São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

Simbólica ou concretamente, espaços são lembrados em espetáculos que dialogam com a cena urbana de São Paulo

Peças evocam Copan e galeria Metrópole

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois importantes pedaços da memória do centro de São Paulo interagem simbólica e concretamente em espetáculos teatrais: a galeria Metrópole, reduto da intelectualidade nos dourados e desbundados anos 60 e 70, respectivamente, e o imponente edifício Copan, com seu misto de vida privada e comercial.
"Galeria Metrópole", que estréia hoje no teatro dos Arcos, é uma comédia dramática, nas palavras do autor, Mário Viana, que resgata aquele ponto de encontro (sobretudo bares e cinema) que ficava próximo à pça. Dom José Gaspar, na av. São Luís.
Na peça, torna-se o espaço da memória de Lúcio (Rubens de Falco), um homossexual de 65 anos que passa a vida a limpo com sua sobrinha Lúcia (Rosaly Papadopol), também lésbica, num domingo de Parada Gay.
Ela insiste em levá-lo ao evento. Afonso resiste e é visitado por "fantasmas" do passado, Nenzinho (por Fernando Neves) e Renato (Paulo Barcellos), o que resulta num retrato da vida gay paulistana nos anos 60. "Não é uma peça de bandeira, militante, mas a história de um sujeito que abriu mão de muitas coisas em nome de uma aprovação social e se deu mal", diz Viana, 43.
"Galeria Metrópole" tem direção de Paulo Capovilla. É a terceira peça a integrar o "Painel de Histórias Não-Oficiais de São Paulo", iniciativa da cia. Casa da Comédia, contemplada pela Lei do Fomento. Antes, foram apresentadas "RG", de Evaldo Mocarzel, e "O Monstro de Pirataraca", de Fábio Torres.
Já a recém-criada cia. Teatro da Alvenaria representa a peça "Ensaio sobre a Liberdade", com dramaturgia de Rui Xavier, no foyer do Copan, a partir de amanhã.
A Revolução Francesa (1789) surge como pano de fundo para discutir as contradições da liberdade no mundo atual. No espetáculo, o público (30 pessoas) percorre o espaço cênico com os atores. A idéia da diretora Luciana Barone é estabelecer a interação com a cena urbana do centro, daí a opção pelo edifício e seu espaço não-convencional.
"O Copan, como projeto de convivência entre classes, como palco do cotidiano de seus 5.000 moradores e como cartão-postal de São Paulo, selou a aliança entre a proposta espacial do Alvenaria e a temática revolucionária do texto. O foyer, com seus corredores e varandas, possibilita a interação entre a cena e a cidade, que, com seus ruídos sonoros e visuais, nos remete constantemente à atualidade", diz Barone.
O texto, concebido em processo colaborativo do grupo, cita passagens da história da Revolução Francesa, desde sua ideologia propulsora até o conseqüente período do terror. Segundo Xavier, personagens da luta pela liberdade, como Marat, Danton e Robespierre, são retratados em constantes referências a conflitos atuais.


GALERIA METRÓPOLE. Direção: Paulo Capovilla. Com: Rubens de Falco, Priscilla Carvalho e outros. Onde: teatro dos Arcos (r. Jandaia, 218, SP, tel. 0/xx/11/ 3101-7802). Quando: estréia hoje, às 21h; de qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; até 25/7. Quanto: R$ 10.

ENSAIO SOBRE A LIBERDADE. Dramaturgia: Rui Xavier. Direção: Luciana Barone. Com: cia. Teatro de Alvenaria (Juliana Belmonte, Lilian Loto, Luciana Caruso, Imyra Santana e outros). Onde: edifício Copan - foyer (av. Ipiranga, 200, bloco F, sobreloja, tel. 0/ xx/11/9622-1817). Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 12/9. Quanto: Quanto: R$ 15.



Texto Anterior: Música: Clube de São Paulo inventa a "festa junina urbana"
Próximo Texto: Edifício seria complexo hoteleiro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.