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Filme exibe em Berlim "capitalismo de desastre"
Longa de Michael Winterbottom prega resistência e busca por novo modelo econômico
"A Doutrina do Choque", exibido ontem no festival, traça um painel da implementação de ideias do economista Milton Friedman
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Imagens da posse do presidente dos EUA, Barack Obama,
no último dia 20, estão no novo
filme do diretor britânico Michael Winterbottom ("O Caminho para Guantánamo"), codirigido por Mat Whitecross.
O documentário "A Doutrina
do Choque", exibido ontem no
Festival de Berlim, prega resistência (à teoria da desregulação
do mercado personificada pelo
economista Milton Friedman)
e ação popular, por outro "new
deal", que remodele a economia mundial.
O paralelo entre Obama e
Franklin Roosevelt, o presidente americano que atravessou a Grande Depressão nos
anos 1930, é feito pela jornalista Naomi Klein, em cujo livro
("A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo de Desastre") o filme se baseia.
Winterbottom disse que
aceitou o convite de Klein por
achar o livro "muito potente" e
ver nele "a oportunidade de falar desses acontecimentos de
uma perspectiva particular".
Com numerosas imagens de
arquivo, "A Doutrina do Choque" se propõe a traçar um painel da implementação das
ideias de Friedman e seu grupo
de colaboradores na universidade, os "meninos de Chicago",
em distintas partes do mundo,
a começar pela América Latina.
O golpe que depôs e matou
Salvador Allende no Chile é citado como primeiro exemplo
de que o "incontrolável cassino
capitalista" resultante das teorias de Friedman requereu regimes totalitários para se estabelecer fora dos EUA.
"No mundo anglofônico
[EUA e Reino Unido]", as guerras, a começar pela das Malvinas (1982), sob o comando de
Margareth Thatcher, foram o
elemento impulsionador da
economia de livre mercado,
sustenta o filme.
Klein participa do longa entrevistando pessoas e em extratos de palestras que profere,
com a intenção por ela declarada de impedir que a "memória
coletiva" se deixe tomar por
uma enviesada versão da história do tempo corrente.
"A Doutrina do Choque"
compara as vítimas civis da
Guerra do Iraque com os desaparecidos durante a ditadura
argentina (1976-83), igualando-os à condição de "pessoas
que se opuseram" ao regime
econômico que se tentou impor
em seus respectivos países.
A estranhar no filme é sua
trilha sonora pouco inventiva,
considerando que Whitecross
prepara agora um documentário sobre a banda Coldplay.
Ecoando o chamado de Klein
pelo engajamento popular,
Whitecross disse, ontem: "O fato de Obama estar na presidência não significa que as coisas
vão ficar melhores ou piores.
Cabe às pessoas pressionarem
a administração dele".
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