São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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comida

Viajar para comer

LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

Cris Torres, 28, passou pela Tailândia e não comeu larvas cozidas. De resto, provou tudo que encontrou de comestível nos mercados e nas ruas da África e da Ásia, desde 27 de junho de 2010.
Foi nessa data que partiu com o marido, o fotógrafo Marcos Gadaian, 40, para dar uma volta ao mundo. Volta ao mundo para comer.
De uma ilha da Malásia, a publicitária conversou com a Folha já de madrugada, por telefone. Perdeu a primeira entrevista -teve de "sair correndo para fazer fotos" do Ano-Novo chinês. Justo.
No roteiro, de orçamento contido (em média US$ 70 por dia para os dois), estão 29 países e "não sei quantas cidades". As experiências, ela registra num blogue (www.viajarcomgosto.com), que pretende desdobrar em livro.
Da memória, puxa a fábrica de pão-pita da Jordânia, a produção de amêndoas açucaradas na Síria, os peixes fresquíssimos do Japão.
Mais: da plantação de arroz perto do centro de Bali, da experiência de comer com as mãos na Malásia, do Natal improvisado (peixe grelhado com saladinha de repolho).
Já o publicitário Fernando Brandt, 26, rodou cinco continentes em dois meses. Mas a proposta era outra. Ganhou um concurso de uma companhia aérea e saiu em busca de brasilidades.
Não foi em todo lugar que achou uma churrascaria chamada Carnaval, como em Pequim, ou um restaurante servindo feijoada, como o de um shopping na África do Sul.
Mas aproveitou para comer carne de antílope, pato laqueado e escorpião.

DESENHOS E NOTAS
Uma maleta de couro, feita à mão sob medida, foi substituída por "malas caindo aos pedaços". Já faz uns tempos que o artista plástico Rubens Matuck, 57, carrega ali seus cadernos e suas aquarelas e seus pincéis. Seja para a Amazônia ou para a China.
E nos papéis -cuidadosamente selecionados por sua mulher, a curadora de fotografia Rosely Nakagawa, 57, depois reunidos em cadernos também feitos por ela - ele toma notas e faz desenhos.
Aparecem aquarelas de biscoito trançado, de folhas de gingko. Ao lado, estão colados cardápios escritos com ideogramas chineses e sua tradução (carpa ao molho agridoce, sopa borbulhante, lula apimentada com soja).
"Trabalho manual é muito ligado à comida. Na China, por exemplo, os cozinheiros faziam cursos de escultura.
Eles esculpem melão, flores de cenoura", diz Matuck. Da China, Rosely lembra do bairro de bules de uma cidadezinha próxima a Xangai, dos tipos de arroz, dos pastéis de um restaurante de sete andares, lotado, de "serviço impecável e silencioso".
Faz uma pausa para contar com mais detalhes sobre o café da manhã oriental. "É um pequeno almoço. Tem arroz, carne, peixe, fruta, ovo, verdura. Tudo cozido."
Do Japão, lembra dos campos de chá e da produção de papel. "No inverno eles interrompem a plantação de chá e produzem papel, que é a melhor época, não dá fungo."
Rosely, que na década de 70 espalhava mapas no ateliê para o casal escolher destinos, rememora um ensinamento de um amigo: "Sempre desconfie de uma pessoa que não gosta de comer".
Eles levam a sério.

Colaborou CRISTIANA COUTO, de São Paulo


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