o maior do cinema independente no mundo.
Ela está em "Laços", de Flávia Lacerda, que venceu o concurso internacional de curtas do YouTube, na última quarta, após passar por seleção da equipe do cineasta Jason Reitman ("Obrigado por Fumar") e pelo crivo de internautas do mundo todo. A exibição em Sundance faz parte do prêmio.
O sobrenome que omite é conhecido. Clarice é filha do diretor João Falcão e da roteirista Adriana Falcão, ambos de "A Máquina" -Adriana fez também o roteiro de "Laços". "É que "Clarice" é forte sozinho. Como penso em fazer algo em música, funciona assim", diz a moça de 18 anos, pele branquinha e sotaque entre o sulista e o paulistano, embora seja de Recife e more no Rio desde pequena ("É, todos acham que falo estranho...", conforma-se).
A história da menina que conhece um rapaz bizarro após a morte do pai ganhou de não se sabe quantos concorrentes (o Google não divulga) nem com quantos votos (idem). Mas superou ao menos 19 produções de outros cinco países que estavam na final, mais dezenas que não chegaram perto.
O vídeo custou pouco mais de R$ 2.000, rendeu US$ 5.000 (cerca de R$ 9.000) e deu a Clarice aquela espécie de reconhecimento imediato que a internet permite -não de ser parada nas ruas, mas de receber e-mails e scraps de congratulações. Até a noite da última quinta-feira, sua atuação tinha sido vista 145 mil vezes.

Atriz, cantora, cineasta
Clarice ainda não sabe em que circunstância "Laços" será exibido em Sundance nem se conseguirá tirar visto a tempo de ir lá ver com os próprios olhos. "Só ligaram pra gente pra dizer que vão ligar depois", diz.
Mas percebeu que, até mais que sua atuação, o que chamou a atenção dos internautas foi a música de abertura do curta, o popzinho meigo "Australia", com letra em inglês, composto e cantado por ela própria.
A música foi feita para "Laços" em um dia, assim como a melodia -ou parte dela, já que o primo Ricco Viana, músico, deu uma força depois. "Só sei três acordes", desculpa-se a ex-aluna de canto e teatro.
A moça tem outras canções que não mostra a ninguém. Com os elogios a "Australia", pensou em montar uma página no MySpace (o endereço www.myspace.com/clarice está ocupado. Talvez usar o sobrenome ajude). Não sabe ainda se fará isso, assim como não tem certeza de se quer seguir carreira como cantora, cineasta, roteirista, atriz...
Experiência, com a ajuda da família, ela tem. O pai a pôs no elenco da peça infantil "A Ver Estrelas" e do filme "Fica Comigo" (2006), e também na trilha de "Lisbela e o Prisioneiro" (2003) -em que ela canta, com menos graça do que canta hoje, "Para o Diabo os Conselhos de Vocês". Para a mãe, foi garota-propaganda do livro "Luna Clara e Apolo 11", e ainda arriscou uns versos na banda do primo Ricco, a Vermelho 27.
Os planos de ser cineasta encontraram um atalho quando ela conseguiu uma vaga na PUC ao fim do segundo ano colegial. "Não podia, mas fiz supletivo e entrei. Não ia estudar para vestibular se já tinha passado!"
Ao fim do terceiro semestre, a caçula da turma acha que a idade passa despercebida. "Quase ninguém sabe. Quando descobrem, dizem: "Que fofa!", e depois esquecem." Foi na faculdade que ficou mais amiga de Célio Porto, 17, o tal rapaz que encontra em "Laços". Com ele, criou e atuou ainda em outro curta, "Dois Menos Dois" -no qual, sem nenhuma fala, o amigo até que se sai bem.

Veja os curtas-metragens "Laços" e "Dois Menos Dois" folha.com.br/ilustradanocinema

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