São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arquivos de Ben Jor viram CD de inéditas

Cantor retrabalhou gravações antigas, encontradas no acervo da Som Livre

Além do novo álbum, três discos dos anos 80 ganham relançamento em CD; DVD com programa de 1982 completa o pacote


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com 44 anos de carreira em disco, Jorge Ben -hoje Jor- passou por e desencadeou algumas revoluções na música brasileira. Em seu começo pós-bossa nova e pré-jovem guarda e tropicália, mostrou novas possibilidades do samba moderno, com "Mas Que Nada" e seu "Samba Esquema Novo". Entre o fim da década de 60 e começo de 70, fez sucesso na voz de Wilson Simonal, teve um segundo auge e, ao lado do Trio Mocotó, criou um som a partir do qual se gerou todo um estilo, o samba-rock.
Quando chegou a década de 80, passou por fase de transição, sem tanto sucesso, mas fundamental para seu próximo passo: a mudança para Ben Jor e o sucesso de "W/Brasil", música que alguns consideram o ponto máximo de definição de sua obra mais recente.
É exatamente essa fase de transição, que transcorreu aproximadamente entre 1979 e 1986, que volta a ganhar destaque na carreira do compositor. A gravadora Som Livre, que abrigava Jorge Ben nesse período, resolveu sacudir a poeira de seu acervo e relançar em CD três discos que continuavam inéditos no formato.
Nessa empreitada, aconteceu uma surpresa: durante o processo de redescoberta das masters, a equipe da gravadora encontrou um punhado de canções inéditas, sobras das gravações oficiais. A idéia original era incluí-las como faixas bônus, mas Ben Jor, que ouviu e se animou, resolveu retrabalhá-las e lançar tudo em um disco novo, todo inédito. Nasce, assim, "Recuerdos de Asunción 443" -nome que homenageia a própria Som Livre, com sede na rua Assunção, 443.
"Gostei de reconhecer essas músicas que fiz há 20 anos e das quais nem me lembrava", comentou Ben Jor por trás de seus habituais óculos escuros, em entrevista coletiva no começo da semana. "Algumas dessas músicas foram feitas sob encomenda, algumas para trilhas de novela, e não foram aceitas. Algumas tinham letras inacabadas ou faltava algum instrumento, então eu fiquei mais ou menos dois meses completando as gravações."
Aproveitando o embalo, o cantor incluiu ainda uma faixa bônus recém-gravada, a improvável "Emo", de surreais versos como "pra você, meu amigo emo / muita luz, muito sol".
"Acho o emo uma coisa maravilhosa, eles se vestem como querem, falam com os amigos na internet, são alegres e tristes, tudo no mesmo dia, ao mesmo tempo.", explica Ben Jor.
Bizarrices à parte, sai também agora no mesmo pacote (mas esse pela Biscoito Fino) o espalhafatoso DVD "Energia", com especial de Ben na TV Globo em 1982, com participações de Baby Consuelo, Tim Maia, Caetano Veloso e Fábio Jr.

Para 2008
E a fonte ainda não secou. Ben Jor admite que praticamente todos os seus discos têm sobra de estúdio, graças ao seu ritmo prolixo de gravação. A idéia é relançar os outros quatro discos que o músico fez na Som Livre e, no ano que vem, embalar tudo em uma caixa. Marcus Vinicius Castro, coordenador de produto da gravadora, contou à Folha que já foram dados "oito de dez passos" para que o novo disco de Ben Jor, de inéditas, saia pela gravadora no ano que vem.
E como a controvérsia do momento é a biografia interditada de Roberto Carlos, o assunto veio à tona. Ben Jor, defendendo a classe com uma certa ingenuidade, apoiou o gesto do colega de profissão: "Biografia você tem que estar a par. O Washington Olivetto está fazendo uma minha e já me disse que lança só quando eu achar que é o momento certo".


Texto Anterior: Marcos Augusto Gonçalves: Manos
Próximo Texto: Crítica: CDs e DVD têm clima bizarro dos anos 80
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.