COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ninguém passou imune aos anos 80. Para a música brasileira parece ter sido um momento especialmente difícil: o rock e a new wave chegaram às paradas com tal força que todos os músicos da chamada MPB tiveram que se modernizar a toque de caixa. Talvez na época tudo parecesse normal, mas poucas coisas hoje parecem piores do que os timbres e figurinos da década.
Na música de Jorge Ben, que sempre funcionou a partir de suas melodias soltas e do suingue de seu violão/guitarra, o entorno exageradamente metido a modernizações parece funcionar contra a própria música. Nos três discos agora relançados, que saíram originalmente entre 1983 e 1986, o que predomina são os vários teclados e timbres sintetizados de bateria, chegando a extremos como vozes computadorizadas e viradas absurdas de bateria.
Também não conta a favor o fato de entre as composições de Ben não haver nenhum clássico como os que havia lançado até dez anos antes. Ainda assim, é uma fase importante de transição de um de nossos mais importantes músicos, e valem, ainda que só pela curiosidade mórbida.
No DVD "Energia" as coisas funcionam um pouco melhor, ainda que talvez pelo humor involuntário. A mini-saia de Baby Consuelo/do Brasil, a calça branca de Fábio Jr, a regata de Caetano Veloso -o entretenimento visual é tanto que o clima de festa é animador. Não se engane pela capa "elegante", o clima todo ali é de puro exagero, o que não deixa de ser divertido.
Quanto ao tal disco de inéditas, basta dizer que a seleção é de músicas que originalmente não ficaram entre as melhores de Ben. Os retoques atuais também não colaboram, datados que são à sua maneira. Mas há os bons momentos, e o melhor de todos é sem dúvida "Emo", principalmente por sua qualidade cômica: é possível imaginar qualquer coisa menos emo do que uma música de Jorge Ben Jor?